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O outro lado do terrorismo

Como o outro dizquedisseiro, André Toscano, notou no post anterior (vá lá lê-lo, que o pessoal não anda para aqui a escrever para ser ignorado!), um volume suspeito levou ao fecho da estação de Metropolitano de Telheiras, lançando o histerismo em boa parte da população lisboeta (uns quantos porque estavam com medo dos diabólicos terroristas, e os outros porque queriam ir para os locais de emprego e não podiam).

(Agrada-me a expressão “volume suspeito”. Pessoalmente, sempre desconfiei dos 250 centímetros cúbicos…)

Parece que o tal “volume” era uma mochila abandonada. A primeira questão que se levanta é esta: quem é que decide, quando uma mochila é encontrada num local destes, o que fazer com ela? Duvido que a decisão de chamar a Brigada de Minas e Armadilhas (e, consequentemente, de fechar toda uma linha do Metro durante uma data de horas) tenha partido do funcionário que encontrou a tal mochila. Pelo contrário, eu desconfio que, quando confrontado com esta situação, o indivíduo em questão deve ter ligado para os “Perdidos e Achados”, e dito qualquer coisa do género:

– Fernandes, tenho aqui em Telheiras uma mochila abandonada. Como é? Mando isso para aí ou quê?

Ao que o Fernandes terá respondido:

– Eh pá, nós já temos aqui tanta tralha… Chama mas é a brigada das bombas, que ainda noutro dia os espanhóis avisaram que Portugal era bem capaz de sofrer um atentado…

E assim foi. Lá veio a Brigada de Minas e Armadilhas que, expeditamente, detonou a mochila suspeita.

(Não me agrada a expressão “Brigada de Minas e Armadilhas”. Tenho um trauma com aquele programa idiota de apanhados que houve, em tempos. As pessoas que trabalham na Brigada de Minas e Armadilhas já têm chatices suficientes por nunca saberem quando é que vão ficar sem um braço ou qualquer outro apêndice corporal. Não precisam de ser constantemente associados a essa aberração televisiva).

E pronto. Menos uma mala suspeita! Já podemos voltar todos às nossas vidas, em segurança e com a satisfação de termos lidado eficazmente com esta possível ameaça terrorista.

Mas, então e as verdadeiras vítimas deste caso? Ninguém pensa nelas?!

Por causa disto, houve aí um puto qualquer que ficou sem o estojo da Hello Kitty, e sem o livro de Físico-Quimicas. Ninguém se lembra dele?

Como é, Senhores da Guerra? Valerá isto tudo a pena, afinal? Confrontamo-nos com a mais funda monstruosidade do Homem, quando pensamos nas lágrimas desta criança (cujo único crime foi o de esquecer-se da mochila na estação do Metro!) que vê o seu estojo da Hello Kitty reduzido a um fumegante pedaço de metal retorcido, e o seu livro de Físico-Quimicas transformado num farelo de papel chamuscado.

Não ao terrorismo! Sim à paz!

ACTUALIZAÇÃO: De acordo com este órgão de comunicação social, o que afinal estava dentro da mochila eram “fios, discos e aparelhagem electrónica”.
Bom, cada caso é um caso, mas se os discos fossem, por exemplo, da Ana Malhoa ou dos Alémmar, então poderá dizer-se que, de facto, houve ali uma acção anti-terrorista.




Grande coisa. Todos os dias aqui na escola ficam (várias) mochilas abandonadas e ninguém fecha nada.

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