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Magia divina

Se magia divina lhe parece uma pequena redundância, é porque provavelmente é. Suponhamos que você tem em mãos um projecto tão imponente quanto majestoso: fazer uma parte da Humanidade acreditar em algo que nunca experimentou. Será que deixaria um desses projectos a cargo duma empresa betinha de comunicação constituída por meia-dúzia de putos queques que tiraram cursos de relações em Espanha? Ou preferiria deixar a tarefa a cargo dum grande e poderoso grupo que toca em todos os sectores estruturais duma sociedade? 

A religião, pela sua própria génese, sempre esteve ligada à magia, dadas as suas relações com a crença na transubstanciação sobrenatural do ser. Isto é outra forma de dizer que religião e ilusionismo não são artes muito diferentes uma da outra. E, aparentemente, foi isso que alguém no seio de ambos os pólos se deve ter apercebido ( Clique aqui para ler a notícia que saiu no DN )

A partir de agora, ao já famoso programa de comédia da Igreja – o brilhante Ecclesia, que passa todos os dias na RTP2, provavelmente às custas do erário público – juntar-se-ão truques de ilusionismo de gabarito nacional mas, sem dúvida alguma, de projecção internacional!

Todas as Quartas-feiras, o mágico e estudante de Teologia Nuno André (visto na foto a tentar equilibrar um calhau entre dois cravos vermelhos) vai deliciar os espectadores com os seus dotes ilusionistas. E os David’s (Copperfield e Blaine) que se cuidem! Mas não só vai abrilhantar o programa com as suas fantásticas proezas, o que por si só já seria mais que suficiente para uma tarde salutar de divertimento, como vai tentar passar as suas mensagens religiosas simultaneamente. Já faz uns bons anos que isto não é tentado!

Sempre pensei na Igreja como uma espécie de organização semi-mafiosa, com uma mão encarregue de fazer alguns trabalhos que o Governo não quer fazer (como as Misericórdias e centros de apoio social), mas com a outra mão estrategicamente colocada por dentro das calças do Estado, a agarrar-lhe o colhão maior entre o indicador e o polegar, e sempre pronta a mostrar a todo o sistema político a falta que pode fazer. Nem que para isso tenha de lhe rachar a inofensiva e amorosa tomateira com um quebra-noz. (as meninas só têm de imaginar um mamilo em vez dum tomatinho para terem uma noção do tipo de dor que está aqui em discussão)

Mas agora, com o trabalho inovador de Nuno André, unem-se novamente dois pólos – religião e magia – que, nas últimas décadas, se comportaram mais como diferentes personalidades dum esquizofrénico internado no Júlio de Matos.

É claro que o melhor é dito nas próprias palavras de Nuno André, não fosse ele um estudante de Teologia com um excelente segundo nome. Coisa fina. (Quando se atinge um patamar mais nobre e elevado, até se pode usar o André como o primeiro nome… mas essas mordomias não estão reservadas a qualquer um.)

“Se calhar, para conhecer a verdade devamos começar por perceber a ilusão” (sic), conta-nos o sábio mágico.

A ponte está lançada. Os dois mundos podem novamente juntar-se, aproveitar os ambientes de crise que estão a marcar a nossa entrada num novo ciclo de mudança da geografia do poder, e surfar no embalo para angariar novos fãs à conta de algumas sopas e acções sociais.
E é por isso que concordo plenamente com a ideia de Nuno André. Se calhar, para conhecer a verdade, devemos começar por perceber o que é a ilusão. 

Pessoalmente, não percebo como é que a Igreja vai conseguir fazer isto. Ou então não pensaram muito bem no assunto. Será que eles estão mesmo interessados em educar o seu público e ensiná-lo a questionar a diferença entre a realidade e a ilusão? Não será… direi eu a medo… contra-producente?

É que a vantagem do Rock cristão é que podemos facilmente ignorá-lo. Sempre foi tão difícil ter acesso à nossa própria música decente, que conseguir não comprar discos de bandas cristãs é fácil demais. Precisamos dum desafio maior. Precisamos de alguém educado em ambos os extremos; alguém, por exemplo, com um curso de Teologia e conhecimentos de ilusionismo; alguém que cative a atenção das pessoas para um espectáculo capaz de concorrer com os programas da Teresa Guilherme. 

