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O problema da privacidade

Julgo que as preocupações actuais com a história da privacidade são um bocado infundadas. As pessoas estão a dar uma importância desproporcionada à possibilidade de terem alguém a escutar-lhes as chamadas e a ler-lhes os sms.

Nem toda a gente é inimiga do Estado ou terrorista. Por isso, que medo é este de ter alguém a ouvir-nos as conversas? Eu não conspiro contra o Governo, nem ando a rondar casas de ministros ou a pensar em colocar bombas nas cozinhas de restaurantes chineses para minar esforços de concertação entre proprietários que não falam Português e agentes da ASAE que insistem que o “livlo de leclamações” é obrigatório.

Eu sei porque é que este assunto é sensível… é porque as pessoas acham, lá no fundo, que têm conversas tão originais, tão espectaculares e tão interessantes que seria um desastre que alguém (para além do seu interlocutor e das vinte pessoas que passam na rua nesse momento) as ouvisse.

Para outros, deve ser provavelmente o medo de terem a careca descoberta que os aflige. Hoje em dia, a fidelidade conjugal é um atributo difícil de manter. Pudera! Num mundo onde toda a gente faz o que pode para se manter jovem e apetecível, como raio é que se consegue unir um ideal de fidelidade a um trabalho contínuo de sedução? É quase uma batalha desleal. O equivalente a queixarmo-nos duma torneira a pingar na cozinha quando temos um cano rôto na casa-de-banho.

A problemática actual da privacidade resume-se a um denominador comum: o egocentrismo desmedido do ser humano. Nós não somos assim tão originais, nem tão especiais, nem tão únicos, nem tão insubstituíveis. Se desaparecermos hoje, sem dúvida haverá algumas pessoas que sentirão a nossa falta durante uns tempos. Mas a vida continua. O mundo não vai parar só porque aqueles visionários que nós julgamos que somos pifaram dum segundo para o outro como uma tostadeira chinesa comprada na Worten. Aliás, é esse o momento que marca a passagem da juventude para a idade adulta: o momento em que nos apercebemos que não somos assim tão especiais como julgamos, e que aquilo que acontece aos outros também nos pode acontecer a nós.

Você anda a enganar a sua mulher ou namorada? Anda a pôr os cornos ao seu marido? Trocou uns sms cómicos com alguém em pleno funeral dum familiar? Desviou alguns dinheiros da empresa para a sua conta pessoal? Criou uma identidade paralela que partilha com desconhecidos, apenas pelo prazer de ser outra pessoa? Teve uma sessão a três com a namorada e a vizinha? Tomou ácidos antes de ir para o trabalho? Big fucking deal! Diga-me qualquer coisa que ache que tenha feito e que mais ninguém no mundo tenha experimentado – e que seja merecível duma escuta por parte do SIS – e então aí eu vou ficar admirado.

Vivemos hoje rodeados de tarados e fanáticos, gente que bombeia edifícios e transportes públicos, que violam crianças, automobilistas que matam nas estradas e políticos corruptos que esbanjam aquilo que nos custa a ganhar. Mas, por algum motivo, as pessoas vão aos arames quando lhes falam em escutas telefónicas e radares nas estradas.

Vamos tentar não entrar em pânico, minha gente. A história da privacidade é uma cartada política que é jogada por algumas pessoas quando convém. Porque, na realidade, não somos assim tão interessantes e dignos de atenção como pensamos. A PJ e o SIS têm o meu endereço e podem lançar-me a mão quando quiserem. Não é com eles que eu me preocupo. É consigo. Pois se eu deixasse aqui os meus contactos, provavelmente seria mais assediado e incomodado por alguns leitores, e não tanto pela polícia.

Por isso, em prol duma sociedade menos paranóica, defendo a abolição da privacidade. E dou um primeiro passo nesse sentido! Vou-me livrar de todos os cortinados da minha casa (pronto, já podem espreitar à vontade e ver coisas que – certamente – nunca viram em lado algum). O passo seguinte vai ser retirar as portas interiores, de maneira a que qualquer pessoa dentro da minha casa se possa movimentar livremente sem correr o perigo de encontrar uma porta fechada. Só não me livro da porta da rua porque tenho medo de ladrões (e isso não tem nada a ver com privacidade). Mas se você tocar à porta e pedir para subir, eu deixo-o entrar e dar uma espreitadela. Garanto-lhe que não vai encontrar criancinhas abusadas ou cadáveres escondidos na despensa (até porque, se eu fosse esse tipo de pessoa, provavelmente emparedava as minhas vítimas ou construía um tecto falso reforçado com ventiladores silenciosos para disfarçar os cheiros).

