Apesar de, hoje em dia, estar em voga uma generosa abertura de espírito quanto a inclinações ou taras sexuais, a verdade é que ainda há por aí muito fetichista que se sente marginalizado ou discriminado por culpa dos seus gostos eróticos. É complicado (ou, pelo menos, deve ser, não é? Eu não sei… Estou só a especular, hem!) sentir o infame olhar reprovador dos outros quando, por descuido, se deixa escapar numa conversa uma referência mais ou menos libidinosa ao objecto da fixação. E isto há-de acontecer sempre, independentemente do fetiche. Mesmo os mais banais como, por exemplo, o fetiche com pés, são propensos a problemas: como explicar aos amigos e familiares a fixação com um emprego numa sapataria? Como explicar à cara-metade, habituada a coisas mais “normais”, o facto de as suas peças de calçado aparecerem, de quando em vez, cobertas de baba? Como explicar ao condomínio o incidente daquele dia em que já se tinha bebido um copito a mais (não é nada de pessoal com a porteira; aqueles chinelos à enfermeira é que me deixam louco!)?
O ponto é este: a pressão e a incompreensão sociais já são castigo suficiente para estas pessoas cujo único crime que cometeram foi o de quererem ser amados (talvez não tenha sido, mas eu sempre quis escrever uma frase assim). A última coisa que precisam é que ainda venha o sacana do Google lançar o seu olhar de sobranceria e desdém quando se tenta fazer uma inocente pesquisa! Se não acreditam, experimentem. Vão ao site, e escrevam:

pézitos+molhados

Está certo que aparecem uns resultados (embora logo o primeiro seja, no mínimo, perturbador: «A Filha está no hospital, andou descalça depois de sair do banho, tinha os pézitos molhados, escorregou e bateu com a cabeça na lareira.»), mas o que me incomoda é a frase cuspida pelo motor de busca, num misto de superioridade e paternalismo bacoco: “Será que quis dizer: peitos+molhados”. Era só o que faltava! Uma lição de moral do Google! “Olha-me este tarado! A querer obter resultados com pés! De certeza que não queres antes ver uns generosos seios humedecidos, meu depravado? Isso é que é de homem! Agora, pés?! Qual é que é o gozo que tu obténs com os pés, meu palhaço?! Ainda vais a tempo de optar pelos mamilos túrgidos… Tu é que sabes!”.

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