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A confusão do aborto

Há questões para as quais os cidadãos são chamados a votar que são intrinsecamente complexas. É o caso das eleições autárquicas, por exemplo. Que capacidades é que a maior parte dos cidadãos tem para tomar decisões informadas sobre um assunto desses? Colocando a pergunta de outra forma, que percentagem da população é que tem conhecimentos para tomar uma decisão consciente quando vota no partido A ou no partido B? A maior parte não tem, mas isso não impede os partidos de recorrerem a inúmeras artimanhas de campanha para tentar simplificar (demais) a escolha.

Já a questão da despenalização do aborto é outra história. É uma questão simples para a qual a maior parte das pessoas tem uma opinião definida. No entanto, isso não impede a comunicação social e os militantes do “Sim” e do “Não” de tentarem fazer da questão um assunto complexo e de nos atirarem areia para os olhos.

E a questão é simples porque ambos os lados têm razão. Apenas têm razão a níveis diferentes. Um dos lados favorece a liberdade de escolha dos cidadãos e a não criminalização das mulheres que – vítimas de circunstâncias adversas – enveredam pela via do aborto. O outro lado defende a vida e os direitos de um ser que, por não ter capacidade de se defender, precisa de alguém que o defenda.

Em que prato da balança é que queremos assentar o rabiosque? No lado que favorece a liberdade do indivíduo? Ou no lado que favorece o direito à vida de um ser que ainda não tem personalidade jurídica?

É com tristeza que se repara que, ao tornar esta simples decisão numa questão política, ambos os lados recorrem às jiga-jogas do costume, utilizam frases-chave sonantes em tom de sugestão, aplicam as regras mais conhecidas das teorias de jogos, etc. Existe hipocrisia de ambos os lados.

Os apoiantes do Sim
Estes favorecem a liberdade e não criminalização da mulher. No entanto, não podemos descurar o facto de que abortos feitos em instituições hospitalares estatais incorrerão, de facto, numa sobrecarga dos nossos serviços de saúde. Para além daquela bota (que é preciso descalçar) de que uma parte dos médicos se tornarão objectores de consciência, o que é outra forma de dizer que uma eventual Lei poderá ser parcialmente cumprida por uns, ignorada por outros. Isso só servirá para fomentar divisões entre os médicos. E se há classe profissional que eu gostaria que estivesse sempre contente e de acordo e em comunicação constante, é sem dúvida a classe médica.

Não esqueçamos a hipocrisia política por detrás deste assunto. O PS tem maioria no parlamento, e teria o apoio da esquerda para fomentar directamente a Lei da despenalização. Mas decidiu mandar a responsabilidade para cima dum referendo e colocar a decisão nas mãos do Zé Povinho. E agora gasta dinheiro (de todos nós), em campanhas pelo Sim, como quem está particularmente interessado em resolver a questão. Se o PS quisesse mesmo resolver a questão, não o teria feito logo? Não. É mais fácil deixar-nos a nós, cidadãos, à luta pelas nossas opiniões e a dividirmo-nos uns aos outros em facções idiotas, do que meter logo o dedo na ferida. Por outras palavras, a falta de tomates do governo que temos é a principal responsável por toda esta situação.

Os apoiantes do Não
É aqui que se encontra a maior hipocrisia de campanha.
Comecemos por aquele cartaz sonante que se encontra espalhado por todo o lado.
“Abortar por opção sabendo que já bate um coração. Não obrigada.”

Vamos analisar esta frase?
Em primeiro lugar, o referendo não é sobre o aborto. É sobre a despenalização ou descriminalização de mulheres que efectuaram abortos. O que a frase dá a entender é que o aborto não é uma prática aceite. Mas toda a gente sabe que se fazem abortos diariamente. Ora se o problema do aborto clandestino existe, não seria de lidar directamente com ele, em vez de o ignorar? Não vale a pena combatê-lo. Vai continuar a existir. Não seria melhor tratar a questão como um assunto de saúde pública e desemburrar logo de uma vez?

