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Fruta normalizada

Quem é que tem idade suficiente para se lembrar dos anúncios que inundavam a televisão pública (a única, na altura) a convencer-nos a “exigir fruta normalizada”? Eu era puto, mas lembro-me que foi uma era surreal na minha vida. Parecia que toda a gente estava preocupada com um ideal de perfeição que tinha no peso e no tamanho da fruta o seu expoente máximo. O que é que interessa a qualidade do produto? Que se lixe essa merda! O que é preciso é que sejam todos iguais, ou muito parecidos, de modo a ficarem bem bonitinhos e arrumadinhos nos caixotes das praças e supermercados. Uma medida naturalmente inventada e perpetuada por obsesso-compulsivos frustrados que nunca comeram comida decente.

Eis agora que, quase duas décadas depois, a União Europeia chegou à brilhante conclusão que discriminar produtos ligeiramente deformados é capaz de ser uma coisa um pouco imbecil, especialmente num mundo onde a fome abunda e a alimentação está cada vez mais cara.

Temos aqui uma situação contraditória e potencialmente perturbadora.

Por um lado, se a calibragem de produtos deixa de ter importância, isso significa que foi uma medida que nunca serviu para nada.

Ou então havia, de facto, um motivo válido e legítimo para sugerirem a tal “fruta normalizada”, e agora estão a voltar atrás por motivos puramente economicistas e/ou estratégicos.

Portanto, duma forma ou de outra, ou fomos enrabados este tempo todo, ou vamos ser enrabados a partir de agora.

Na realidade, eu tenho as minhas desconfianças desinformadas. Acho que a ideia sempre foi o favorecimento dos maiores produtores. Graças aos métodos de produção mais industrializados que possuem, são esses os únicos que conseguem garantir alguma homogeneidade no produto. A ideia sempre foi favorecer os grandes produtores em detrimento dos mais pequenos.

E agora que os combustíveis aumentaram, os meios de produção encareceram, a recessão é uma realidade e a produção quer-se cada vez mais próxima do cidadão, ocorreu a alguém que talvez não fosse má ideia aliviar a legislação neste sector.

Pessoalmente, fico contente que assim aconteça. Acho que temos de ter algum cuidado com as coisas que levamos à boca, sejam elas comestíveis ou não. Não deixa ser uma sensação estranha e sinistra observar um conjunto de frutos perfeitamente idênticos numa banca dum supermercado. No entanto, foram essas as imagens com que fomos bombardeados através dos anúncios institucionais televisivos que passavam na altura. O ideal de perfeição parecia ser qualquer coisa meio surreal, meio nazi.

Infelizmente, nem todos os produtos se vão ver livres desta legislação imbecil e injusta. Apenas 26 (veja a link lá de cima para ter acesso à lista completa). De fora ficam – entre outros – frutos e legumes como as maçãs, pêras, morangos, citrinos, kiwis, uvas, tomates e alfaces.

Eu não tenho problemas em que a União Europeia me calibre as pêras, as maçãs ou os tomates. Mas é caso para dizer que, se nos estão a libertar alguns legumes, ao mesmo tempo parece que nos querem manter agarrados pela fruta.




Eu ia dizer que gosto da ideia de ter os tomates simetricamente calibrados, rosados e bem pesados, mas o teu último parágrafo mandou-me a piada às couves.

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