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Benfica TV

Uma postura que eu creio que fica bem cultivar na vida, é a de admitir quando se está errado. Eu, que não sou do Benfica, sempre achei isto da Benfica TV uma ideia um bocado a puxar para a megalomania, mas não liguei muito. Fiquei um bocado mais incomodado quando descobri que ia ter isto à borla no meu serviço de televisão por cabo. Afinal de contas, quem é que estes gajos julgam que são?! A expor as pessoas incautas a esta propaganda. Quer dizer, pornografia e outras coisas bonitas são a pagar. “Ah, porque as crianças podem ver e não sei quê…”. Mas cá 24 horas por dia de Benfica já está bem… Qualquer dia, ainda vou dar com o meu puto a ver isto, às escondidas… Pessoalmente, preferia que o meu filho fosse exposto a coisas mais bem salutares. Como lesbianismo escaldante, por exemplo…

Agora, alguns meses volvidos desde o lançamento deste canal, vejo-me obrigado a reconsiderar a minha posição. Sim, tenho visto a Benfica TV de vez em quando e sinto que me vou rendendo a este curioso espécime televisivo. Devo, portanto, uma desculpa à “nação benfiquista”. Isto, de facto, vê-se bem!

Há uns tempos, o Zé Diogo Quintela (o único dos Gato Fedorento que não é do Benfica) fez uma piada alusiva a este canal, antes até de o mesmo ser lançado. Nessa rábula, parodiava-se a previsível falta de isenção dos comentadores contratados pelo Benfica. Afinal, o canal não é nada assim: é pior! Mas já lá vamos.

A primeira coisa que impressiona é o dom criativo dos seus funcionários para idealizarem programas imaginativos. Por exemplo, vamos supor que há um jogo de futebol importante com o Benfica. Lamentavelmente, os direitos de transmissão da partida pertencem a um outro canal que, egoistamente, não os quer partilhar com os espectadores assíduos do canal do Glorioso. Que fazer? É ingénuo passar um programa que não tenha nada a ver com o jogo em questão porque benfiquista que é benfiquista vai estar interessado naquilo e não noutra coisa qualquer que possam arranjar. A solução desarma pelo engenho e pela genialidade: ocupar 90 minutos de transmissão televisiva com um plano fixo de dois indivíduos que comentam o jogo (refrescante, numa altura em que toda a gente quer montagens frenéticas e enquadramentos trémulos – como por exemplo na série Liberdade 21: bem moderno, isto de entregar as câmaras a pessoal com patologias do foro nervoso). Note-se que, do jogo em si, nem uma imagem é mostrada, em altura alguma. É como rádio para pessoas que só gostam de televisão, mas sem a emoção dos relatos radiofónicos. Em abono da verdade, é importante dizer que, quando os embates são na “Catedral”, passam na Benfica TV algumas imagens de aspectos importantíssimos para o jogo como, por exemplo, o aquecimento dos suplentes.
Mas, quando o jogo é não é em casa (como neste último Sporting-Benfica), estas pequenas pérolas ficam de fora (enfim, perde o futebol, e perdemos todos nós), para ser mesmo só os dois indivíduos a comentar o jogo. Isto, à primeira vista, pode parecer idiota. Mas não é. Há por aí muita gente que não gosta de futebol, mas que é do Benfica de qualquer das formas (porque gerações inteiras na família já eram do Benfica e porque lhe fizeram a fineza de o/a tornar sócio/a quando ainda estava na maternidade). Assim, estas pessoas podem participar no fenómeno futebolístico, sem ter de estar a olhar para uma carrada de tipos a correr atrás de uma bola (ver dois indivíduos sentados a uma mesa a comentar um jogo de futebol é, apesar de tudo, um entretém mais sofisticado). Se é certo que este original formato pode funcionar às mil maravilhas para os adeptos ferrenhos que estejam nestas condições, não é menos verdade que também proporciona inúmeros momentos de diversão para os simpatizantes de outros clubes ou, até, pessoas que “não liguem à bola”.