Depois, os abortos em caso de violação ou mal formação do feto são permitidos, porque constituem casos excepcionais. Pelos vistos, para os apoiantes do Não, o coração duma criança vitimada por uma violação ou mal formação já não merece bater. Não, eles sem dúvida que se referem “àqueles corações” que batem porque as mães foram umas descuidadas e umas badalhocas. Essas sim, têm de ser penalizadas e ir para a cadeia. Porquê? Bem,… er… porque foram umas badalhocas e umas descuidadas! Se tivessem sido violadas ou se estivessem a gerar um filho deficiente, a questão do “coração que bate” já não se colocava. O que nos leva a crer que, para os apoiantes do Não, há corações bons e corações maus.

E há ainda um pormenor interessante naquela frase. Alguém consegue reparar na diferença entre as duas respostas seguintes?

“Não, obrigada.”

“Não obrigada.”

Aquela vírgula parece ser uma coisinha de nada. Mas, na realidade, transforma completamente o sentido da frase.
É que na primeira opção, quem responde à pergunta, primeiro diz que “Não”, e depois agradece. “Não, obrigada”.
Na segunda opção (aquela que está nos cartazes por aí espalhados), a pessoa apenas responde que “não fará um aborto obrigada”. “Não obrigada”. Quase que se pode substituir o “Não” por um “Nunca” e a resposta continua a fazer sentido (ou o sentido que os apoiantes do Não querem a frase faça).
E quem é que está atento ou denuncia estes pequenos pormenores? Estes coisas actuam a um nível subliminar e passam praticamente despercebidas (pelo menos conscientemente). São difíceis de ser provadas. Pode até ter sido o resultado do fraco domínio da Língua Portuguesa por parte de quem concebeu a frase. Por isso, não é natural que se oiça falar nestas coisas.

É de lamentar também o envolvimento da Igreja. Não é que não deva emitir opiniões sobre o que bem entender. Afinal, a Igreja também tem de vender o seu peixe. E se as pessoas começarem “a fazer abortos quando lhes apetece” (vigora por aí a ideia que um aborto é uma coisa que se faz de ânimo leve…), isso são más notícias para a Igreja. Significa que, no espaço de uma ou duas gerações, vão perder grande parte dos seu fãs. Fãs esses que são constituídos essencialmente por pessoas de classe baixa, ignorantes, pertencentes a famílias sem planeamento familiar, e tementes do conceito de Deus. Se logo esses que são o seu maior ganha-pão começam a abortar e a deixar de ter filhos, a Igreja tem o caldo entornado!

Então, em quem é que se vota?

Bem, a escolha é sua. E a questão é simples, como vê. Apenas se encontra muito empoeirada graças a algumas facções que insistem em considerar que se trata “duma matéria complexa”. Mas não é nada complexa. Ou você é a favor da vida de um ser que ainda não nasceu, ou é a favor da liberdade de escolha daquele ser que já cá se encontra.

Pessoalmente, acho que há gente a mais no mundo. A mim não me faz a menor diferença que se termine uma vida que ainda não está formada. Prefiro mil vez mais continuar a ter uma vida decente com a mãe da criança que não nasceu, do que ter uma vida miserável com uma criança que não foi desejada. Aliás, acho mesmo que o aborto devia ser permitido, não até às 10 semanas, mas até aos 14 anos!
Isto manda-nos para outra discussão filosófica. Deveria ou não ser permitido assassinar crianças ou adolescentes de forma a evitar que comprem merchandising da Floribella e discos do João Pedro Pais?

Só mais uma pequena ressalva para terminar. Conhecem aquela expressão inglesa “It takes two to tango”? Onde é que estão os homens no meio desta conversa? Se a mulher vai presa porque decidiu abortar clandestinamente, o homem que lhe largou a semente não devia ser penalizado também? Afinal, apesar dele não ter feito o aborto, foi ele o causador da situação, certo? Pelo menos, seria justo repartir as culpas. Ui! O melhor é nem mexer neste assunto. Senão então é que teríamos um referendo realmente complexo! Mas, sem dúvida, muito mais interessante de assistir.

Por isso, como homem preocupado e que não ser penalizado pelas pinocadas que anda por aí a dar, vou votar no Sim. É deixá-las abortar à vontade, meus amigos machos! Enquanto isso acontecer, pelo menos não nos lixam a nós!

