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Banda Larga, religião e capuzes

A grande vantagem dos novos zingarelhos de Banda Larga sem fios, disponíveis em várias formas e feitios, é permitirem que qualquer badameco tenha internet em locais que ainda não possuem sequer uma reles caixa Multibanco. É hoje possível estar à beira duma praia, com um portátil ao colo, a mandar posts para a net e a fazer inveja às pessoas que os lêem no desconforto dos seus escritórios ou celas prisionais. Por esta altura, já terão adivinhado que é esse o meu caso. A parte da praia, quero eu dizer; e não da cela prisional.

Não gosto de escrever estas coisas para me exibir. Mas a verdade é que se está muito bem na praia, neste momento, nesta zona costeira nobre de Sintra (Praia das Maçãs, para ser mais concreto), a sentir o sol nas pernocas, observar turistas de bikini e imaginar as caras daqueles que me lêem na confusão dos seus escritórios ou na solidão dos seus apartamentos.

E porque é que escrevo isto, então? Para que os três ou quatro leitores regulares que tenho não duvidem do amor que sinto por eles. Eu sou daqueles que gostam de partilhar as suas alegrias. Nunca fui muito de festejar sozinho (a não ser quando puxo da internet um novo video da Jenna Haze…).

Esta aparente calma é entrecortada, aqui e acolá, pelos sons dum rádio a pilhas que um velhote decidiu trazer consigo. Se há alguns que gostam de partilhar a sua calma com os outros, é sempre bom saber que há outros que insistem em partilhar o planeta Terra connosco.

E o que é que se passa no planeta hoje?
Aparentemente, nada de especial. Um dos maiores bancos americanos abriu falência, levando grande parte das Bolsas de Valores atrás (o que possivelmente nos fará prolongar ainda mais esta crise e, assim, permitir-nos passar mais uns tempos na praia sem fazer nenhum).
Caiu também um avião qualquer na Rússia. Gostava de dizer que sinto pelas pessoas que lá ficaram, mas estaria a mentir. Sei que não costumamos dizer estas coisas em voz alto. É politicamente correcto demonstrar algum sofrimento em público. Mas concordem lá comigo, por favor: aquilo fica longe para caraças e os russos já são tantos, não é?
Têm de mandar mais aviões abaixo para me conseguirem enervar esta tarde. Só mesmo se um avião de patinadoras russas chocar com um avião de bailarinas russas em pleno voo. Menos que isso é inadmissível.

O senhor acima referido não parece gostar de permanecer muito tempo sintonizado na mesma estação. O que é curioso. Seria de esperar que alguém com hábitos tão arreigados – como este de levar um rádio a pilhas para todo o lado – fosse fiel a uma só estação radiofónica. Aparentemente não. Mas o que é que eu sei destas coisas? Logo eu, que não pude relaxar um pouco numa esplanada à beira-mar sem trazer a merda do portátil atrás.

Estamos agora numa rádio chamada Vida FM. Esta conheço eu bem! É um espaço que a Igreja Maná subarrenda a uma rádio qualquer, com animados temas musicais e mensagens de esperança que não deixam margem para dúvidas: a salvação está à distância da nossa vontade. É só querer. É só estalar os dedos. E tudo se resolverá. Os quilos a mais deixam de pesar, os problemas existenciais deixam de existir e as dores nas articulações desaparecerão – é caso para dizer – milagrosamente!
É também curioso que as mensagens destes cultos religiosos sejam idênticas, independentemente do culto em questão. Sem excepção, todos anunciam ter “cada vez mais fiéis”. Isto são más notícias para a Igreja Católica. Não estou a imaginar cépticos e ateus como eu a correrem para os braços da igreja Maná ou da Igreja Universal do Reino de Deus. O que significa que se os cultos têm cada vez mais fiéis, é a Igreja Católica que está a perder mercado.

Não sei o que é que a maior parte das pessoas pensam destas coisas. Mas olhando para o modus operandi de cada igreja, os motivos parecem óbvios. A Igreja católica não está a explorar o lado do show business da coisa. A IURD e os Manás apelam para a juventude, a alegria, satisfação, alívio e prazeres mais tangíveis e imediatos com os quais nos identificamos. Melhor que isso, fazem-no com sorrisos nos lábios, música animada, muita paródia e linhas de atendimento aos fiés.
A igreja católica puxa para o lado da salvação, fé e redenção, sempre agarrada aos paradigmas do passado e com canto gregoriano como banda sonora. É uma religião que ainda não olha para si como uma empresa. O seu marketing é fraco, e a relação com o fiel é quase obrigatoriamente presencial. A meu ver, deviam começar a empregar publicitários e gestores competentes enquanto é tempo. Com tantos activos imóveis espalhados pelo país fora, há que proteger o investimento, não vá um dia o Governo lembrar-se de os obrigar a pagar imposto imóvel com retroactivos.

E saltámos agora para outra estação qualquer. São 15 horas. Está na altura de ouvir as notícias, quer queiramos, quer não.
Quem for suficientemente imbecil para acreditar no que os jornalistas dizem, deve estar em pânico neste momento. Não há a mínima possibilidade de se meter o pé fora de casa sem se ser imediatamente assaltado e assassinado por um toxicodependente seropositivo, encapuzado e, mais importante que tudo, sem qualquer tipo de qualificações escolares competitivas.

Aliás, nunca na História deste país se ouviu tantas vezes a palavra “capuz”. Nem na história do Capuchinho Vermelho.

A solução parece-me simples e incide em três passos concretos que o Governo podia implementar já (e salvar-se a tempo das eleições em 2009):

1. Criminalizar toda e qualquer utilização de capuzes, bonés e, porque não, panamás. Se você andar de gorro na rua, fica automaticamente em prisão preventiva se for apanhado pelas autoridades!

2. Numa segunda fase, estender a proibição a máscaras, cabeleiras postiças e pinturas circenses (ponham-se a pau, Blasted Mechanism!).

3. Expropriar as fábricas de capuzes, gorros e chapelaria diversa (já que vão perder a clientela) e transformá-las em C.D.P. (Centros de Detenção Preventiva), para terem onde colocar toda as pessoas que prenderem. Será também nessas fábricas que os carros de tuning serão desmontados para serem vendidos às peças. Afinal, como toda a gente sabe, fã de tuning sem boné na cornadura é como um jardim sem flores. O que dará direito a cela sem vista para o mar.

Medidas radicais? Não. Apenas um mundo melhor.

O senhor parece ter-se fartado da rádio. “Só desgraças…”, suspira, enquanto desliga o aparelho. O nosso eterno masoquismo, de gene tão português, que se deleita secretamente em receber as piores notícias.

E eu vou desligar também este portátil e tentar meter conversa com uma das turistas em bikini.
Se nenhuma deles se sentir impressionada com a banda larga do meu portátil, pode ser que se sinta impressionada com a banda larga que carrego à volta da minha cintura. Afinal, como diriam os publicitários, there’s no such thing as bad publicity.




Esta nem Darwin explica: Dantes ias para a Praia das Maçãs para te encharcares e seres sucessivamente corrido dos bares. Hoje andas de macintosh na praia.

Evolução da espécie ou choque tecnológico?

São as companhias. Diz-me com quem andas…

A do bikini, é boa?


Só era corrido dos bares quando estava com más companhias (acho que sabemos de quem é que estou a falar… 😉

A do bikini não era má. Mas isso já foi há uns dias. Entretanto, apareceram outras. Até agora, nenhuma está impressionada com a minha banda larga. Ainda bem que as férias acabam este Domingo…

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