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Estatísticas

Mas que raio vem a ser esta coisa das “estatísticas”? A maior parte das pessoas não sabe bem o que é. Sabem que “isso das estatísticas costuma vir em percentagem”, como por exemplo “65,7% dos 29% do público masculino que lê este site sente que 79,2% do universo de leitores de jornais diários não sabe o que são estatísticas”. Isto significa o quê? Que muita gente conhece o conceito? Ou não?

Na realidade, aqueles que dominam a ciência das estatísticas podem dar a volta para o lado que quiserem. Um exemplo simples e prático. Suponhamos que você inventou um coçador de costas USB que, assim que se liga ao seu computador, não só fica carregado para um dia inteiro de utilização como as vibrações que ele emite deixam que também seja utilizado como massajador facial. (se isto já existe, é porque alguém teve de o inventar)

O passo seguinte será registar a ideia para si, e convencer uma marca ou empresa a investir na produção, uma vez que você é pobre demais para o fazer (nós sabemos que 93,12% dos nossos leitores ganham menos de 1000 euros mensais).
Como é que você vai conseguir a atenção dessa empresa que deve receber cinquenta ideias loucas, como a sua, todos os dias? Encomenda um estudo de mercado.
Então, a empresa de estudos de mercado analisa o seu produto, decide potenciais targets, e manda umas meninas jeitosas, com um sorriso nos lábios, recolher informação junto do possível público-alvo.

Se você fosse esta empresa de estudos de mercado, para onde é que mandaria as meninas? (e não vale dizer “para minha casa”, tal como 97,9% dos leitores e 4,1% das leitoras estão neste momento a pensar!) Manda-las-ia para uma sala de espera de um centro de saúde? Ou pagava-lhes um bilhete para elas questionarem as pessoas numa feira de informática na FIL (ou coisa assim)?

Ou seja, consoante o local e as pessoas a quem se perguntam as coisas, consegue-se manipular mais ou menos os resultados. Se a empresa utilizasse as informações obtidas no centro de saúde, provavelmente pareceria uma má ideia investir no aparelho. Afinal, para a maior parte dos utentes do centro, USB deve soar a uma variante da doença das vacas loucas. Se utilizasse os outros resultados, recolhidos junto de geeks e nerds informáticos, talvez tivesse mais sorte.
(na prática, estas coisas obedecem a mais umas quantas regras. No entanto, mesmo a essas é fácil dar a volta. A hora a que se liga para casa da pessoa, por exemplo. Se se ligar durante a manhã ou tarde, é natural que se apanhe donas de casa e reformados. Se se ligar à noite já se apanha outro tipo de pessoas. E por aí fora.)

Não é à toa que os grandes especialistas na utilização das estatísticas (como a nossa classe política) tão depressa as utilize para justificar os seus planos loucos e dementes à população, como são os primeiros a denegri-las quando elas não estão a seu favor (é só ouvi-los a falar em épocas de eleições, quando estão com os calos apertados, a dizerem coisas como “as estatísticas valem o que valem”).

Nós aqui no DQD também temos as nossas estatísticas.
Só que a nossa informação não é recolhida à toa! Nós manejamos os dados com o mesmo cuidado com que um oficial da brigada de minas e armadilhas israelita abre um embrulho do Hamas.
E como Natal é a época de dar e receber, mas mais de dar (porque nós somos altruístas em 89% dos casos), decidimos abrir as portas aos leitores – momentaneamente – e revelar algumas das informações que temos sobre quem nos lê.

