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Nome de Código: Amorfo Lindão

Amorfo Lindão. Será apenas mais um nome no circuito da arte contemporânea nacional?
Na realidade, são dois nomes. Mas como a minha nova instalação denota, gostaria de começar a ser tratado por “Nome de Código: Amorfo Lindão”.

E porquê um nome tão peculiar como esse?
A minha arte é peculiar aos olhos de quem a observa. O meu novo nome poderá parecê-lo também. Para mim, porém, eu sempre fui Nome de Código: Amorfo Lindão.

Mas qual o significado concreto?
Repare, eu não lido com arte concreta, mas sim abstracta. Conceptual, se preferir. Daquele tipo de arte em que você tem de perceber a motivação do artista para compreender a obra. É uma espécie de código. Eu sou um indivíduo único. O meu código é a minha pessoa. A minha pessoa está transubstanciada na minha arte. Logo, o meu nome de código é Nome de Código: Amorfo Lindão.

Nome de Código: Amorfo Lindão, fale-nos da sua mais recente instalação.
Estou muito excitado com este trabalho! Trata-se da instalação “Eu, Ele e o Desconhecido”. E consiste numa imagem apenas, mas com desfoques alternativos. Numa delas apareço desfocado, mas a minha mão e o meu penso estão focados, como que em primeiro plano. Os focos da imagem vão mudando conforme os slides.

desconhecido.jpg

E qual é conceito por detrás do “Eu, Ele e o Desconhecido”.
Trata-se duma observação crítica da sociedade. Eu aponto o dedo ao observador, ao cidadão, ao membro contribuinte desta comunidade, acusando-o parcialmente dos males que nos afectam. Mas faço-o com um dedo ferido (a parte do “Ele”). O que é outra forma de dizer que toco com o dedo na ferida ao acusar-me a mim próprio também.

O “Desconhecido” será, portanto, o observador?
Exacto! O observador metafórico, por assim dizer. Não o observador que observa literalmente a minha obra de arte. Esse pagou para ver a instalação. Apesar de ser membro constituinte da sociedade, consideremos o ingresso pago como uma espécie de bula. Basicamente, o que eu quero dizer é que todos contribuimos para os nossos males. Por isso, somos todos ilustremente desconhecidos.

Encontrámos a seguinte informação na sinopse do programa da sua instalação “Eu, Ele e o Desconhecido”. A ponte do tempo infinito para o universo intemporal do espaço. Um olhar crítico sobre o paradoxo da condição eterna. O apontar de dedo que não faltava.”
O que é que isto significa concretamente?

Ora aí está uma boa pergunta. Não fui eu que escrevi esses textos. Quando quero participar em concursos de arte abstracta ou publicitar as minhas instalações, normalmente pago a alguém para inventar umas frases dessas; embora também já tenha escrito algumas coisas com o mesmo nível, juntando pedaços de frases idênticas que tirei da internet. As pessoas inteligentes vão ler essa informação e descobrir um significado qualquer (ou fingir que descobriram, para não passarem por estúpidos ao pé dos amigos). As pessoas estúpidas vão achar que é informação inteligente demais e não se vão dar ao trabalho de a tentar decifrar.

E onde é que entra o marcador preto que o vemos a segurar na foto?
Esse marcador representa o consumismo da sociedade actual. Está lá apenas para despistar.

Julgo que é notória alguma evolução em relação a instalações anteriores. Quer elaborar um pouco?
Com prazer. Tenho impressão que o ponto de viragem na minha carreira artística se deu há cerca de 8 anos. Mais concretamente, quando entrei num mini-mercado em Carnaxide e pedi à senhora da caixa para me trocar uma nota de 2000 escudos (ainda se usava o Escudo na altura), e ela me deu quatro notas de 500 escudos em troca. Fiquei imediatamente fascinado! Nunca me tinha ocorrido como a multiplicidade de objectos é tão simples de gerar.

Como assim?
Repare, eu dei uma nota e recebi quatro em troca. O valor convencionado delas – se você quiser pensar apenas em termos matemáticos – é idêntico. Mas em termos objectivos, dei um pedaço de papel a alguém e recebi quatro em troca. E foi esta multiplicidade do objecto que me fascinou e que decidi começar a explorar.

Como, por exemplo, na instalação “350 anos de azar”.
Correcto! Nessa instalação, o que eu fiz foi partir um espelho em cinquenta sítios diferentes com um martelo e um escopro. Como sabe, cada vez que se parte um espelho, temos sete anos de azar. É só fazer as contas. E de um espelho apenas, igual a tantos outros, criei cinquenta espelhos diferentes, cada um invidividual e inimitável. Peguei num objecto banal, multipliquei-o e transformei-o numa obra de arte única.

