É com grande pena minha que, ao fim de quase 8 anos de actividade (muito antes do nascimento dos fenómenos bloguistas), decreto o fim do site DQD.

Digo-o com grande pena, pois não tenho vontade de parar. Conheci pessoas interessantes através deste site, aprendi bastante, ri à fartazana com os comentários de alguns leitores (alguns deliberadamente humorísticos, outros nem por isso) e posso por tudo isto afirmar que foi uma fase gira da minha vida.

O problema é que o país está tão perfeito neste momento, que já não há motivo para dizer mal de nada.
Ainda se tivessemos miséria e gente endividada, sempre se podia apontar o dedo a alguém (quanto mais não fosse, às próprias pessoas endividadas).

Se tivessemos problemas graves no nosso sistema de saúde, então poder-se-ia gracejar com a coisa. Fazer piadas com a história das listas de espera, com a verruga do ministro da Saúde, etc. Se houvesse grávidas a ter filhos em ambulâncias porque as maternidades fecharam (que disparate! Eu às vezes lembro-me de cada uma… francamente…), então aí havia terreno fértil para plantar mais umas piadolas.

Ou mesmo se tivessemos, sei lá, um país onde a comunicação social interrompesse entrevistas a políticos para noticiar chegadas de treinadores de boxe ou de futebol, então aí, meus amigos! Ui! Aí tínhamos margem de manobra para as mais vergonhosas graçolas de mau gosto! Tanta margem que este site até se podia chamar manobras.com

Mas já não temos nada disto, pois não? José Sócrates diz que Portugal está no pelotão da frente, a caminho de dias melhores, e eu acredito nele. Aliás, é devido à retoma que já se faz sentir (ou pensou que aquela brisa matinal era apenas vento? Não senhor! É o nosso país em velocidade de cruzeiro!) que não colocamos aqui um texto desde o dia 12 de Outubro. Temos estado maravilhados e boquiabertos com o oásis de produtividade em que o nosso país se tornou. Um verdadeiro exemplo de sucesso para todas as nações do mundo! Por todo lado só se vêem Portugueses contentes, a trabalhar, como se a sua vida dependesse disso! Donos a apanhar as cacas dos cães, motoristas de Taxi mudos, criancinhas a saltitar pelas ruas fora, argumentistas de telenovelas portuguesas a cometerem suícidios em massa como se fossem lemmings!!… Pareceu-nos gratuito meter aqui mais mensagens jocosas quando o nosso país se encontra neste estado tão sadio e refrescante. Seria ir contra a moral popular (algo que nunca seríamos capazes). Inaceitável, diria mesmo!

É por isso que já não há lugar para nós em Portugal. Agora, se quisermos fazer humor e ser sarcásticos, temos de ir para o Brasil ou para a Mauritânia. No fundo, qualquer lado onde exista ligação à internet (o que deixa de parte a Mauritânia…) e onde percebam Português (curiosamente, não sei se isto também deixará o Brasil de parte ou não…).

É claro que para muita gente esta notícia está a ser recebida com grande satisfação. Afinal, tanto tempo passaram a insultar-nos como a ler os nossos textos do princípio ao fim. O que significa que, sejam silenciosos fãs ou inimigos assumidos, não deixam de ser moscas que orbitam em torno desta podridão de criatividade que é o humor em Portugal. Se calhar não somos bons naquilo que fazemos. Mas pelo menos tentámos. Pedro Álvares Cabral não deu com a Índia à primeira, mas pelo menos tentou. O segredo do sucesso é, precisamente, tentar fazer algo. Fazer algo dá mais trabalho do que ficar sentado a observar algo que alguém fez, mas dá um gozo maior! Um gozo muito mais aceitável.

Na realidade, é claro que este site não vai acabar hoje!
Só não sabia o que havia de escrever, e uma despedida aos leitores pareceu-me uma ideia engraçada. Tal como uma vez escrevi cartas de despedida a todos os meus familiares, para lhes revelar mais tarde – perante olhares incrédulos e preocupados – que apenas ia ao cinema.
Tive de o fazer novamente! A culpa não foi minha!

A culpa é da minha mãe que não me deu mama suficiente! A culpa é do meu pai que me fechava na despensa e me dizia que se eu não me portasse bem o fisco vinha buscar-me!

A minha psicóloga diz-me que estou a entrar numa fase de retoma e que tenho de me libertar do passado. Graças a José Sócrates, agora sinto-me capaz de o fazer.

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