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Noite de variedades

Aviso prévio: Este post é capaz de alienar alguns dos leitores mais jovens deste site. Certos aspectos aqui abordados farão referência a tempos que lhes parecerão tão remotos como os das guerras visigóticas…

Acredite-se ou não, tempos houve em que um português ligava a televisão, e só podia ver a RTP. Os aparelhos de televisão já tinham vários canais porque era sempre bom poder escolher entre ver a Cornélia no retransmissor de Adanha dos Bezerros, ou ver a Cornélia no retransmissor de Celorinhos do Caracol…
Eram tempos diferentes? Eram. Eram, fundamentalmente porque dantes só podíamos ver maus programas na RTP e, agora, com a TVCabo e quejandos, podemos ver maus programas em vários canais.

Mesmo assim, por vezes ainda fico nostálgico ao recordar esses tempos idos em que a RTP tinha a exclusividade. Deve ser por associá-los à infantil inocência dos meus cinco ou seis anos. Quanto tinha essa idade, lembro-me que uma das alternativas predilectas da RTP para ocupar amiúde o seu horário-nobre era o programa de variedades.

Quem olhar, hoje em dia, para esta peculiar forma de entretenimento, pode achá-la algo kitsch. Mas não: não é kitsch; é foleiro. Os arranjos musicais, as coreografias, os cenários, as iluminações, as vestimentas, os penteados… Tudo de uma qualidade que variava entre o francamente mau e o medíocre. De vez em quando, mostravam uns planos do público que, de um modo geral, tinha um ar que variava entre o enfado e a depressão suicida.

Tudo isto para dizer que ontem fiquei muito satisfeito por ver que a RTP, quando quer, ainda consegue recuperar o glamour bafiento dessas eras passadas. E aqui é preciso dar a mão à palmatória: eu não sou daqueles que só é capaz de dizer que “antigamente é que era”; não senhor! Este programa de ontem conseguiu ser, pelo menos, tão mau como os que davam nos anos oitenta!
Falo de uma coisa chamada A Minha Geração. E é aqui que se vê a sabedoria de experiência feita: com este programa, a RTP arrisca-se a arranjar um produto bem mais hilariante do que a nova temporada dos Gato Fedorento na SIC, com quem disputam o horário-nobre dos Domingos.
Todos os elementos que eu recordava com saudade marcam presença neste programa. Mas, e porque não se pode viver só de revivalismo, de vez em quando as mentes por detrás deste programa ainda conseguem acrescentar mais alguns elementos que se revelam geniais mais-valias para a qualidade global do espectáculo.

Por exemplo, este programa era sobre a década de 80. Então, a dado momento, a Catarina Furtado fala do mundial de futebol do México em 1986. A presença da Selecção nacional neste campeonato foi algo conturbada, com os jogadores a fazerem greves e coisas do género. Ora, isto é um assunto engraçado, por isso nada melhor do que receber um convidado que viveu esses acontecimentos em primeira-mão para trocar algumas impressões. Quem é que foram arranjar? O seleccionador? O presidente da FPF da altura? Artistas da bola de então? Nada disso. O convidado foi nem mais nem menos do que o cozinheiro da selecção! Fabuloso. Fiquei com pena de não terem discutido com pormenor uma certa receita de bacalhau que, segundo ouvi dizer, era muito popular entre os jogadores, por essa altura…

Para a semana, vai ser sobre os anos 60… Pode ser que consigam convidar o tipo que costumava vender o jornal à Madalena Iglésias.

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