21-02-2009. Sporting-Benfica para o campeonato. A dada altura, as “águias” perdem por 3-1. Como é isto possível? Não tem a ver com a superioridade do Sporting (como podia?!): o Benfica é que, incompreensivelmente, insiste em “não manter a bola”. É irritante este comportamento dos jogadores que, propositadamente, querem arreliar os adeptos! A começar logo pelos comentadores. Em especial, por aquele que tem a seu cargo o relato do jogo (o outro serve para comentar os aspectos mais tácticos): o dia já lhe estava a correr mal, a avaliar pela sua falta de entusiasmo e de voz, a última coisa de que precisava era deste espectáculo deplorável! O senhor está desagradado, e mostra-o! Pelo menos, quando não está a enviar uns SMS (sim, porque isto de estar a ser pago para comentar um jogo é muito bonito, mas às vezes também cansa!). Seja como for, é importante não esquecer que estamos a falar de profissionais, e isso vê-se pelas milhentas maneiras de mostrar desagrado: há espaço para as mais tradicionais, como dizer “ah, se fosse um jogador do Benfica, tinha saído cartão”, mas há, também, espaço para formas mais inventivas e originais (enfim, umas nem tanto):

– De vez em quando, atirava, entre a fúria e o desprezo, o microfone contra a mesa. Disto resultava um belíssimo “TUMP!”, muito em voga no mundo da sonoplastia;

РPor vezes, poupava o microfone, optando pelos punhos como arma de elei̤̣o no seu castigo ao tampo da mesa;

(o comentador dos aspectos técnicos fica ligeiramente incomodado, como quem pensa “como sou do Benfica, pode ser que escape à fúria destruidora deste indivíduo… Pelo sim, pelo não, deixa-me lá estar atento.”)

– Também não se pode estar a recorrer constantemente à violência… O que resta? Esfregar os olhos e a testa em desalento;

– Referir-se a um jogador do Sporting, em TODAS as oportunidades, como “a menina”. Isto foi feito com tanta devoção que eu estive que tempos para perceber a quem é que se estava a referir (depois lá descobri que era o Liedson). Há-de haver quem ache isto hilariante. Mesmo ao fim de 40 vezes (o comentador dos aspectos técnicos, lamentavelmente, parece ficar um bocado incomodado). Podia ser pior: podia tratá-lo por “gaja” ou “badalhoca”…;

– Fazer alusões vagamente pedófilas, como na seguinte frase, proferida aquando do terceiro golo do Sporting: “David Luiz foi comido como uma criancinha!” (a sério, o homem disse mesmo isto!).

O cenário parecia tão desolador que até o companheiro de relato achou que deveria tentar animar o colega. Ensaiou, timidamente, um “bom, ainda assim, é só a segunda derrota do Benfica para o campeonato”, mas o outro não queria saber, lançando, agreste, um “mas que derrota!”. Para este comentador, a única luz que parecia brilhar no meio do infernal negrume que estava a ser este jogo, era a prestação de Pablo Aimar. Doce, doce, Aimar… Para ele, reservava o comentador um petit-nom carinhoso: “Pablito”. Porque não safaste o Benfica, Pablito? Porque me fazes isto, Pablito?

O Benfica ainda reduziu para 3-2, o que proporcionou alguns momentos de moderada euforia. Por instantes, tudo parecia possível (“eu já vi o Benfica marcar dois golos em três minutos!”, bradava o comentador, subitamente mais animado). Infelizmente, o final do jogo veio cedo demais (“porque a menina ficou deitada no chão agarrada ao joelhinho durante o tempo de desconto todo”). Para rematar, e ainda no espírito de desportivismo, o comentador atirou: “e o atrasado mental do Paulo Bento faz uma granda festa!”.

Obrigado à Benfica TV pela fabulosa programação que oferece. Eu, que nem sequer ligo muito a futebol (como fica provado pelo facto de ter estado a olhar para dois indivíduos que fazem observações que não ficam em nada atrás daquelas que os bêbados da colectividade que tenho aqui ao pé de casa lançam quando dão estes jogos), ganhei um novo entusiasmo pela modalidade, e fico á espera ansiosamente da próxima jornada (com um bocadinho de sorte, pode ser que os jogadores do Benfica estejam outra vez com aquela disposição de “não quererem pegar na bola”…).




Por isso é que acho que este canal devia ser banido…


Boa posta João, não é fácil dizer a brincar, coisas muito sérias.
Um abraço

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