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Criminalidade desorganizada

Na semana passada, liguei a televisão, sentei-me e observei os tiroteios na Quinta da Fonte, tal como todos os portugueses (excepto, talvez, os portugueses invisuais). Fiquei extremamente desapontado, pelos motivos que passo a descrever.

Para começar, tenho de informar o leitor que sou contra qualquer espécie de gun control. Acho que toda a gente devia andar armada, tal como nos Estados Ónidos. Até as coleiras dos animais de estimação deviam ter explosivos que pudessem ser auto-detonados por cães ou gatos com tendências homi-suicidas. O país ficaria muito mais animado, falar-se-ia mais sobre estas coisas nos noticiários e em debates (e menos sobre futebol), e as vendas de armamento, munições e coletes à prova de bala disparariam (perceberam?), ajudando a tirar a nossa economia do buraco em que se encontra.

Foi por isso, com grande satisfação, que me sentei em frente à televisão, já de calções, na companhia dum gin tónico e duma tosta mista, à espera de ver Loures em polvorosa. A nossa pequena Beirute, mesmo aqui ao lado (hei, isto até podia ser um slogan turístico!).

O desapontamento adivinhou-se rapidamente. O tiroteio começou e eu, feliz e radiante, levei aos beiços os primeiros golos da minha bebida. Quantos feridos? Quantos mortos? Ciganos e pretos ao tiro? Se for como um casamento cigano, pensei eu na minha fresca ignorância, isto é coisa para durar até Domingo! Ainda mal tinha sentido o coice do gin, já o tiroteio tinha acabado! E as imagens da SIC – das quais o dito canal não se sentiu rogado ao enunciar, vezes sem conta, que eram um exclusivo seu – repetiam-se em pescadinha-de-rabo-na-boca, como um disco de vinil riscado.

Resultado: oito feridos (foi-nos dito, apesar de eu não ter visto ninguém ferido, nem saber de que etnia são os feridos, nem ter ouvido falar mais sobre o estado de saúde deles). Ora bolas! Foi para isto que esperei a tarde toda? Foi para isto que me dei ao trabalho de ir buscar uma ventoínha ao sotão, por medo de aquecer demais com a animação?! Meia-dúzia de ciganos aos tiros na rua, alguns deles a passar perigosamente em frente às armas dos companheiros (é o que dá não ter treino militar), e nem um morto, um ferido grave, uma explosão ou sequer uma bola de futebol furada (o que daria uma excelente ponte para passar logo às notícias desportivas). Nada!

Francamente! Aliás, para mim, isto é um duro golpe na cabeça dos fanáticos de extrema direita que acham que estes grupos étnicos representam um problema. Será que alguma vez vou sentir novamente medo dum cigano armado? Acho que não.

Portanto, nota negativa para o tiroteio na Quinta da Fonte. Não por causa da violência mas, precisamente, pela falta dela.

Mas há outra situação que me está a causar alguma revolta e que gostaria de aqui anotar.
É que, vá-se lá saber porquê, este tipo de animação de rua não foi bem recebido pela comunidade cigana que reside no bairro. O que é estranho, especialmente tendo em conta que só vimos ciganos a disparar e nunca observámos o outro lado do campo de batalha.

Não faz sentido. Não acredito que não houvesse uma única pessoa, do outro lado do bairro, com um telemóvel capaz de filmar um plano de acção diferente! E conta-se que um segundo grupo se organizou, e dirigiu-se para um casamento cigano, que estava a tomar lugar nas redondezas, para provocar desacatos. Ora que raio! Então se havia um casamento cigano por ali, com festa grossa e comida farta, como raio é que havia ciganos na rua a disparar? Será que estavam chateados por não terem sido convidados?
E porque é que ninguém filmou o desaire no tal casamento? E logo os ciganos, que não têm qualquer tipo de problema em andar com telemóveis debaixo da manga, sempre do último modelo e, ainda por cima, desbloqueados! Não lhes ocorreu filmar um pouco da acção para mais tarde recordar?

E após muito pensar, cheguei a uma conclusão. Não aconteceu nada na Quinta da Fonte! Nós não observámos ciganos a disparar contra pretos. O que vimos foram agentes recrutados por partidos de extrema direita, vestidos à ciganos, que decidiram disparar contra pretos, na ânsia de provocar uma rixa entre as duas etnias. Mas os ciganos não são estúpidos, claro está, e ao sentirem-se ameaçados, decidiram debandar dali para fora.

E a parte que me revolta nisto tudo é os ciganos terem o desplante de achar que podem ter uma casa nova, apenas porque não gostam de viver onde vivem.
Será que isso também funcionaria comigo?
Será que consigo fazer com que a Câmara de Lisboa me mude para um luxuoso apartamento em frente ao Tejo, ou para uma vivenda em Sintra, se lhe enviar uma carta a dizer que estou farto de viver ao pé de Sete-Rios?
Nada como experimentar. Se não funcionar, sempre posso comprar uma caçadeira e desatar aos tiros aos meus vizinhos da Estrada de Benfica, mesmo aqui ao lado. Com o devido cuidado para não ferir ninguém no restaurante O Coral, claro. Aquela açorda de marisco que eles lá servem é uma especialidade!