Adenda: cliquem aqui para ler uma notícia deliciosa que saiu no DN de hoje. Ao que parece, os fetos abortados vão directamente para o “céu” e conseguem mandar cartas de volta! Isto é marketing realmente inovador! 10 pontos extra só pela parte das “entranhas”! Verdadeiramente hilariante!! Hmm… cheira-me que o próximo filme dos X-Men vai ter fetos abortados com poderes especiais à mistura…




Assim é que deve ser: tentar perceber os dois pontos de vista da questão e tomar uma opção, consciente de tudo o que está por detrás do assunto. Pessoalmente, também eu vou votar no “sim”, não porque veja na IVG mais um método contraceptivo, mas sim como uma última via quando todos os outros métodos (que devem ser promovidos) falharam. E depois, como o André Toscano diz, não acredito que haja quem aborte de ânimo leve. E acho que, para evitar esse erro, devem ser tomadas medidas para que o casal seja acompanhado e que se leve o mesmo a reflectir sobre o que vai fazer.

Agora, enveredar pela via que é descrita no DN, a via do medo, do castigo divino, da ignorância é que me parece inconcebível. Ainda por cima quando se usam as crianças para atingir um fim.

Sei que o comentário já vai longo, mas gostaria de deixar uma pergunta no ar, para quem quiser e souber responder, uma vez que ainda ninguém me esclareceu.

A Lei n.º 90/97 de 30 de Julho, que altera os prazos de exclusão da ilicitude nos casos de interrupção voluntária da gravidez, reescreve o Artigo 142.º, 1 c), da seguinte forma:

“Houver seguros motivos para prever que o nascituro virá a sofrer, de forma incurável, de doença grave ou malformação congénita, e for realizada nas primeiras 24 semanas de gravidez, comprovadas ecograficamente ou por outro meio adequado de acordo com as leges artis, excepcionando-se as situações de fetos inviáveis, caso em que a interrupção poderá ser praticada a todo o tempo.” (cf. http://www.fd.uc.pt/hrc/enciclopedia/portugal/
legislacao/vidaintegridadefisica/90-97.pdf)

Já agora, a nova versão deste artigo, caso o “sim” ganhe no referendo, encontra-se aqui

http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=12&id_news=260146

Como se pode ver, este ponto (que nesta versão passa a ser o d)) mantém-se inalterado.

Agora a minha dúvida: se às 10 semanas um feto é inviável, qual a razão de ser do referendo se aparentemente já está prevista na lei a IVG, em qualquer altura, no caso do feto ser inviável? E tendo em conta que um feto é inviável até à 20.ª semana (e este já é um número simpático…), não há pontos na lei que já se encontram incluídos neste caso? Ou estarei a interpretar mal o conceito de “feto viável”?. Mas tanto quanto sei a viabilidade de um feto é um conceito puramente médico e como tal deve ser usado apenas com esse sentido…


Eu se votasse, votaria Sim. Por todas as razões intensamente expostas nestas semanas nos media. Mas acho que também neste caso se vê a maturidade e o estado do nosso país. Se aqui se discute se a IVG deve ou não ser despenalizada (já o é em toda a UE…boa Portugal!), nos EUA discute-se se o feto deve ser ou não anestesiado em caso de aborto às 20 semanas. Sim 20. Podem nao saber onde são, quando olham para um mapa; podem ter um Presidente daqueles; mas lá sentido civico os sacanas têm!


Será que tb temos de pedir referendos para decidir se as pessoas devem ser penalizadas por terem mau hálito????? ou por não tratarem dos dentes?????
Quantas mais Danielas, Joanas, Rubens, Marianas e outros tantos nomes, teem de morrer para se chegar á conclusão que mais vale um aborto que uma criança infeliz????
Será que é preferivel aumentar o nº de crianças abandonadas? Claro que é. Mais crianças abandonadas quer dizer mais centros de acolhimento, mais CPCJ, mais Assistentes Sociais, Mais gente a ganhar dinheiro…. para além de que assim os pais dessas crianças smp teem com que se entreter…. torturá-las.
E estamos nós num pais DEMOCRÁTICO….. mas quem manda aqui são eles.
E já agora, que temos um governo com maioria , porque não decidem entre eles esta treta? Se smp teem de decidir. É que por mim isto nem merece o papel que estão a gastar…….