Esse alguém poderá ser o Nuno André.
Eu, pelo menos, já sei que vou sair mais cedo do trabalho às Quartas-feiras para assistir aos seus truques. Se possível, com um grupo de amigos e alguns gin tónicos à disposição, para visionar numa grande tela a projecção do Ecclesia dessa tarde. E para quando uma versão em HD, meus senhores? Porque não um contrato de patrocínio com a Worten? Fazem ideia de quantos televisores HD e sistemas MEO iam ajudar a vender? E as receitas das vendas de DVD no Natal? Meus amigos, não percam o vosso tempo! Estudos de mercado sempre foi convosco. 

Queremos ilusionismo feito pela Igreja! Queremos reality shows filmados nos conventos (que, por motivos óbvios, só poderão passar na televisão após a meia-noite)! Queremos – e porque não? – uma liga desportiva própria, com os seus próprios campeonatos em diversas modalidades! Só assim a Igreja conseguirá corresponder aos desafios do séc. XXI e chegar a toda a gente.
E digo isto com a maior das sinceridades.

É verdade que nós ateus não estamos, como é que hei-de dizer, emocionalmente dependentes da confraternização com a causa religiosa. Mas há pessoas chatas e enfadonhas em todos as raças e credos por este mundo fora. O problema não afecta apenas as pessoas religiosas. E se eu tiver de escolher (sublinho o “se”) entre católicos dedicados ou islâmicos radicais, bem… então ide a vós as nossas criancinhas, para a segurança dos vossos calabouços, e seja feita a vossa vontade! Olha agora sermos convertidos forçadamente pelo outro lado, que ainda vive na Idade Média, e nunca mais podermos beber uma cerveja nem ver gajas de bikini?! Mal por mal, venham esses truques de ilusionismo!




Finalmente a religião e a magia juntas num só programa! Já não era sem tempo!

Sim, porque afinal trata-se exactamente da mesma coisa:

De um lado, um fulano a fazer truques de magia, fingindo que consegue transformar um papel numa nota de 20€ (um dos exemplos dados pelo Nuno André na notícia do DN).

Ora, isto é obviamente impossível pois doutra forma já todos os mágicos tinham sido sequestrados por famílias portuguesas endividadas. Qual euromilhões, qual quê! Rapte já um mágico e tenha a sua própria árvore das patacas em casa!

E do outro lado, a religião, fingindo que Deus existe.

Ora, isto também é obviamente impossível pois, doutra forma, Deus já tinha sido filmado em inúmeros sítios (afinal não é ele omnipresente?), por inúmeras câmaras (de televisão, dos telemóveis, das caixas multibanco – sim, onde é que ele tem levantado o dinheiro para comer durante estes milénios todos?).

Ma’ não! Prefere mostrar-se apenas em cima dos montes, quando não está lá mais ninguém a não ser o Moisés (provavelmente a pensar em que desculpa é que ia dar ao patrão para explicar porque é que estava outra vez atrasado). Bem, mas temos que admitir que foi uma boa desculpa. Ainda hoje continua a enganar meio mundo 😉

Portanto, introduzir uma rubrica de ilusionismo num programa religioso é realmente perfeito. Ambas lidam com ilusões – a única diferença é só mesmo o tamanho 😛


Tenho acompanhado o programa e gosto muito. Não sou crente mas percebo a profundidade das suas mensagens. Gostei muito dos truques e são por eles que acompanho o “ecclesia”… a propósito do que acima foi dito…basta de persseguir a Igreja meus amigos… como se pode persseguir a Igreja Catolica acusando a mesma de ter persseguido no passado? não será estar a fazer o mesmo? a Igreja já cometeu vários erros, sim é verdade… e então? era suposto ser perfeita? nenhuma igreja ou religião pode ser perfeita. ha sempre aqueles que “pecam”. enfim de nada vale estar aqui a escrever pois por certo quem tem esta opinião não terá humildade suficiente para abrir os olhos. Ecclesia…continuem a encantar, enquanto uns falam e perdem tempo a criticar…outros vão trabalhando para um mundo melhor! Parabens nuno andré pela coragem de avançar e dar a cara nesse projecto tão delicado. Só os que têm uma mente evoluida é que atingem a profundidade da rubrica que todas as quartas feiras acontece na rtp2 num programa da Igreja Catolica.


Mas quem é que está a perseguir a Igreja? O raio do programa é um espectáculo! Só estou a dizer bem.


dois cravos e um calhau??? veja la se nao é um lenço e uma bola preta…. nao sei digo eu…


O programa não vale nada, excepto as magias do Nuno. Encantou-me desde o primeiro dia.

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