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Os ressabiados

Antes de mais, é preciso dizer que eu também não vou muito à bola com a nova rede de telecomunicações móveis, Phone-ix. Sim, é por causa do nome.

Não tem a ver com algum tipo de puritanismo, ou coisa que o valha. Tem a ver, isso sim, com o meu desprezo por uma tendência irritante que, cada vez mais, se faz sentir no mundo empresarial: a mania de tornar tudo jovem e moderno.

Já estou a imaginar o departamento de marketing dos CTT, num furioso brainstorming, a tentar arranjar um nome para a sua rede de telemóveis. “Os CTT têm uma imagem de antiguidade e sobriedade, e nós precisamos de apimentar isto. Temos de tornar os correios rebeldes e jovens, talvez com um pouco daquele angst juvenil que funciona tão bem nas séries televisivas das nossas tardes…”. E depois, naturalmente, alguém que julga estar bem por dentro das actuais trends juvenis (e eu não duvido que o estivesse, algures lá para os idos anos 80-90), sugeriu uma derivação de “fónix”.

O ponto que quero sublinhar é este: eu não preciso que os correios sejam jovens e rebeldes. Lá porque há empresas que conquistaram uma imagem de conservadorismo e seriedade, isso não tem de ser necessariamente mau. Cadeias de roupa jovem, como a Salsa ou a Zara, beneficiarão de uma imagem rebelde e inconformista. Isto está tudo muito bem. Mas eu vou ficar bem chateado se, daqui a uns tempos, entrar numa estação dos correios e estiver a bombar deep house, só se podendo comprar envelopes que parecem já ter corrido meio mundo, vendidos por jovens empregadas em tops justos (bom, a parte das empregadas, ainda vá…).
É um pouco como agarrar num venerável idoso, que admiramos pela sua sobriedade e sabedoria, e entregá-lo ao Esquadrão Gay (já não se lembravam do Esquadrão Gay, pois não?).

Outra instituição que passou recentemente por um processo semelhante foi o Montepio. Deu-lhe um ataque de metrossexualidade semelhante ao que atacou o Herman José há uns tempos.

Voltando à Phone-ix. Embora, como disse, não aprecie o nome escolhido, aplaudo o aparecimento de um novo operador móvel. É bom estimular a concorrência, e oferecer ao consumidor mais alternativas. Para além disso, é bom ver que os CTT fazem um esforço por acompanhar os tempos (embora, como digo, seja pena que com esse esforço de modernização venha a parolice de “Phone-ixes” e quejandos).
Como é natural, nem toda a gente pensará assim. Em concreto, umas pessoas que não gostaram do aparecimento da Phone-ix foram os responsáveis desse outro operador de telemóveis, a Uzo.
Uzo1No último anúncio do operador, um magnífico exercício de rancor e ressabiamento, a Uzo faz um ataque disfarçado, ainda que eficazmente insidioso, à Phone-ix. Nele, uma série de personagens pede o número de telemóvel a um outro interlocutor, para depois responder, num misto de espanto e repugnância, com um “Nove quê?!”. Os momentos altos deste anúncio (aqueles que ficam gravados de forma quase indelével na mente dos espectadores) serão seguramente aquele hilariante episódio em que um empregado de escritório fica tão surpreendido com o número que lhe é dito que até cai da caUzo2deira, como se tivesse sido atingido com violência na testa por um seixo granítico aguçado (espero que não se tenha magoado, o senhor), e aquele outro em que um indivíduo vestido de rena tenta perceber o estado a que chegou o mundo (“Primeiro vestem-me de rena, e depois dizem-me um número esquisito de telemóvel! Onde é que vamos parar?!”).

(Antes que alguém me venha com a história de que “ah, isso não é dirigido à Phone-ix, é dirigido a qualquer rede, até porque a cena da Uzo é mesmo a das chamadas serem ao mesmo preço para qualquer rede”, eu digo-vos já que não vale a pena. Eu sei disso, mas continuo a achar que isto é mais do que uma curiosa coincidência.)

Ao fim e ao cabo, isto acaba por ser bom para a Phone-ix: é sinal que a concorrência directa acusou o golpe. E quem sabe se este tipo de atitude não vai ter o efeito contrário ao pretendido? Nós estamos aqui a falar da Phone-ix por causa de um anúncio da Uzo. E eu, francamente, fiquei com pouca vontade de ser cliente da Uzo (já não tinha logo de início, mas este anúncio, para dizer o mínimo, também não está a ajudar).

No fundo, o que me custa ver é a perda de dignidade. Está bem que estamos a falar da Uzo, mas mesmo assim… Vá lá, rapaziada: não é preciso ir tão baixo! Voltem ao caranguejo cantor que as pessoas até achavam piada a isso…




Outra trend que me anda a irritar cada vez mais é a mania – recém-importada aos espanhóis – de tratar toda a gente na segunda pessoa.

Filhos duma puta! Conhecem-me de algum lado? Lá porque os espanhóis se tratam mais informalmente, isso também quer dizer que qualquer locutor ganhou automaticamente o direito de me tratar por “tu”?

Nestas coisas sou muito clássico. O seu a seu dono. Quem não me conhecer, que me trate por “você” ou “sr. engenheiro Toscano”. E mai nada!


Sendo “fónix” um “foda-se” com operação de cosmética, então como ficam os pais que andaram a repreender os filhos quando eles diziam “fónix”?

Podem dourar a pílula como quiserem, mas mau gosto é mau gosto. E se isto pega… imaginem a Renova lançar um papel higiénico chamado Limpoku, o Benfica comercializar pensos higiénicos e por aí fora. Mau gosto é mau gosto.


Parece que já estou a ver o slogan “Renova. O papel higiénico de ir ao rabo!”.


Gostei do comentário inicial, só lamentei verificar – numa das respostas – que ainda hoje se dá demasiado valor ao titulo académico, criticando os “nuestros irmanos” por isso…lamentável…claro, que todos temos direito ás nossas inseguranças, mas…

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