Eu voto SIM, pq eu tenho direito a escolher


Só para esclarecer um ponto. Perguntam porque é que nao se deve parar um coração que já bata, mas no caso de uma violação, isso já nao acontece. Pois bem, quem vai sofrer ao ter o filho é a mãe, se ela nao teve qualquer responsabilidade no acto de o fazer (como acontece na violação) ela nao deve ser obrigada a passar por todo o sofrimento de uma gravidez. Agora se ela se descuidou, e nao tomou as devidas percauçoes, vai ter que assumir os danos que o seu descuido causou.
Em Portugal infelizmente ainda nao chegaram os metodos anticonceptivos, por isso eu axo que se deve liberalizar o aborto. Muitos que vao votar sim, se a despenalizaçao já tivesse ocorrido há 50 anos atrás, talvez nunca teriam nascido. PENSEM NISSO!!!


Bem, este tipo de argumento só dá razão àquilo que menciono no post. O problema não tem nada a ver com “o coração que bate dentro da mãe”. Tem a ver unicamente com uma noção de que há gente com moral e gente sem moral.

Segundo esta forma de pensar, o coração que bate dentro da mulher que foi violada pode ser exterminado. Não é digno de viver. Pode ser desperdiçado. O coração que bate dentro da mulher que foi descuidada já tem de funcionar como uma espécie de castigo. Desculpem lá, mas isto é uma forma um bocado beata de pensar. Conservadora demais para o meu gosto porque, tendo 31 anos, nasci e fui educado sob o princípio de que a liberdade é um direito que me assiste. Nomeadamente, a liberdade de escolha sobre o possível desenrolar do meu futuro.

Já agora, porque é que continuamos com esta mentalidade de século passado que insiste que é a mulher que tem de tomar todos os cuidados? Uma queca não é dada a dois (pelo menos)? Ou não sabem que existem preservativos para os homens? Ou será que os homens não sabem perguntar se a mulher tomou os devidos cuidados antes de puxar o Zezinho para fora das calças?

Pode haver cuidados. Mas quando eles falham, e isso acontece frequentemente, a culpa pode ser tanto do homem como da mulher. E eu só acho é que, se alguém tiver de ser penalizado por isso e tiver de suportar uma criança que não desejou, que as responsabilidades devem ser divididas por quem a fez. Não passar apenas a bola para o lado da mulher, como se nós não tivessemos nada a ver com o assunto.

Ou então que se mantenha apenas a responsabilidade do lado da mulher, como vigora actualmente, mas deixem apenas as mulheres votar no referendo. De acordo com a mentalidade de alguns, se a responsabilidade é só delas, se são só elas que vão presas se abortarem, se elas é que têm de ter todos os cuidados, então os homens que as deixem votar e não metam lá o bedelho. Quanto mais não seja porque, devido ao facto de andarem lá a meter o bedelho vezes demais, toda esta situação se originou.


O senhor Andre Toscano nem sabe do que está a falar, entao nao sabe que caso a taxa de abstençao seja superior a 50% o resultado do refeerendo nao conta, isto é, mesmo que ganhe o sim vai continuar tudo como estava. Assim se só as mulheres fossem votar de certeza que a abstençao iria ser bem superior a 50%, e andavaassim o governo a gastar dinheiro num referendo para nada…
Em relação ao papel do Homem, é claro que o filho tb é dele, mas a mulher tem o dever de ser mais responsavel que o Homem, pois caso engravide quem corre riscos de saude caso queira abortar é ela e nao o Homem.


Caro amigo Lucas, eu confrontei-o com a situação hipotética de “serem apenas as mulheres a votar”. É óbvio que, se fosse esse o caso, as regras do jogo teriam de mudar de acordo com essa realidade. Não se iria manter a regra dos 50% vinculativos que vigora neste momento. Já que estamos a discutir situações hipotéticas, ao menos tenhamos o bom senso de imaginar (não custa nada) que as restantes condições também acompanhariam essa mudança.

Só continuo a não concordar com os termos de responsabilidade de homem versus mulher. É verdade que são elas que ficam grávidas, sim. Mas, para mim, isso é mais um motivo para eu ter ainda mais cuidado!
Imagine a coisa ao contrário. Imagine, por um momento, que são os homens que ficam grávidos e que têm de fazer abortos. Quantos é que iriam tolerar que a mulher, pura e simplesmente, os abandonasse às responsabilidades e aos custos envolvidos no processo? Se você ficasse grávido, gostaria de assumir todas as culpas, ser condenado a uma pena de prisão e ter de acartar sozinho com as despesas num local inapropriado e sem garantias médicas? Que merda de país seria este?! Infelizmente, é o país que temos neste momento. Ou não, dependendo do resultado de dia 11.