Se não sabia, fica a saber:

i. 59% do nosso público é feminino, 40% é masculino e o restante é indeterminado.

ii. Graças ao facto de termos conseguido converter as vogais “o” em webcams, neste momento estamos a olhar para si e estamos a vê-la a sorrir. (Hmmm… a menina aí! A menina dos seus vinte e muitos anos com o cabelo castanho quase liso e meio escadeado… sim, estamos a falar consigo! Faz alguma coisa hoje à noite?)

iii. 13% do nosso público masculino está hoje a usar os mesmos boxers ou cuecas que usou ontem porque, na opinião de 78% deles, “não me parece que estivessem sujos a ponto de ter de os trocar esta manhã”.

iv. Cerca de 8,9% das mulheres que nos lêem estão com o período ou em fase pré-menstrual. (provavelmente, até a menina gira do cabelo castanho quase liso e meio escadeado… o que explica porque é que ela ainda não entrou em contacto. Ela até gostava mas, vá-se lá saber porquê, hoje tudo a irrita!)

v. 91% dos leitores ainda têm compras de última hora para fazer (vemo-nos mais logo no Colombo…).

vi. 98% dos leitores com menos de 8 anos ainda não tiveram relações sexuais e os 2% que tiveram não o fizeram de forma voluntária.

Isto são apenas alguns exemplos da informação que nos veio parar às mãos, baseados em análises regressivas do nosso sistema de contagem de visitantes (contador, para leigos). Imagine se nós quisessemos saber mais!

Em todo o caso, não queríamos que o leitor ficasse com a ideia que as estatísticas não passam de um monte de aldrabices. É uma ferramenta útil que, se for usada como deve ser, pode ser uma mais-valia para quem a possui. Um pouco como ter uma caixa de preservativos numa orgia.

Existem especialistas na utilização de estatísticas no nosso país. Um deles é o redactor principal do Diário de Notícias, António Perez Metelo. Esta ligação é apenas um exemplo de entre muitos (basta pesquisar os arquivos no site do DN) de alguém que fala em termos de estatísticas e números. Chega a ser impressionante como há crónicas dele que possuem mais números que letras!

E depois, no mesmo jornal de referência, apareceu ontem uma notícia (também na secção de Economia) em que era dito que “os solteiros e divorciados são mais penalizados pelo desemprego em Portugal”. No entanto, logo ao início da notícia, aparecia a indicação de que – do total de desempregados neste país – apenas 40% eram solteiros ou divorciados. A mim quer-me parecer que, se 40% dos desempregados são solteiros e divorciados, então isso significa que os restantes 60% devem ser casados e unidos de alguma forma, certo? Mas isso entra em choque frontal com o título da notícia, que afirma que os “solteiros e divorciados são os mais penalizados”. E aí temos um exemplo em como, não sendo a estatística corrompida, a análise errónea do valor leva-nos a pensá-la duma forma diferente. Será por isso que o caderno de Economia da edição de ontem desapareceu misteriosamente dos arquivos do DN? (à hora a que escrevo isto (12:22 do dia 22/12/06), o arquivo não está lá. Quando for resposto, incluirei aqui a link para a notícia. Adenda: O caderno de Economia voltou! São agora 01:28 de 23/12/06. A link para a notícia está aqui.)

Há também outros termos na linguagem estatística, normalmente utilizados, que dá sempre jeito perceber. E que nós passamos a explicar.

Média. Forma feminina de médium, que é uma pessoa que – supostamente – consegue contactar espíritos de falecidos.

Vizinhança. Um termo bairrista que simboliza os habitantes de determinada zona ou localidade.

Desvio-padrão. Trata-se da distância, medida em milímetros, que o Padrão dos Descobrimentos desliza todos os anos para dentro do rio Tejo, devido ao afastamento das galáxias que ocorre desde a altura do Big Bang. É por isso que o referido monumento está sempre em obras. (o que é que pensavam que a Câmara quis dizer quando afirmou que tencionava “salvar o Padrão dos Descobrimentos”?).

No fundo, tal como em tantas outras áreas da vida, é o nosso conhecimento duma matéria que vai determinar o quanto nós nos deixamos (ou não) embarretar pelas coisas que lemos nas notícias.
O melhor que podemos aconselhar ao leitor faminto e sedento de informação é que continue a ler este site diariamente.
E não somos nós que o dizemos! De acordo com as opiniões de reputados especialistas, se você ler o DQD durante duas semanas seguidas, é natural que se sinta 12,2% mais informado e seguro de si próprio (em 89,3% dos casos).




Deixáste-me 100% baralhada.

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