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O telefonema e a floresta


– Bom dia, podia ligar-me à Dra. Ana Salazeda, por favor?

– Hmm… isso deve ser engano. Aqui não trabalha ninguém com esse nome.

РMas ṇo estou a ligar para o gabinete XPTO da Loja do Cidaḍo?

– Não. Mas isso é um erro comum. Esse gabinete deve ter um número de telefone parecido com o nosso. De vez em quando há gente que liga para nós por causa disso.

РE essa ̩ a melhor sugesṭo que tem para me dar?!!

РDesculpe? Mas foi voc̻ que se enganou a ligar, ṇo foi?

– Pois, mas como me disse que é um erro comum…

РSim, ̩ um erro comum a ponto de algumas pessoas o cometerem ocasionalmente. Mas ṇo ṭo comum a ponto de me fazer descobrir qual o n̼mero correcto para onde essas pessoas queriam ligar.

E CLICK! Desligou-me o telefone na cara.

Isto não foi um diálogo que eu inventei. Esta foi a conversa que tive com uma senhora esta manhã. A minha empresa está junto à Loja do Cidadão das Laranjeiras, em Lisboa. E posso apenas calcular que haja para lá um gabinete com um número de telefone quase idêntico, dado que recebo chamadas destas todas as semanas. Porquê então relatar um episódio tão banal neste espaço maioritariamente dedicado às virtuosidades da inteligência humana?

Em primeiro lugar, porque a inspiração tem andado em baixo.

Em segundo lugar, porque isto é uma prova típica de que algumas pessoas (normalmente mulheres) têm de estar sempre certas, mesmo quando estão erradas.

Sim, é verdade, eu disse as palavras proibidas. Disse “normalmente mulheres”! Fiquem sabendo que, se sou feminista para algumas coisas, racista para outras e pedófilo para tantas outras, também consigo ser machista. Não quero com isto dizer que seja feminista, racista, pedófilo ou machista. Quer apenas dizer que sou um ser humano normal que – como todos os outros – se recusa a aderir a chavões linguísticos como forma de determinação conceptual do seu comportamento perante a sociedade.

Ou seja, apesar de não ser racista, não faz parte dos meus planos passar o meu tempo no Centro Comercial da Mouraria para fazer amigos com indianos e chineses. Apesar de não ser feminista, gostei mais de trabalhar com mulheres do que com homens ao longo da minha vida. Apesar de não ser pedófilo, não consigo deixar de reparar que há miúdas com 12 e 13 anos, com um ar muito precoce, que despertam em mim fantasias menos próprias. Como tal, não tenho problemas em chamar as coisas pelos nomes e representar o papel normalmente associado ao machista de vez em quando. Porque a verdade é essa: as mulheres não suportam estar erradas. Mas isso não quer dizer que não aconteça.

Lembram-se daquela brincadeira filosófica “Se uma árvore cair numa floresta e não estiver lá ninguém para a ouvir, será que realmente aconteceu?”. Na semana passada ouvi uma variação engraçada: “Se um homem disser aquilo que pensa numa floresta e não estiver uma mulher por perto para o ouvir, será que mesmo assim ele ainda está errado?”
Estas piadas devem existir por algum motivo, não é?
(nem falemos sequer do anúncio da Eva Longoria e do gelado Magnum, em que ela parece tirar tanto prazer do gelado como duma mensagem de voice mail em que a voz dum homem admite estar errado e afirma a razão dela. Já viram esse anúncio?)

Todos os dias a minha cabeça anda ocupada com uma questão. É um pequeno exercício mental que faço. Acordo e penso “Porque é que o céu é azul?” ou “Porque é que as mulheres não têm um terceiro mamilo para alimentar trigémeos?”. E passo o resto do dia a inventar possibilidades e respostas.
A pergunta do dia de hoje, subdividida em duas (e que não tenho pretensões de ver respondidas) é “Será que as mulheres não suportam estar erradas porque estão geneticamente programadas dessa forma? Ou é porque se consideram superiores aos homens, o que faz com que se sintam duplamente humilhadas com os seus erros?”

É claro que não podemos cair no erro de generalizar excessivamente. Conheço muitas mulheres que não são assim. Mulheres que se comportam como homens na sua forma de estar na vida. E vice-versa. Não quer dizer que uns sejam melhores que os outros. Quer apenas dizer que somos diferentes.

E estas diferenças são interessantes. São o sumo da vida. Não só porque a diversidade é uma coisa importante. Mas também porque fornece matéria-prima para posts em dias de fraca inspiração.




Tens razão, mas realmente não te custava nada saber o nº de telefone da Loja do Cidadão. Passava a ser a tua boa acção semanal para ganhares um bocadinho de céu azul.
Já agora, ouvi dizer que estás um borracho com quase 40 Kg a menos.


Não são 40 kg a menos. São 32 kg (por enquanto). E o “borracho” esteve sempre cá! Só estava era escondido por trás das banhas… 😉

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