Recebi há pouco a seguinte mensagem da Vodafone no meu telemóvel

“Quando se deseja é a sério, sem meias medidas ou meias palavras. Este Natal viva tudo por inteiro, viva a magia de cada momento. Um desejo Vodafone.”

Ora vamos lá perder um minuto a analisar esta mensagem que, à partida, não parece significar absolutamente nada.

1. Estarmos a receber uma mensagem da Vodafone nesta altura do ano (calculo que não tenha sido apenas eu), leva-nos a crer que se trata de uma mensagem de boas festas. E, de facto, lá está a palavra “Natal”, na segunda frase, para nos tranquilizar.

2. Porém, a primeira frase tem uma particularidade interessante. Está dividida em duas orações: a que está antes da vírgula, e a que está depois. Podemos dizer que a segunda oração é apenas uma concordante da primeira. Ao afirmar que “quando se deseja é a sério”, a função de “sem meias medidas ou meias palavras” parece concordar e reforçar a frase anterior. Mas porque raio é que estes senhores da Vodafone haviam de querer reforçar a ideia de que “quando se deseja é a sério”?
Ora bem, aqui vai um engraçado exercício de análise de sugestão.
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Olhem para essa oração no seu estado normal

Quando se deseja é a sério

Agora olhem para ela com algumas palavras salientadas a bold ou negrito e juntem essas palavras

Quando se deseja é a sério

Sim, parece que a Vodafone nos está a querer dizer “Deseja a sério”.
Certamente que só poderá ser uma coincidência…

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3. As frases seguintes não são menos curiosas.

“Viva o Natal por inteiro, viva a magia de cada momento.”

Estas frases não são vagas por acaso.
O que é que significa viver o Natal por inteiro?
Significará rezar mais do que é costume?
Vestir-se de vermelho?
Fazer uma árvore de Natal gigante?

Pode significar muita coisa diferente para muita gente. E é precisamente essa a ideia! Se você tiver que “completar o sentido” da frase com a sua experiência pessoal, psicologicamente você vai estar envolvido num processo mais ou menos consciente e criativo. Segundo alguns estudos feitos há uns anos, por psicólogos e terapeutas muito manhosos e com a mania das teorias da conspiração, esse é o estado ideal para você receber uma sugestão: deixar o seu consciente entretido com qualquer coisa enquanto outras mensagens entram pela porta de serviço. (ver links no final deste post)

Mas então, perguntam vocês, onde raio é que estão essas mensagens?!

O que nos leva para a última frase.

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4. Reparem com atenção

Um desejo Vodafone

“Um” é um artigo indefinido. E se o ignorarmos do contexto desta frase, uma vez que já sabemos que só pode ser a Vodafone a desejar-nos coisas (afinal, foram eles que nos enviaram o raio da mensagem. O desejo havia de ser de quem?), o que fica é o seguinte

Um desejo Vodafone.

Ora bolas! Nova coincidência!

Querem então ver que os malandros da Vodafone, em vez de me enviarem uma mensagem de feliz Natal tão bonita e espiritual, afinal só me sugeriram

Deseja a sério um desejo Vodafone?

Raisparta!
O mais curioso é que toda a gente vai olhar para esta mensagem e vai “sentir” que é uma mensagem de Natal, de tão bem que a filha da puta está escrita! Mas se lerem novamente e com atenção, a Vodafone nem sequer nos deseja boas festas ou Feliz Natal!!

“Quando se deseja é a sério, sem meias medidas ou meias palavras. Este Natal viva tudo por inteiro, viva a magia de cada momento. Um desejo Vodafone.”

Alguém vê ali escrito “desejamo-lhe boas festas ou feliz Natal ou feliz Ano Novo ou o raio que o parta?”
A única coisa que sugerem é que vivamos o Natal por inteiro, todos os momentos, toda a magia, todas os embrulhos, todas as prendas, todos os telemóveis…

Não, calma, isso seria tornarmo-nos paranóicos da conspiração.
Toda a gente sabe que os operadores móveis não fazem destas coisas. Afinal, vocês sabem quanto é que custam os serviços dum psicólogo ou dum linguista para trabalhar em frases destas? Onde é que eles iam arranjar dinheiro para isso? Mandar mensagens disfarçadas de sms de boas festas para vocês gastarem mais dinheiro em produtos Vodafone neste Natal? Uma semana antes do dia de Natal? Logo na altura em que grande parte das prendas são compradas por impulso? Que horror! Nem percebo como é que vocês foram capazes de pensar numa coisa dessas. Eu acho que até foi atencioso da parte deles. Vocês é que são um bando de paranóicos infelizes…

Já agora, amigo António Carrapatoso, presidente da Vodafone Portugal, se afirma que “quando se deseja é a sério”, tenho uma sugestão para si. Em vez de me enviar mensagens consumistas disfarçadas com as cores da época, dê-me alguns dos 740 mil euros que o fisco lhe perdoou no início deste ano.
Então poder-lhe-ei dizer que tenciono viver o Natal por inteiro!

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Alguns livros interessantes sobre como a linguagem pode ser manipulada. Um aqui, o outro aqui e ainda outro aqui.

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