—-

Nota do autor do post: peço desculpa por não utilizar as terminologias politicamente correctas. Se você for do tipo de pessoa que se ofende facilmente (deve adorar viver neste país, então!), onde ler “preto” leia “cidadão de raça negra”; e onde ler “cigano” leia “cidadão de etnia cigana”. Pessoalmente, estou-me um bocado nas tintas para isso. Acho que se devem chamar as coisas pelos nomes. Eu sou branco, e há pretos, há ciganos, há amarelos, e há fãs do Tony Carreira. Não são títulos depreciativos (bem, talvez sejam para os fãs do Tony Carreira…). São apenas referências fugazes ao tom de pele do indivíduo.

Aliás, diria mesmo que a obsessão pelo polticamente correcto foi a causa de toda esta situação. É que quando os governantes, numa de darem ares de modernice, acharem novamente que podem juntar diferentes etnias no mesmo bairro para se mostrarem “p’rá frentex”, convém que se lembrem que dá jeito que, pelo menos, uma dessas etnias seja minimamente civilizada para conseguir conviver com a outra. É assim em qualquer parte do mundo, e só um sistema governativo imbecil e desinteressado é que permite que o politicamente correcto se sobreponha aos estudos sociológicos vigentes.




A culpa disto é da nossa policia que anda nas estradas a passar multas agora pras ferias e nao se preocupa com a criminalidade e o aumento do porte de armas…
é o que temos:(
Passar multas sabem eles agora manter a segurança do país nem vela…


A polícia é uma ferramenta do Estado. O que é que querias que a polícia fizesse? Que desrespeitasse as ordens do Ministério da Administração Interna e em vez de ir para estadas fosse patrulhar bairros problemáticos o dia todo? Toda a gente diz mal da nossa polícia. Mas quando precisam dela – como aconteceu com os ciganos – vê lá se ela não entra em qualquer lado e põe ordem nos currais.

Se se quiserem queixar de alguém, queixem-se dos governos imbecis que temos, que engavetam e varrem pessoas para bairros mal projectados, sem qualquer tipo de infraestruturas de apoio.


André parece-me que essa defesa pela nossa polícia é um pouco exagerada.
Só no mes de Julho e já nos finais é que começaram a caça à multa em massa e para que?? simples ir de ferias.
Sinceramente porque não se dividem e metade fica nas estradas, porque é essencial, e a outra parte vai para esses bairros problemáticos.
Desta vez o nosso governo não tem culpa, das imagens que vi na televisão nem 1 policia que aparecia e porque??
E ordem nos currais??? ainda não vi nada, que fosse plausível.


Desculpa lá, mas… “metade da polícia nas estradas, metade nos bairros problemáticos”? Isto é uma forma um bocado simplista de olhar para as coisas, não?

Como disse (está na primeira fase do meu comentário), a polícia é uma ferramenta do Estado. A polícia não tem autonomia para tomar decisões estratégicas, apenas operacionais. É ao Ministério da Administração Interna que compete decidir e mandar executar. E a polícia cumpre e responde a esse ministério.

É só neste sentido que acho mal que se esteja sempre a cair em cima da polícia. Não é ela que toma as decisões de irem para sítio X ou local Y. É uma articulação entre diversos departamentos, ministérios, autarquias, etc.

E em relação à “ordem nos currais”, disse isso porque foram os próprios ciganos (neste caso específico) que pediram para a polícia lá ficar a manter a ordem, caso contrário teriam medo de voltar para as suas casas. E a verdade é essa. Podemos acusar a nossa polícia de ser ineficaz, etc. e tal. Mas quando precisamos dela, já ninguém se queixa.


…E o Sr. Presidente da CMLoures já foi à televisão deizer que vai reabilitar as casinhas que aqueles animais destruiram antes de sairem para ocupar um bairro novo a 1 km dali (até sanitas voaram pelas janelas). Polícia? Havia de ser era 15 anos de cadeira eléctrica a 12 amperes.


12 amperes é muito old school, pá! Hoje em dia, com a inflacção, teriam de ser – pelo menos – 30 amperes! E em corrente contínua! Isso de corrente alternada a entrar por um lado e a sair pelo outro é para maricas! 😉


Hoje sim foi o cumulo… de repente apareceu a policia toda…parecia uma guerra! Bem parece que afinal sempre saem das estradas:) é uma vergonha pro país o que está acontecer.