“gostaria de assumir todas as culpas, ser condenado a uma pena de prisão e ter de acartar sozinho com as despesas num local inapropriado e sem garantias médicas”, nao, nao gostaria, talvez por isso tivesse cuidado aquando das relações sexuais. O filho nao é obra só da mulher, e por isso o homem tem que ajudar a sustentá-lo. Agora quando a mulher quer abortar nós podemos pensar, pk é k só ela é k paga pelo descuido que cometeu? Pois bem justo seria pagarem os dois, mas como isso nao é possivel, vai ter k ser ela a pagar, pois mais injusto seria pagar o feto, pois nao tem culpa alguma no cartório.
A soluçao para os problemas dos abortos clandestinos é o Estado criar ajudas para as maes que nao tem grandes condiçoes. O país está cada vez mais envelhecido, vejo a maioria das escolas a fechar, há cada vez mais mortes que nascimentos, e se o sim for para a frente a situacçao tende a piorar.


Há uma coisa que me faz confusão: o aborto não será crime se feito até às 10 semanas. Mas com onze já é. Pergunto: quando é que se começa a contar as 10 semanas? Desde o dia da concepção? Desde o dia da 1ª falta do período menstrual? Desde o dia que o médico viu na ecografia? Se a mulher pode engravidar até 15 dias depois da ovulação como é que se vai saber se está grávida de 10 ou de 11 semanas? A não ser que só tenha tido relações sexuais 1 vez é que sabe o dia exacto em que ficou grávida; se numa semana der três quecas como é que vai saber se está de 10 semanas e três dias ou só de 10 semanas? Expliquem-me.


“eu vou fazer perguntas, e vou querer respostas.. gostavas que um dia alguem te tirasse as costas?”


Isso é alguma linha duma banda de Hip-Hop?


vou fazer outra pergunta.. e quero obter resposta.. gostavas que um dia te tratassem como bosta?


Sim, definitivamente, é a letra duma banda de Hip-hop…


Não.. A primeira frase que escrevi pertence de facto a uma letra de uma música, mas a segunda não, é uma questão formulada por mim.. (daí não ter aspas, está a compreender?).. mas eu só gostava que respondessem “sim” ou “não”, em vez de especularem sobre a origem das perguntas..
Eu voto NÃO porque sou contra qualquer tipo de discriminação, e estamos perante uma pura discriminação, onde o critério desta vez é a idade.. (Apesar de, de facto, me fazer alguma impressão a não dEscriminação..) E também porque não quero que o dinheiro dos meus impostos assim como o de todos os contribuintes, seja usado para “desenrrascar” meninas e senhoras (e os seus respectivos, claro), que se deixaram levar, por exemplo, pelo prazer duma queca sem um plástico a atrapalhar, enquanto que as listas de espera para cirurgias (essas sim importantes, e que surgem no corpo da pessoa, na maior parte das vezes, sem que estas tenham feito alguma coisa para isso acontecer) não param de crescer, e enquanto maternidades fecham e escolas “caem aos bocados”.. Não se esqueçam, ainda estão a tempo de salvar muitas vidas..


Desculpem, depois de publicar o comentário e de lê-lo, dei-me conta dum erro.. Não são as cirurgias que aparecem no corpo da pessoa, mas sim as enfermidades que vão requerer a intervenção delas! Desculpem lá.. E bom fim-de-semana..


Lá está, cada um tem a sua opinião. Tal como mencionei no post. Ambos os lados estão certos e estão a defender duas liberdades distintas. Um lado defende a liberdade de escolha da pessoa; o outro defende o direito à vida de um ser que ainda não existe. Tudo bem. Temos direito à nossa opinião, é por isso que vivemos em democracia.