Vou também passar a usar roupas transparentes, pois não há motivo para esconder este belo corpinho do resto do país. O meu carro não tem vidros fumados, pelo que aí não vou incorrer em despesas adicionais. Mas se tivesse, podem crer que já teria pedido um orçamento para trocar as janelas!

O meu email já toda a gente tem (está algures neste site). Aliás, tendo em conta a quantidade de spam que recebo, dizer que toda a gente tem o meu endereço electrónico não é apenas uma força de expressão. É a mais pura das verdades!

O meu número de telemóvel ninguém precisa, pois não gosto de falar ao telefone e só o uso para conversas rápidas e troca de sms. Mas às Segundas à noite costumo ir ver um filme, à sessão das 21, aos cinemas Alvaláxia, em Lisboa. E às Quartas ou Quintas vou ao Continente do Colombo fazer umas compras, por volta das 22.30, caso você queira aparecer para me pagar um pacote de Haagen-Dazs (ou coisa assim).

Abaixo a privacidade! É a última barreira artificial que separa os seres humanos duma comunhão profunda em sociedade! Deixem que a polícia escute as vossas chamadas! Só aí poderão ser realmente livres.




viste “As Vidas dos Outros”? O filme é bom, mas justificará andar armado em Stasi? E já agora, não tens pena dos polícias que tenham que passar a ouvir as conversas alheias se isso for permitido em toda a linha?


Não vi esse filme (lá está… não gosto de me meter na(s) vida(s) dos outros…).

E não tenho pena dos polícias! Eles que justifiquem os salários milionários que recebem! 😉


Huh?!?! Fiquei parvo… Já dizia o ditado, quem não deve não teme, mas chegar a esse extremo? Nem 8 nem 80… Se eu envio uma sms do foro privado para a minha mulher, o que é que a policia, ou seja quem for tem a ver com os nossos assuntos? yah, é capaz de ser algo “banal”, que qualquer pessoa manda, mas porra, é meu! aliás, é nosso, são assuntos privados… e se eu estiver a dizer ao meu médico que ando com hemorróidas? O que é que alguém tem a ver com isso? Sim, qualquer pessoa pode ter, é outro assunto “banal”, vulgar, como outro qualquer, mas ainda gosto de conservar o meu cantinho. Não me acho superior a ninguém, nem acho que os meus assuntos são mais importantes que os das outras pessoas, mas… SÃO MEUS! e como tal, não acho que ninguém deva ter o “direito” de meter o bedelho…
Atitude egoísta? talvez… mas por uma boa causa…
Consciência pesada? também não, e se tivesse? era o MEU problema, não quero cá ninguém a meter-se nisso…
Também não tenho problemas nenhuns em fazer como o André, querem vir a minha casa? força, eu deixo entrar… agradeço é que batam à porta primeiro, num é entrar à bruta, sem autorização… Querem ler as minhas SMS, força, agradeço é que me deêm um BOM motivo para tal.
Querem escutar as minhas conversas? Força, não tenho nada a esconder, mas quero saber se o fazem, porque o fazem e quando o fazem…
Bah… disse e repito, eu cá gosto do meu cantinho… Querem ser voyeurs? sejam, mas não se esqueçam de uma frase:
“A minha liberdade termina onde a tua começa.”


Ah, falta acrescentar…
Também podemos espiar quem nos espia ? 😉
É que esses sim, devem ter muito a esconder…


Ok, talvez o ser humano padeça de dois grandes males: o egocentrismo e o sentimento de posse (que, entre outras coisas, é causa de ciúme, inveja, etc. E todos sabemos o mal que essas coisas fazem…)


Em relação a espiar quem nos espia, sou o primeiro a apoiar a instalação de webcams em esquadras e carros da polícia! (apenas para começar)

O programa de televisão Cops foi apenas um ensaio. Qualquer dia chega o Bófias! (com ponto de exclamação e tudo), que vai ser uma mistura de Cops com Big Brother. Aí sim, sou capaz de voltar a sintonizar a TVI na minha televisão.


Não vamos confundir as coisas, egocêntrico é aquele que pensa mais nele próprio que em mim 🙂 hehehe
Inveja, Ciúme? eh… não vamos entrar por aí, simplesmente. Há “segredos” que é perfeitamente dispensável de os outros saberem, até porque é tão banal, tão desinteressante, que basta ficar entre as pessoas envolvidas 😉

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