siga-nos nas redes
Facebook
Twitter
rss
iTunes

Humor de casa-de-banho IV

Umas empresas de comércio de águas engarrafadas lembraram-se, há tempos, de lançar uns produtos novos no mercado que prometem (ou, pelo menos, suponho que fosse essa a ideia) revolucioná-lo.
De uma forma geral, a coisa funciona assim: pegam na água que sai da nascente, juntam-lhe uns sabores e umas fibras, e metem-na dentro de uma garrafa com um rótulo a chamar a atenção para os benefícios, “cientificamente comprovados”, dessas mesmas fibras. Parece que são boas para fazer o intestino trabalhar.

Este novo produto tem estado a gerar um certo entusiasmo naquilo a que se costuma chamar “a sociedade civil”. Isto é particularmente surpreendente porque o mercado das águas não costuma ter o condão de mobilizar as gentes. Desta vez, é diferente! E é por isso que me custa vir para aqui encarnar o papel do desmancha-prazeres. Mas a verdade tem de ser dita, doa a quem doer! E a verdade é esta: criar uma água com um sabor esquisito e que faz ir à casa-de-banho não é assim uma invenção tão genial como isso.

Eu, por exemplo, consigo fabricar este tipo de produto aqui no conforto do meu lar. Basta encher uma garrafa qualquer com água da torneira, e depois pô-la ao sol durante umas semaninhas. Na maior parte das vezes, o resultado é uma coisa com o seu quê de vistoso: o musgo que a água ganha dá-lhe outra vida…
Mas o melhor destas águas é que nem sequer é preciso esperar tanto tempo. É que águas com um sabor esquisito e que fazem ir à casa-de-banho são coisas que se encontram com facilidade por aí, a correr livremente. Eu, assim de cabeça, consigo lembrar-me de uns três ou quatro rios e ribeiros ricos neste tipo de recurso, só aqui perto de onde moro.

Confesso que estou a pensar em aventurar-me neste mercado. A seguir ao almoço, vou agarrar nuns quantos jerricans, e vou até ali ao rio que passa por Odivelas fazer uma colheitazinha. Antes de começar a comercializar o produto, vou fazer uns testes junto de pessoas amigas (por enquanto…), só para ter a certeza que funciona. Imagino que terei conversas que serão qualquer coisa deste género:

Eu: Estou? Então, pá! Estás porreiro, ou quê?

O outro: Olhó gajo! Cá se vai andando… Olha, experimentei a tua água!

Eu: E então?

O outro: Pá, espectacular! Bebi a garrafinha e, nem um quarto-de-hora depois, já estava a correr para a casa-de-banho! Limpou-me o intestino todo!

Eu: Grandes notícias!

O outro: São, são. Só é chato é o hálito com que um gajo fica… Mas, de resto, fabuloso. Olha que a tua água pode ser de nascente, mas o meu rabo é que parecia uma nascente, tal era a fúria com que o esguicho saía!

Eu: Sim, senhor… Então e de resto? Está tudo bem?

O outro: Sim, o médico diz que devo ter alta amanhã!

Eu: Força nisso!

O outro: Ok! Abraço!




Rios? Ribeiros? Então e nas torneiras? Ainda há pouco tempo a água de Arruda dos Vinhos e concelhos limítrofes, fazia ir ao W.C. e de que maneira. Agora parece que a milagrosa água já apareceu no Alentejo.É gente invejosa…


É absolutamente verdade. E, se querem a minha opinião, acho mal!

Uma coisa é ser eu a querer parasitar este mercado das águas com sabor esquisito e que fazem ir à casa-de-banho. Outra coisa, muito diferente, é serem empresas e organismos públicos a fazerem-no.

Empresas de água engarrafada vendiam água “normal”, vieram estes gajos e vai de por água “normal” em todas as torneiras por esse país fora; agora, as empresas de água engarrafada inventam esta água com sabor esquisito e que faz ir à casa de banho, e vêm outra vez estes gajos, por água com sabor esquisito e que faz ir à casa-de-banho nas torneiras por esse país fora. Já é imbirração!

Deixe o seu comentário