Agora não me venham com essa treta do “dinheiro dos meus impostos”! É que custa muito mais manter e abrir maternidades para albergar montões de crianças indesejadas, custa muito mais criar e manter associações para acompanhar as mães e as crianças durante esse percurso, custa muito mais criar organismos que consigam gerir essa treta toda, o que no final se reflictirá em mais não sei quantas centenas de postos de trabalho para um monte de chulecos.
Se quiserem falar da despenalização e do aborto, é uma coisa. Andar a atirar areia para os olhos das pessoas com a treta do “dinheiro dos impostos” é outra. Eu acho mais piada à ideia duma mãe e dum pai felizes, em vez duma mãe e dum pai e duma criança infelizes, com apoios de merda por parte do Estado, criança essa que – dado ter sido indesejada – não terá como prioridade o afecto e o carinho que devia ter. Sabe-se lá, amiga Mélanie, se não será uma dessas crianças que, daqui a alguns anos, a vai assaltar ou assassinar quando você estiver a caminho dum parque de estacionamento qualquer.

Olhe para os países subdesenvolvidos. Gente a mais, falta de planeamento familiar nas classes mais baixas, filhos às catadupas por causa das mentalidades católicas que condenam os abortos, criminalidade em flecha. É isso que querem aqui?

Para além disso, Mélanie, a sua afirmação de que “as pessoas se deixam levar pelo prazer duma queca sem plástico a atrapalhar” só mostra que você não tem muita experiência de vida. Mesmo com todos os cuidados, os acidentes acontecem. Afinal, são acidentes, não é? E é por isso que o Estado, que eu mantenho com os meus impostos, tem a obrigação de garantir a saúde da minha companheira num estabelecimento de saúde público.

Deixe-me terminar colocando-lhe algumas questões nos mesmos termos em que colocou as suas.

Acha que as pessoas que têm cancro de pulmão não devem ser tratadas? É que a culpa pode ter sido delas, certo?

E será que as pessoas obesas não devem poder entrar nos hospitais e centros de saúde? Se não queriam ter diabetes, tivessem comido menos, certo?

Essa mentalidade de Idade Média de “se a culpa é da pessoa, ela que se vá tratar num curandeiro clandestino de vão-de-escada” não tem nada a ver com o país evoluído em que nós nos devíamos tornar. Mas se tudo correr bem, a coisa muda já amanhã. Pelo menos, na Quinta-feira, o “Sim” ia 16 pontos à frente. O que quer dizer que ainda há alguma esperança na mentalidade da maior parte dos portugueses (por estranho que pareça). Mais interessante ainda seria se toda a gente que anda a debater este assunto tirasse a peida de casa para ir votar.
Eu vou votar, e a seguir vou para o concerto de Nine Inch Nails no Coliseu (how ironic!).


Meu caro André Toscano, permita-me a intervenção, mas eu tenho vários amigos que foram criados em instituições e que hoje em dia estão muitíssimo bem de vida.. O cenário que me descreveu acerca da possibilidade de eu vir a ser assaltada ou até mesmo assassinada por uma dessas crianças, cheira-me um pouco a filme, do mais dramático que há.. Isso não tem absolutamente nada a ver, pois bandidos e vagabundos advêm dos mais diversos estratos sociais.. Assim como a questão religiosa não tem, ou pelo menos não deveria ter, nada a ver com o caso.. Isto é meramente uma questão de consciência e de valores morais.. Não vou falar no famoso coração que já bate, tampouco nas impressões digitais que lhe vão conferir a identidade para toda a sua vida (caso lhe seja concedida).. Falo apenas na responsabilidade dos nossos actos.. Milhares e milhares e milhares de pessoas que hoje existem, são fruto de gravidez indesejada.. E por isso são ladrões? assassinos? Poupe-me..
E quero deixar claro que eu não quero que a penalização, ou pelo menos a não legalização do aborto, seja uma via de castigo para a mulher “depravada”, como os defensores do SIM gostam de chamar à mulher, quando se referem ao ponto de vista do NAO.. Isso é o que menos importa.. E a questão do dinheiro gasto em abortos também é insignificante.. O que para mim está em causa, e merece preocupação, é a defesa de vidas.. Vidas! E ainda por cima vidas de quem não tem como se defender.. Referiu que o dinheiro gasto em instituições e em associações de apoio à criança e à mulher seria muito superior.. Mas que seja.. ao menos é dinheiro bem empregue.. Nem que um aborto custasse meio centimo.. Era dinheiro mal empregue.. E revoltada ficaria por saber que o meu dinheiro foi gasto em tal causa.. Respondendo ainda às suas questões.. Claro que por vezes as pessoas com os seus hábitos de vida provocam determinadas doenças.. E é óbvio que têm de ser atendidas.. Mas entenda, os seus comportamentos não comprometem a vida de outrem.. E é aqui que se baseia a essência da defesa do NAO.. A noção de Vida..


