Carta para uma fábrica de telhas
Prezados Senhores,
Esta é uma carta de profundo agradecimento pelo que os senhores andam a fazer pelo nosso paÃs, provavelmente sem se aperceberem.
As circunstâncias da minha vida profissional obrigam-me a visitar o estrangeiro frequentes vezes. Uso normalmente o avião.
Como moro em Lisboa, estou habituado a ver arquitecturas disconexas, ruas que são verdadeiras vergonhas, chegando até a ferir a vista desarmada.
A Avenida da Liberdade é um dos exemplos mais fulminantes desse facto. Portugal está a ser construÃdo por arquitectos loucos, egocentristas zarolhos, que descarregam as suas frustrações para os edifÃcios que constróem.
Mas quando me aproximo de Lisboa por avião, a história muda de figura.
Da penumbra das nuvens, aquilo que se vê é uma cidade linda, à beira-mar plantada, com telhados rosa e salmão, cheios de vida.
Daà esta carta de agradecimento.
Gostaria de agradecer a todos os fabricantes de telha lusa (rosa e salmão) por estarem a tornar Portugal mais bonito quando visto do ar.
É claro que quando os turistas saem do aeroporto da Portela são apanhados de surpresa, e não me estou a referir às bandeiradas elevadas dos taxistas que os embarretam.
Um pequeno passeio de Táxi pela cidade leva logo os turistas mais distraÃdos (mesmo os ingleses, que queriam ir para Faro e se enganaram no avião) a perceberem que algo não bate certo.
Mas são os breves momentos em que eles (nós) vêem a cidade lá do alto que os fazem suspirar de felicidade. Os telhados são rosa e salmão. Há ali consistência. É capaz de ser uma cidade normal, habitada por pessoas normais. Como já reparámos, o choque vem depois.
Gostaria de agradecer mais uma vez a todos os envolvidos na produção de telhas nacionais, desde os empregados ao patronato, por estarem a dar a Portugal uma imagem de beleza e consistência, ainda que só dure por uns momentos. Mais vale uns momentos de felicidade, do que uma vida inteira de tristezas.
Mais uma vez o meu muito obrigado e, por favor, não comecem a fabricar telhas em amarelo, verde, laranja ou branco. Seria catastrófico!!
Despeço-me com os cumprimentos mais calorosos, provavelmente vindos da única pessoa que dá ao vosso trabalho o respeito que ele merece. Nós só sentimos frio quando nos falta a manta, e fome quando nos falta o pão. Esperemos nunca sentir saudades da telha lusa (rosa e salmão).
Acácio Jeremias (Eng.)
Leia a resposta da Campos a esta carta.