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Novamente as galinhas…

Vinha hoje a caminho do trabalho, a ouvir as notícias sobre os incêndios na rádio, quando fui assaltado por uma sensação de pânico!
Ocorreu-me que o desaparecimento generalizado das matas portuguesas vai ter consequências gravíssimas para as galinhas do mato!
Passo a explicar.
As galinhas do mato, apesar de muita gente insistir que se trata apenas do nome de um disco de Zeca Afonso, existem mesmo.
E são até mais engraçadas que as galinhas normais. Pronto, talvez não sejam mais engraçadas, porque cada galinha é uma galinha e, tal como nas pessoas, existem sempre formas de as diferenciar. Mas as galinhas do mato possuem particularidades especiais.
Ao contrário das galinhas normais de capoeira, as galinhas do mato não costumam passear em cardumes. Têm uma personalidade muito própria e vincada. Gostam da sua liberdade, do convívio com a natureza, e não estão para se chatear com “regras de grupo” e vida em sociedade.
É claro que esta liberdade acarreta algumas consequências.
Fora da segurança de uma capoeira decentemente vedada, as galinhas do mato estão sujeitas às amarguras infligidas pelo seu principal predador: o porco selvagem.
Aproveitando o facto de que esta espécie de galinhas viaja a só pelos matagais, não é fora do comum ouvirmos relatos de ajuntamentos de quatro e cinco porcos selvagens que unem os seus esforços para tentar apanhar uma galinha. Já a forma como a dividem, depois de apanhada, é uma noz para a qual os especialistas em comportamento animal ainda não arranjaram dente. Que porco(s) é que fica(m) com a(s) perna(s) e que porco(s) fica(m) com a(s) asa(s)? E se dois porcos selvagens gostarem de trincar pescoços, será que isso vai causar problemas na sua estrutura social? No estado em que a engenharia genética se encontra actualmente, ainda não há conhecimento da existência de galinhas do mato com dois pescoços (nem de galinhas de capoeira, para esse efeito). Só com muita sorte se encontrará uma galinha mutante nestas condições, provavelmente vinda dos arredores de Chernobyl ou do Entroncamento.
Mas não quero afocinhar na interessante discussão da divisão alimentar na hierarquia social suína. Só isso já dava para um ou dois livros e seria fugir um pouco ao tema (o qual, esse sim, é realmente interessante).
Imagine a situação. Você é uma galinha do mato. A penugem escura até lhe fica bem pois disfarça o facto de que não foi à praia este Verão. Está a passear, alegremente, pelo mato, a debicar um ou outro bicharoco que encontra no chão e a pensar no estado da nação. Eis que ouve aquele fungar rouco e ritmado que só pode significar uma de duas coisas: algum piqueniqueiro adormeceu após uma feijoada com repolho, ou está um porco selvagem por trás de si. Sendo uma galinha, você possui a capacidade invejável de virar a cabeça para trás e ver o que se passa sem mexer o resto do corpo (se os humanos fizessem isto, os automóveis ficariam mais baratos: não precisariam de retrovisores). Olha então, e vê um porco selvagem a bufar e a baixar a cabeça como um touro numa arena. Não se esqueça que você é uma galinha! Ou seja, um porco selvagem é mesmo capaz de se assemelhar a um touro no campo de visão de uma galinha do mato (tirando os cornos, claro).
O porco esgravata o chão com uma das patas enquanto bufa, um pouco como um transeunte que limpa um sapato na esquina de um passeio após ter pisado bosta, e prepara-se para o ataque (o porco. Não o transeunte!).
O que é que você faria? “Ah, é fácil!”, responde prontamente, na sua eterna sabedoria, “Punha-me logo a milhas dali para fora!”.
Pois. Mas, minha amiga, para onde é que fugia? O porco pode ser forte, mas a galinha é mais leve e flexível. Por isso, é justo pensar que podia fazer uso da sua visão surround e esperar que o porco investisse, desviando-se então para outro lado qualquer. Quando o porco selvagem se apercebesse que algo não estava bem, já você estaria pronta para a próxima investida. Mas durante quanto tempo é que uma galinha conseguiria fazer isto? Ela já não é propriamente inteligente e, vivendo no mato, sem regras nem deveres, é bem capaz de relaxar numa altura pouco propícia. No fundo, isto é como tentar fintar o fisco. Podemos fazê-lo com conta, peso e medida. Mas se for água a mais para o nosso bebedouro, vamos ser apanhados eventualmente.
A galinha pode esvoaçar a baixa altitude e empoleirar-se num ramo duma árvore, é certo. Mas que árvore?! O raio do matagal ardeu quase todo!! Tudo o que restam são uns galhos secos que nem aguentam com o peso duma pinha, quanto mais duma galinha! E é claro que a mesma fórmula se aplica às sebes. Como é que uma galinha se pode esconder por detrás de uma sebe ardida? Isso é o mesmo que instalar gabinetes de prova em acrílico transparente nas lojas de roupa. Pode parecer uma ideia interessante, mas não funciona.
Acho que já dá para perceber para onde esta história caminha…
As galinhas do mato poderão estar extintas dentro de pouco tempo!
E quem diz as galinhas do mato, diz os porcos selvagens. Pois sem presas, a população de predadores também se extinguirá eventualmente. Isto apesar dos porcos serem como Deus: omnívoros. Não é que não existam outras fontes de alimentação em matas ardidas, mas isso seria o mesmo que pedir ao Vasco Santana que trocasse o seu chouriço alentejano por Kellogs Special K.
É preciso ter sensibilidade para estas coisas e saber ler nas entrelinhas.
Os incêndios de que as nossas matas e pinhais sofrem não são apenas prejudiciais para o pinheiro manso português.
Podem significar, a médio-prazo, a extinção de diversas espécies!
Pelo que proponho um slogan inovador e capaz de fazer as pessoas parar para pensar:
Cuide das nossas matas. Pense nas galinhas do mato e nos porcos selvagens!
Que pirómano é que não pensaria duas vezes nisto antes de riscar um fósforo?




“… e nos porcos selvagens!” …. este slogan vai deixar qualquer pirónamo confuso. Quais porcos ??!!
1- nele próprio ?
2- em quem o contratou ?
3- nos porcos dos bombeiros que lhe estragam a festa ?
4- nos membros do governo ?

pode ser que enquanto se decide …. o verão já tenha acabado !


LINDO, LINDO, LINDO!! Tens aqui umas quantas frases de chorar a rir… Mas como é que tu passas tanto tempo a pensar nas galinhas, filho, é que eu continuo sem perceber… Beijos grandes e continua que tá demais. Mesmo escrevendo sobre galinhas…


E mais, acabei de linkar este teu post lá no Eça. Mais do que merecido!! bjs


Permite-me que te esclareça: os porcos são omnípotentes (em relação ás galinhas do mato, claro). Os omnívoros são aquelas pessoas que comem tudo (ex.TV7Dias;Maria;Caras;os resumos das Telenovelas que depois vão ver nos canais todos,chouriço, Kellogs Special K, José Castelo Branco,etc.).
Para mais esclarecimentos (destes) podes sempre contar comigo.


Amigo, de onde você tirou a idéia de “cardume de galinhas”. (Ao contrário das galinhas normais de capoeira, as galinhas do mato não costumam passear em cardumes. )

Até onde eu estudei, cardume é o coletivo de peixes.

O coletivo de aves é bando.

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