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Religião ao Metro

Todos os dias de manhã, quando vou apanhar o Metro, deparo-me com o mesmo quadro: duas velhinhas Testemunhas de Jeová, ao pé da entrada da estação, tentam chamar a atenção do transeunte, e conquistá-lo com as beatíficas verdades desta confissão.
Diferentes pessoas terão diferentes sensibilidades quanto a isto. Uns poderão elogiar a devoção religiosa destas senhoras, outros poderão admirar a sua perseverança, alguns ainda poderão julgar que, no fundo, nada move estas idosas senão o sádico desejo de atazanar o espírito de quem vai trabalhar.
Pelo que me toca, vejo a questão de forma diferente: o que estas simpáticas velhinhas tementes a Deus fazem é batota.

De certeza que isto parecerá tudo muito bem à comunidade de que fazem parte. Lá na Igreja, serão seguramente apontadas como exemplos de devoção e assiduidade teológica. “Botai os olhos nas nossas irmãs Cremilde e Felisberta, e no seu trabalho de fé: ali, todos os dias, a enfrentar o frio matinal em nome do Sagrado!”.
Mas não! A verdade é outra. A verdade é monstruosa. Estas velhinhas estarão a incorrer naquilo a que se poderá chamar de “fraude teológica”, na medida em que estão conscientemente a enganar a comunidade religiosa de que fazem parte. Estas senhoras não querem, de facto, converter pessoas ao Testemunhismo de Jeová (enfim, eu até consigo compreender a atitude: se fosse comigo, o trabalho de andar a falar com pessoas sobre isto também era coisa que dispensava bem). Se quisessem, não iam para a porta do Metro às oito da manhã de um dia de trabalho!
Argumentar-se-á que talvez seja preferível enfrentar a ira do patrão, do que enfrentar a ira divina (e talvez arriscar uma eternidade nos confins eternos do inferno), mas o problema é que a justificação a apresentar não será nunca grande coisa: “Chefe, desculpe lá o atraso, mas estive a ouvir com atenção as razões pelas quais a sociedade está em decadência, e como ainda é possível contrariar este declínio com o recurso a Deus. Olhe, está tudo aqui nestas revistinhas!”.

Acho que é mais uma desculpa para se encontrarem ali, falarem um bocadinho sobre as novelas e o “Aqui há Talento”. Só têm de fazer uma pausazita muito de vez em quando para fingir que estão a tentar converter alguém. Estão lá umas horitas, e depois podem ir para casa assistir ao programa do Goucha, com a tranquilidade de quem cumpriu com as suas obrigações. É que, na realidade, o “número” nem sequer está assim tão bem montado. Parece-me mais ou menos evidente que as senhoras não se esforçam particularmente por atrair as pessoas que passam. Ninguém da Igreja dá por isso porque, evidentemente, isto passa-se tudo muito cedo (e os outros membros ou estão a dormir, ou estão a ir para o trabalho). Eu passo lá todos os dias, e só ao fim de umas vinte ou trinta passagens é que elas tentaram dizer-me qualquer coisa. E nem sequer insistiram muito:

– O Sr., olhe…
РṆo, obrigado.
– Certo! Bom dia! (…) Então e, oh Cremilde, viste aquela que foi imitar uma libelinha doida?




Vá de retro, Satanás. Que gente mais chata. Que ódio. E quando aparecem ao Domingo de manhã? Só não as estrangulo porque vou presa. Párias.


Os Jeovás são uma estrutura empresarial, á semelhança de outras confissões, que de religioso tem pouco.

Recebem comissões por cada contacto efectuado, e prémios por cada convertido. Assim como o dizímo (contribuição mensal obrigatória, mas voluntária, calculada consoante os rendimentos do acólito), serve para investimentos financeiros diversos (alguns no minimo, questionáveis) e para bens de primeira necessidade dos lideres da organização, coisas como BMW serie 7 com motorista.

Não foi a Herbalife ou a Amway a inventar as vendas em pirâmide.

Mas que são melgas, são.


14:50 – faltam dez minutos para o banco fechar. “É pá, estou atrasada! Mais um minuto e não consigo levantar o cheque. Depois, só 2.ª feira…”
– Menina, sou o seu salvador!
– Ainda bem! Pode-me ajudar a depositar o meu ordenado? É funcionário do banco?
– Não. Sou Testemunha de Jeová e vim salvar a sua alma!
– Nesse caso, não me pode ajudar…
– Veja esta lindíssima brochura, finamente impressa a 16.000 cores na nossa gráfica da Baixa da Banheira! É nesta terra que poderá viver…
– Está a dizer-me que o paraíso é na Baixa da Banheira? Estou impressionada!
14:55
– Bem, não estou mesmo interessada…
– Não gostaria de viver no paraíso?
– Há lá bancos?
– Não será preciso dinheiro. Deus providenciará tudo o que precisarmos.
Ao cagagésimo segundo das 14:59:
– Oiça, tenho de entrar no banco, senão fecham a porta…
– Vai deixar que Deus lhe feche a Sua?
– Tudo bem, desde que consiga levantar a porra do cheque.

– Lamento informar mas o banco já encerrou os seus serviços de caixa. Poderá optar pelo depósito automático nas nossas caixas ATM.
Porque é que teria de ser eu a abençoada com a palavra Divina?

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