Meu amigos, gostava de partilhar convosco o ponto de vista do Mário Crespo, o qual eu subscrevo na sua totalidade, ao qual apenas acrescento mais um ponto, mas primeiro aqui fica o artigo do Mário Crespo:

Limpeza étnica
O homem, jovem, movimentava-se num desespero agitado entre um grupo de mulheres vestidas de negro que ululavam lamentos. “Perdi tudo!” “O que é que perdeu?” perguntou-lhe um repórter.
“Entraram-me em casa, espatifaram tudo. Levaram o plasma, o DVD a aparelhagem…” Esta foi uma das esclarecedoras declarações dos auto desalojados da Quinta da Fonte. A imagem do absurdo em que a assistência social se tornou em Portugal fica clara quando é complementada com as informações do presidente da Câmara de Loures: uma elevadíssima percentagem da população do bairro recebe rendimento de inserção social e paga “quatro ou cinco euros de renda mensal” pelas habitações camarárias. Dias depois, noutra reportagem outro jovem adulto mostrava a sua casa vandalizada, apontando a sala de onde tinham levado a TV e os DVD. A seguir, transtornadíssimo, ia ao que tinha sido o quarto dos filhos dizendo que “até a TV e a playstation das crianças” lhe tinham roubado. Neste país, tão cheio de dificuldades para quem tem rendimentos declarados, dinheiro público não pode continuar a ser desviado para sustentar predadores profissionais dos fundos constituídos em boa fé para atender a situações excepcionais de carência. A culpa não é só de quem usufrui desses dinheiros. A principal responsabilidade destes desvios cai sobre os oportunismos políticos que à custa destas bizarras benesses, compraram votos de Norte a Sul. É inexplicável num país de economias domésticas esfrangalhadas por uma Euribor com freio nos dentes que há famílias que pagam “quatro ou cinco Euros de renda” à câmara de Loures e no fim do mês recebem o rendimento social de inserção que, se habilmente requerido por um grupo familiar de cinco ou seis pessoas, atinge quantias muito acima do ordenado mínimo. É inaceitável que estes beneficiários de tudo e mais alguma coisa ainda querem que os seus T2 e T3 a “quatro ou cinco euros mensais” lhes sejam dados em zonas “onde não haja pretos”. Não é o sistema em Portugal que marginaliza comunidades. O sistema é que se tem vindo a alhear da realidade e da decência e agora é confrontado por elas em plena rua com manifestações de índole intoleravelmente racista e saraivadas de balas de grande calibre disparadas com impunidade. O país inteiro viu uma dezena de homens armados a fazer fogo na via pública. Não foram detidos embora sejam facilmente identificáveis. Pelo contrário. Do silêncio cúmplice do grupo de marginais sai eloquente uma mensagem de ameaça de contorno criminoso – “ou nos dão uma zona etnicamente limpa ou matamos.” A resposta do Estado veio numa patética distribuição de flores a cabecilhas de gangs de traficantes e auto denominados representantes comunitários, entre os sorrisos da resignação embaraçada dos responsáveis autárquicos e do governo civil. Cá fora, no terreno, o único elemento que ainda nos separa da barbárie e da anarquia mantém na Quinta da Fonte uma guarda de 24 horas por dia com metralhadoras e coletes à prova de bala. Provavelmente, enquanto arriscam a vida neste parque temático de incongruências socio-políticas, os defensores do que nos resta de ordem pensam que ganham menos que um desses agregados familiares de profissionais da extorsão e que o ordenado da PSP deste mês de Julho se vai ressentir outra vez da subida da Euribor.

Como disse no início, subscrevo na sua totalidade, coincidência das coincidências, defendi os mesmos pontos esta semana em conversa com alguns dos meus colegas de trabalho (aqueles que estão cheios de boas intenções e soluções, mas que jamais aceitariam acolher umas quantas destas famílias no seu prédio ou bairro e que na realidade querem é a maior distância possível deste tipo de problemas) e fui acusado de ter pensamentos racistas, xenófobos e nazis.
Pois bem só tenho mais um ponto que gostaria de acrescentar, o Artigo 13.º (Princípio da igualdade) da Constituição da República Portuguesa:
1 РTodos os cidaḍos t̻m a mesma dignidade social e ṣo iguais perante a lei.
2 – Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.

Se assim é, eu que trabalho honestamente, que pago os meus impostos e que contribuo para a evolução do nosso país, também quero receber subsídios, apoios e casa ou ajuda para pagar a minha casa.
Jamais posso aceitar tanto apoio para quem nada produz, á custa do nosso trabalho, do nosso suor e sacrifício.
Não podemos continuar a aceitar esta injustiça.
Se o estado ajuda uns, tem que ajudar todos.
Acordem Portugueses, chegou a hora da mudança.
Ontem, numa reportagem sobre este bairro, apresentada num dos canais nacionais, uma pessoa de raça negra dizia “(…) enquanto vocês portugueses têm medo dos ciganos e não fazem nada, nós pretos, não temos medo deles e fazemos-lhe frente, não toleramos opressão (…)”


Não estou a desconfiar do comentário do leitor anterior. Gostaria apenas que as fontes pudessem ser identificadas de alguma forma. Se dizem que jornalista X ou Y deu esta opinião, por favor incluam uma ligação para esse artigo (ou digam em que noticiário e em que dia foi emitida).


O artigo do Mário Crespo foi retirado da edição online do Jornal de Notícias.

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