350anosazar.jpg

Espantoso! E diria que encontramos um pouco dessa multiplicidade também na sua instalação “Linhas, por quem sois?”
É verdade. Na obra “Linhas, por quem sois?”, a filosofia foi idêntica, mas o olhar foi diferente.

Isso não é uma espécie de contradição?
Não. Na altura o olhar foi literalmente diferente. Estava a recuperar de uma operação à vista. Aliás, sabia que fui a primeira pessoa a fazer uma operação e a pedir especificamente para ficar míope?

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Como? Quer dizer que não tinha nada na vista?!
Se você considera não ter nada o facto de ver o mundo exactamente da mesma forma que o resto dos mortais, então não. Mas eu queria ver o mundo mais desfocado. Pareceu-me interessante a ideia de subverter a tecnologia não para me colocar igual ao resto do mundo, mas para mudar a aparência do resto do mundo para mim. Agora está tudo permanentemente desfocado, tal como eu.

Sei que não gosta de abordar este assunto, mas o que é que nos pode contar da sua breve colaboração artística com José Varela, da Companhia Dramática Zeitgeist?

Não tenho problemas em falar da minha relação com José Varela. Ambos vivíamos tempos difíceis, ambos estávamos separados e sem emprego. Dado que as nossas condições eram idênticas em tantos aspectos, as manifestações sexuais que mantivemos em palco (e apenas em palco! Nunca nos camarins, ao contrário do que a imprensa artística gosta de especular!) foram apenas uma interessante experiência de auto-descoberta.

Bem, diria mesmo de descoberta…
Errado. Ao metermo-nos literalmente um dentro do outro, assumimos igualmente uma inversão de personalidades. Logo, tudo o que fizemos ocorreu dentro dos limites de cada um dos nossos corpos. Foi toda uma viagem masturbativa e interessante.

Na verdade, eu estava a referir-me às acusões de nazismo de que João Varela foi vítima.
Ah, isso! Pois, disso não sei nada. Quer dizer, desde cedo que vi gente a chamar de tudo ao Varela. Se não era esquisito era paneleiro, se não era paneleiro era refractário, se não era refractário era perdulário. Chega a uma altura em que um gajo deixa de ligar a essas coisas, até porque nem percebo tudo o que lhe chamam! (risos) Alguém lhe chamou nazi? Grande coisa. Ele já deve estar mais que habituado a esse tipo de polémicas.

Nome de Código: Amorfo Lindão, o que é que podemos esperar em termos de trabalhos futuros?
Olhe, neste momento estou já a trabalhar na minha próxima exposição fotográfica. Vai-se intitular “Tijolo: onde andas tu?”. No fundo, quero glorificar o tijolo enquanto componente arquitectónico quase imprescindível. Sinto que é um objecto pouco apreciado na nossa sociedade. Existe em diversas formas e feitios, com mais ou menos dureza, está em quase tudo o que é obra pública e privada. E o que é que nós fazemos? Cobrimo-lo de estuque, tinta e tratamentos acústicos de poliuretano expandido. Acho que está na altura de glorificar esta peça de design que é, ao mesmo tempo, uma obra de arte (para mim, todo o bom design é uma obra de arte). Se depender da minha pessoa, 2008 vai ser conhecido como o Ano do Tijolo em Portugal.

Desejamos-lhe boa sorte nesse projecto, Nome de Código: Amorfo Lindão.
Obrigado.

georgebush.jpg




Bestial =O


Sou colecionadora de arte e já tenho várias instalações em casa. A instalação de gás (é linda), a instalação eléctrica e agora vou arranjar uma instalação de energia solar. A seguir vou eu própria instalar-me numa poltrona, vulgo chaise longue a ver os 15 anos da TVI, que gravei, porque como já devem ter notado, sou uma pessoa de muuuuuito bom gosto.
Gostaria que me indicassem onde posso adquirir uma obra do Amorfinho.


Altamente.. O tijolo, o idiota com ar de simpático e, cima de tudo “O que é que isto significa concretamente?”. É que concordo plenamente! Está mesmo brutal e colei essa parte no bloco de notas, porque vocês materializaram a minha opinião, acho eu, e irei repetir, se me lembrar, algumas frases vossas, ou suas, Nome de Código. Mas, fico na dúvida. Os 350 anos de azar parecem me algo real.. a instação existiu?!


O espelho partido existiu, e alguém o fotografou. Agora a instalação propriamente dita… 😉

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