Cara Mélanie, dou-lhe razão numa coisa. De facto, foi uma manifestação de mente um pouco fechada eu ter sugerido que “as crianças indesejadas acabariam como assassinas”. É verdade que, estatisticamente falando, é isso que acontece, especialmente em classes mais pobres. Mas não devia ter usado esse argumento para generalizar o caso, e por isso peço desculpa.

Noto apenas algumas incongruências no seu discurso. Neste último comentário, diz que “[…]a questão do dinheiro gasto em abortos é insignificante.”
No entanto, no seu anterior comentário, foi você que mencionou “[…]não quero que o dinheiro dos meus impostos assim como o de todos os contribuintes, seja usado[…]”. Se a questão do dinheiro é assim tão insignificante, porque é que recorreu a esse argumento? Isto não será também uma generalização de campanha do Não?

E também discordo do facto de que certos comportamentos das pessoas não comprometem a vida de outrem. Se alguém é alcóolico, isso também compromete a minha existência. Ele pode morrer de cirrose hepática, mas eu posso levar com um carro em cima, quando o dito alcóolico regressar a casa depois duma noite de copos. Isto é apenas um exemplo em como os erros que os outros cometem também nos comprometem a nós, embora às vezes não nos apercebamos directamente disso. Logicamente, sob esta perspectiva, numa sociedade de direito todos somos responsáveis uns pelos outros.

Eu respeito a sua opinião, e estamos aqui a debater argumentos como gente grande. Eu percebo os motivos pelos quais você vai votar “Não” amanhã. E não temos de nos ofender por causa disso. Só que, pura e simplesmente, não subscrevo esses motivos. Apenas porque acho que, se as mulheres forem penalizadas e aprisionadas e correrem riscos de saúde porque tomaram a opção de interromper uma gravidez, a mensagem que eu recebo é que a sociedade está mais preocupada com uma vida que ainda não existe, do que com a vida que já cá se encontra.


Vamos ser realistas… O aborto é praticado regularmente, apesar de ser proíbido. E dificilmente alguém vai fazer um aborto só porque já é legal. A despenalização vai evitar que seja feito clandestinamente e em condições precárias, muitas vezes até após as 10 semanas, com graves riscos para a saúde da mulher.

Se se quer realmente reduzir o número de abortos, a solução passa mais por combater a gravidez indesejada, com melhor educação sexual e melhor informação sobre métodos contraceptivos.


Bem, deixe-me dizer-lhe, amigo André Toscano, que ler o termo “estatisticamente falando”, minutos após ter lido o seu post acerca da temática das estatísticas, é no mínimo hilariante.. E quanto à questão de eu ter denominado por “insignificante” o dinheiro gasto em abortos, o que eu queria dizer é que comparado com o que está em causa, esse argumento perde imediatamente força.. mas claro que não deixa de ter peso.. e ainda respondendo ao que o seu comentário aborda, é claro que um alcoólico põe em risco a vida dos outros, mas como referiu e bem, não duma forma directa, consciente.. quando falamos em interrupção da gravidez (a falar nisso, que termosinho rasca arranjaram.. que eu saiba interrupção é uma suspensão temporária de algo.. e quando falamos em interrupção da gravidez, falamos sim é na extinção, pois ela não pode ser retomada..) falamos na extreminação (gostava de saber tal como o senhor, colocar em negrito alguns termos) de um ser..
Mas deixe-me sublinhar que tenho plena consciência que estamos perante argumentos válidos em ambas as partes, defendidos por seres portadores de racionalidade, e que é necessário e peremptório respeitar a posição dos outros..


Esta história de respeitarmos as opiniões dos outros é muito gira. É um comentário engraçado para se colocar no final duma mensagem crítica, um pouco como forma de desculpabilizar alguma coisa que possa ter caído pior, não é?

Mas a verdade é que todos nós sofremos do mesmo mal. Temos esta mania irritante de que a nossa opinião, graças a algum laivo de iluminação, é a mais correcta da discussão. Isto não vai mudar por mais que continuemos a admitir que é preciso respeitar as opiniões dos outros. O facto é que eu acho que você está errada, e você acha que eu estou errado. Podíamos estar dois anos a confrontar argumentos.

