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Livro dos Reclogios

Sempre achei o conceito do Livro de Reclamações uma boa ideia. Afinal, deverá o sacana do sapateiro escapar incólume se me escarrar nas botas só porque não as comprei no estabelecimento dele? Assim, fica uma reclamação escrita e registada, segue cópia para as autoridades competentes, e mai nada! Aliás, acho que a ideia é tão boa que devia ser aplicada a toda a gente!

É verdade. Estou plenamente convicto que deveria ser obrigatório toda a gente andar com um Livro de Reclamações pessoais na malinha, sempre disponível para qualquer pessoa que – dentro dos limites da decência e senso comum – o decidisse requisitar. Acho que seria uma excelente forma das pessoas se conhecerem, por exemplo.

Conhecer alguém novo, seja um potencial amigo, vizinho ou namorada, traz todo um tipo de novas sensações atreladas. Mas isso tem mais graça quando se tem 17 ou 18 anos. Ainda se tem um universo de coisas por descobrir. Quando se tem 32 anos (como eu), torna-se chato ter de andar a explicar a história da nossa vida a um estranho, na esperança de o tentar convencer que somos tão fantásticos como julgamos que somos.

Calculo que este problema se agudize com a idade. Existe um mundo de descobertas e experiências pessoais por detrás do desconhecido que partilha connosco o semáforo ou o transporte público. É aqui que eu acho que o Livro de Reclamações pode ajudar.

Aliás, talvez seja melhor redefinir a expressão, uma vez que eu gostava que o dito livro também funcionasse com uma conotação positiva. Seria o Livro dos Reclogios (resultante da contracção de “reclamações” com “elogios”).

É o Livro dos Reclogios que eu pedirei ao meu amigo Pedro, por exemplo, no dia em que ele me aparecer inesperadamente em casa, num momento em que eu até estava a precisar da companhia.

“Capítulo Amizades, pág. 45, 05/11/07: Hoje o Pedro apareceu inesperadamente em minha casa, num momento em que até me estava a apetecer companhia. Este é um dos comportamentos interessantes que se pode esperar deste gajo.” E, logo de seguida, catrapimba com uma cruzinha no valor 4 (de 0 a 5), associado à classificação “Recomendaria este amigo a outro amigo”. (podia ter recebido nota 5 se tivesse trazido um Haagen-Dazs com ele, mas nota 4 já não é nada mau…)

É claro que cada roca tem o seu fuso. Provavelmente ele não teria bons valores na classificação de “Costuma chegar atrasado aos encontros.” Mas como mesmo assim ainda aparece (coisa que outros não fazem…), a bem ou a mal, receberia nota 2 e não nota 1.

E pronto. Suponhamos que alguém considera tornar-se próximo do Pedro. A única coisa que tem a fazer é pedir-lhe o Livro dos Reclogios, examiná-lo com calma e com os melhores óculos de leitura, e decidir se quer aquele gajo como amigo, namorado, amante, etc.

Pode parecer uma forma fria de fazer as coisas. Mas acreditem-me, jovens fresquinhos e com a vida pela frente: quando se chega à minha avançada idade (escrevo enquanto gemo e me contorço na cadeira com as dores provocadas pelas minhas artroses), a dificuldade em darmo-nos a conhecer é directamente proporcional à falta que pessoas novas nos fazem. O Livro dos Reclogios pode não ser uma solução para o problema. Mas seria, sem dúvida alguma, um passo em frente.

Quem diz amigos, diz estranhos ou vagamente conhecidos (“Capítulo P.T.A. (Pessoas que Temos de Aturar), pág. 123, 02/11/07: Nunca gostei aqui do Artur Matias do balcão do BPI das Laranjeiras. E então agora que ele tem um piercing assimétrico no nariz, gosto menos ainda! Não me parece uma pessoa mal encarada, mas um ligeiro retoque estético não faria mal nenhum.” Nota 4 na classificação de “Nível de Chunguice”)

Então e namoradas e encontros amorosos?

“Capítulo Amantes, pág. 202, 04/11/07: A Teresa parece-me ser uma mulher interessante, muito mexida e dinâmica. Na cama dou-lhe apenas nota 4 porque ela podia ter ajudado a limpar-me no final. Mas a verdade é que quase tive de a obrigar a trazer os toalhetes refrescantes! Para mim, o facto dela se excitar quando é abraçada por trás e mordiscada no pescoço foi um ponto a favor, porque eu também gosto muito de fazer isso. Recomendo vivamente, especialmente se mantiverem os toalhetes na mesa de cabeceira, à distância de uma braçada!” Nota 1 na classificação de “Capacidade de escolha de refeição no restaurante”. Decidi dar-lhe nota 1 porque uma pessoa que tenciona passar uma noite com outra não devia pedir lulas com alho e piri-piri ao jantar.”)

Empregados, patrões, amantes, namorados, esposas e maridos, amigos, desconhecidos com que nos cruzamos despreocupadamente mas que nos ofendem com o seu mau gosto, etc. etc. etc.

As possibilidades são infinitas!
Escrevam o que vos digo (quer dizer, não é preciso. Basta guardar a link para este post.) O Livro dos Reclogios pode parecer uma ideia apalhaçada agora, mas vai ser um verdadeiro must para qualquer relação minimamente civilizada num futuro próximo!




Então já não gostas do toblerone ??????


Sei de muito boa gente que teria de passar a andar com uma bobine de papel às costas, uns por boa, outros por fraca classificação.

O próprio autor da página por exemplo, tem apenas nota 4 nos capítulos C23PEPT* e BG5LALPMA**, porque não deixou mais nada para quem estava com ele. Isto para não falar em PRTPCC***
Viste? Fica cá tudo gravado, pá!
…Não me dês ideias.

* Comer 23 Pasteis de Empreitada Por Teimosia
** Beber Garrafão de 5 Litros de Água do Luso Porque Me Apetece
***Partir o Rádio da Tia e Por a Culpa no Cão

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