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Sessenta-e-nove

ou “Grandes Vultos Esquecidos da Nossa História – capítulo IV: Joaquim Mateus

Este é o meu post n.º 69. Que posso eu fazer de especial para assinalar esta ocasião? Bem sei que é um bocado infantil estar a fazer uma piada com o n.º 69… Infantil e já mais que batido. Mas eu não quero deixar morrer a criança que ainda existe no meu âmago. Tem de ser! Tenho de escrever qualquer coisa de apropriado, qualquer coisa de porco, qualquer coisa de obsceno.
Mas eu não consigo escrever essas coisas… Por isso, recorrerei a quem o sabe. E, assim, ainda acabo por conferir a este escrito um carácter cultural que calará aqueles que o queriam reduzir a uma palermice motivada pelo número 69. Acompanhem-me, então, numa viagem até ao último quartel do século passado para recuperarmos um nome grande da história da poesia erótica portuguesa. Falo de Joaquim Mateus ou, como assinava os manuscritos das suas composições poéticas, “Jó do Óleo”. Um nome desconhecido por muitos, é certo… Com efeito, este autor nunca granjeou o merecido reconhecimento, sendo, ainda hoje, injustamente esquecido pelas elites intelectuais. Se não acreditam, experimentem chegar ao pé de um colaborador do Jornal de Letras, e perguntar-lhe por este trovador… Se tiverem sorte, pode ser que um ou outro estudioso mais empenhado se lembre de algum soneto.
Mas, quem é este homem? Joaquim Mateus, um mecânico de profissão, descobriu algo tardiamente a sua vocação poética: conta-se que foi um amigo que estava de visita à oficina que o terá alertado para o seu dom, ao ouvir um inspiradíssimo piropo que dedicou a uma transeunte de formas generosas. Isto foi em 1983, sendo que, em meados de 1984, Jó do Óleo tinha já preparado uma colectânea de poemas para edição. Infelizmente para o Sr. do Óleo, nem todos mostraram ter o entusiasmo que o seu amigo havia demonstrado e, editora após editora, todas disseram “não” à poesia, quiçá demasiadamente excessiva, de Mateus. Mesmo assim, Jó do Óleo não desistiu e apostou na divulgação do seu trabalho, participando em alguns saraus literários onde as suas declamações causavam, invariavelmente, o escândalo.
Mas nada melhor do que apresentar alguns exemplos do fascinante trabalho deste autor. Aproveito, também, para anunciar, em primeira-mão, que está a ser preparada uma edição crítica (com a chancela de qualidade DQD) que recolhe toda a poesia deste mecânico poeta.

Pistonadas intensas

“Mostra-me a tua árvore de cames” – disse-lhe enquanto acariciava a minha manete
“Acelera para dentro de mim” – respondeu arfando como um motor a diesel
Acelerei, fui direito à meta, a tua válvula de admissão parecia untada com Castrol XP-17
Admissão – compressão – explosão – escape! Brum-brum-zééééélll.
Mais e mais! Alta rotação!
Admissão – compressão – explosão!
Explosão!
Escape.

Estamos, pois, perante um trabalho de excepção. Um exercício de estilo que (alguns assim o entendem) roça o dadaismo. Curiosa é também, as referências algo subterrâneas ao métier do nosso artista. De resto, estas pequenas inclusões pelo mundo da mecânica são, de certa forma, um leit motiv na obra de Jó do Óleo. Há mesmo alguns comentadores que consideram esta recorrência como o resultado de uma obsessão do autor por temáticas afins. Na minha opinião, tratam-se de críticos maldizentes que nunca entraram no espírito da poesia de Mateus. Seja como for, aqui fica mais um exemplo da escrita virtuosa, grafada sob o signo de Eros, deste artista. No poema que se transcreve, poderemos surpreender um pendor mais escatológico que Joaquim Mateus nunca teve o pudor de deixar de empregar.

Sem título

Inflamado de excitação como gasolina super em chamas
O teu tubo de escape convida-me com as suas emissões poluentes
Longarina alinhada, tu na tua posição por mim clamas
Com a bateria carregada, preparo-me para manobras diferentes
Monto-me com violência, elevo o teu chassis com o meu macaco pneumático
Fico cheio de fuligem, arrumo a caixa de ferramentas e retiro-me, sorumbático.

Que é feito, hoje em dia, de Jó do Óleo? Infelizmente, faleceu em 1989, interrompendo abruptamente uma promissora carreira na área das artes. Ainda hoje se especula quanto ao que se terá passado ao certo naquela fatídica noite. Foi o sócio de oficina de Joaquim Mateus que encontrou o corpo do poeta já sem vida no local de trabalho, após uma noite mais ou menos solitária: Mateus estava completamente nu, preso pelo baixo-ventre ao motor de um Toyota Starlet.




Oh João, o teu post é tão esquisito que nem há palavras para o comentar. Eu sei de fonte segura que quando o escreves-te NÃO estavas com uma bezana, logo os papás desse tal Sr.do Óleo, não deviam ter nascido. TARADO.


bezana ou não está super fixe
🙂

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