“O país está doido!”. Não fui eu que o disse, até porque acho que o nosso país está perfeitamente saudável em todos os quadrantes. Começando na Saúde e Educação, passando pela Justiça e terminando na Economia, o nosso país é – sem dúvida alguma – um exemplo a estudar e imitar.

Quem disse que o “país está doido” foi Pedro Santana Lopes, na sua entrevista de ontem à SIC Notícias, a qual decidiu abandonar após ter sido interrompido pela notícia da chegada do José Mourinho ao aeroporto. (clique aqui para ver o video no YouTube)

No meu entender, foi um pouco despropositado. Afinal, ele apenas tinha sido convidado para dar as suas opiniões sobre o sistema político nacional, o futuro do país em 2009, as directas do PSD, enfim; todo um conjunto de coisas desinteressantes e aborrecidas para a maior parte dos portugueses.

Eis então que, sem qualquer aviso prévio, a sua entrevista é interrompida pela pivot da SIC Notícias para noticiar o grande evento – esse sim, repleto de interesse e digno de cobertura jornalística – da chegada de José Mourinho ao aeroporto! Brilhante! Nada como assistir a um aparato de câmaras e repórteres, a tentar perseguir um treinador de futebol em direcção a um taxi, para nos aliviar da ingrata tarefa de pensar nos assuntos de Estado. E depois ainda dizem que a nossa televisão não tem qualidade.

Na realidade, nunca nutri especial admiração por Pedro Santana Lopes. Até à noite de ontem. O homem mostrou que os tem no sítio e que há princípios pessoais dos quais não devemos abdicar. O que só vem reafirmar a minha teoria sobre a classe política: nem todos são más pessoas. E quando generalizamos demasiadamente, corremos o risco de parecer daqueles grunhos que desconfiam intrinsecamente de toda a gente, que acham que o Estado só os quer roubar e que lêem (e comentam no site do) Correio da Manhã.

Infelizmente, este episódio também reafirmou um pouco a minha opinião sobre a SIC, um canal de televisão que parece ter começado bem e com uma invulgar aura de profissionalismo quando apareceu no mercado (ao contrário da TVi, que foi sempre um canal mau), e que – vá-se lá saber como ou porquê – se deixou transformar num canal completamente pimbalhoco e sensacionalista.

No fundo, o que é que podíamos esperar quando, após o episódio do abandono de Santana Lopes, a melhor coisa que o director-adjunto de informação da SIC, Ricardo Costa, soube dizer foi que a reacção de Santana Lopes foi inusitada e desproporcionada”? (clique para ler a notícia no Público). Nem um pedido de desculpas ou admissão de responsabilidade. Nada!

É caso para perguntar se, com jornalismo desta qualidade, valerá a pena andar informado? É que nós percebemos que os jornalistas gostem de “brincar às televisões”. Provavelmente, muitos deles já sonhavam com isto desde pequenos. Treinavam em frente ao espelho aquelas poses de braços cruzados, sonhando um dia aparecer numa promo da SIC Notícias, conceptualmente copiada à CNN (e que rico exemplo foram logo eles escolher para copiar…). Mas há aqui gente deste lado a assistir às coisas, ok? Façam lá as vossas promos pirosas, contem-nos como o “país acordou para o mundo” um destes dias, convençam-se que têm uma responsabilidade do caraças em “trazer a notícia até ao público”; mas quando entrevistarem alguém, não os interrompam e deixem-nos falar, porra!

Houvesse mais casos destes, e talvez os editores de informação se lembrassem de respeitar mais os seus entrevistados, tal como os seus telespectadores. É que – a ver pelas centenas de comentários de apoio a Santana Lopes que circulam pela net – não foi apenas ele que ficou fodido da vida.

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