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Ensinamentos para a vida

Toda as pessoas que conheço têm a sua pequena lista preferida de ensinamentos mais ou menos memorizada. Pequenas frases ou ideias transmitidas, algures no tempo, por alguém supostamente mais sábio. Podem ter vindo de familiares, amigos, livros ou, pura e simplesmente, de maus actores de filmes de acção. O que é interessante é que, volta sim, volta não, lá nos lembramos duma dessas frases e adaptamo-las na perfeição às nossas condições actuais. Deve ser aquilo a que as pessoas crescidas chamam experiência de vida. A nobre arte de traçar paralelos onde só existem secantes.

Relativamente a esta crise financeira que se vive, e cuja onda de choque eventualmente chegará com força a Portugal, só me consigo lembrar das sábias frases do velho banheiro 1X2 (Um Xis Dois), da Praia das Maçãs (calculo que não fosse o seu nome verdadeiro, ou então foi o nome que os pais lhe deram para comemorar o dia em que lhes terá saído um bom prémio no Totobola).

1X2 tinha o hábito de vir falar com “os putos”. Incutir-lhes algum espírito cívico, dar-lhes alguns ensinamentos e, se possível, cravar-lhes uns trocos para ir beber uns giripitis a seguir à hora do expediente. Lembro-me de o interrogar com questões sobre raparigas, cigarros e quais os melhores materiais a utilizar como elásticos para fisgas. (são câmaras-de-ar de pneus, já agora)

Mas houve um dia, nunca mais me esquecerei, que lhe contei que estava preocupado porque não queria crescer e ser pobre (uma preocupação interessante para um puto de dez anos).
E a resposta dele foi “Andrezito, o medo é como uma onda grande. Podes ficar assustado e deixar-te enrolar; ou podes virar-lhe o cu e aproveitá-la para fazer uma carreirinha.”

Na altura isto não quis dizer grande coisa.
E só agora é que percebo a sorte que tenho em ser um dos privilegiados da sociedade. Não estar individado perante nenhuma pessoa ou instituição bancária, nos dias que correm, é o equivalente a estar de peida completamente virada para a onda, já com os braços esticados para a frente e as pernas flectidas, à espera que ela chegue para nos levar a dar uma voltinha.

Por outro lado, o 1X2 também dizia que “não devíamos limpar o cu a urtigas se um dia tivessemos de cagar numa mata…”
O conselho é bom, não há dúvidas em relação a isso. Mas agora pergunto-me até que ponto se deverá confiar nos conselhos de alguém que possui uma fixação indiscriminada por traseiros?

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