Se quer falar de sociedades evoluídas e respeito pela vida, falemos então duma coisa chamada tolerância. Sabe o que significa? É algo que a Igreja, ao longo da sua sangrenta e manipuladora história, nunca conseguiu aprender.
É giro fingirmos que somos dotados dum sentido de moral para poder julgar os outros. Há pessoas que se descuidam e que não gostam de foder com preservativo. Uau! Big fucking deal! Eu não gosto de foder com preservativo. Metade do gozo vai-se embora. O que se passa é que, com esta treta do aborto, estamos a falar dum problema social (quando você souber escrever a palavra “exterminação”, eu ensino-a a colocar coisas em negrito).

E os problemas sociais vêm com o progresso. É assim e sempre foi na história de todos os países mais evoluídos que o nosso. Os problemas sociais não se resolvem. Lida-se com eles.
Este referendo não é sobre o facto de se poder ou não fazer abortos: os abortos já se fazem! Este referendo é sobre a necessidade, ou não, de aprisionar as mulheres que os fazem. Porquê? Porque se tem de tentar lidar com os problemas sociais que afligem a população e semear a tolerância, em vez de tentar erradicá-los utopicamente e distribuir castigos. Nenhum país o conseguiu até agora.

Este assunto não deve ser muito diferente da criminalidade em geral. Alguns falam que se deviam melhorar as condições de vida das classes mais desfavorecidas para tentar eliminar a criminalidade. E isso é verdade. Mas é uma suposição meramente utópica. Ainda que algum trabalho seja feito nesse sentido, é preciso continuar a lidar com o outro lado da questão que nos afecta dia após dia.

Com o aborto eu acho que é a mesma coisa. É giro dizer que devia haver mais apoios e mais aconselhamento para as mães e respectivos filhos. Mas não há, porra! Nós não vivemos no pretérito imperfeito, pois não? Nós vivemos no país em que vivemos. E os apoios não existem e, ainda que existam, nunca são suficientes. E temos de lidar com o problema do aborto agora, porque há mulheres a morrer vítimas de parteiras de vão-de-escada com agulhas de tricot infectadas! Isto cabe nos cornos de alguém?

Sim, melhorem as condições de vida das mães, e pais, e filhos, e sobrinhos, e pobrezinhos. Mas enquanto essa meta inatingível não for vislumbrada no horizonte, vamos lidar um bocadinho com o país real do presente, não?

Em todo o caso, fico contente por saber que anda a ler o DQD e a descobrir referências que me possa atirar de volta. Podia sentir-me encavacado mas, na verdade, estou-me um pouco nas tintas. Sinto quase um orgulho um pouco imbecil. Não sou jornalista nem político e, felizmente, a falta de congruência (ou não) dos meus discursos, essa sim, não afecta ninguém directamente. Faz parte da liberdade de se ser um insignificante que mais não faz do que mandar opiniões para a internet disfarçadas de sabedoria pessoal.


lol Desculpe-me, mas se aqui alguem atacou directamente alguem, ao ponto de a ofender, esse alguem foi o senhor, por exemplo, na seguinte passagem: “O que quer dizer que ainda há alguma esperança na mentalidade da maior parte dos portugueses (por estranho que pareça).”.. Tipo, como se as pessoas que apoiam o NAO fossem desprovidas de mentalidade.. Por acaso esta a insinuar que eu sou uma atrasada mental?!
Não necessita de ser tão agressivo e de se enervar.. Logo à noite já se sabe o resultado, e quer ganhe o SIM, quer ganhe o NAO, o que eu quero é que Portugal va para a frente, e creio que esse é o objectivo de todos.. E sim, andei de facto a ler algumas coisas daqui, ate fiz download de duas cenas “ménage a trois”, e gostei.. E não é pelo facto de termos opiniões diferentes num assunto, que temos de nos insultar..
Va, fique bem, assim como todas as pessoas que por aqui passam.. E já agora, desculpe-me o erro ortográfico e eventuais incongruências, mas é que eu tampouco sou jornalista ou política.. Sou uma mera estudante do 12ºano.. Abraço..

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