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Sinais da Quadra

Será que há alguém que não adora o Natal?
É uma quadra em que todos ficam a ganhar.
Os crentes festejam o nascimento de Jesus Cristo (estou a falar dos crentes a sério). Os ateus aproveitam o feriado disponível. Os muçulmanos, hindus, e outros, regozijam-se com a descapitalização consumista dos ocidentais. E até os sem-abrigo têm direito a cobertores adicionais e jantarinhos de bacalhau, calorosamente oferecidos pelas Câmaras, Juntas e associações de voluntários!
À partida, parece que ninguém fica a perder… será?

O problema está naquilo a que eu chamo de os Sinais da Quadra.
Antes de mais, convém explicar a teoria que está subjacente à criação desta expressão.

Como dizia Agostinho da Silva, “o mundo está cheio de crentes. Uns acreditam que Deus existe, outros acreditam que ele não existe. Mas todos acreditam em alguma coisa.”
Como tal, admito que também tenho as minhas crenças. Pese embora elas não envolvam um ser misterioso, de barbas e roupão, com uma voz de locutor de trailers de filmes de cinema, a olhar para mim lá do alto do seu cadeirão Luís XIV, e a acenar-me negativamente cada vez que eu espreito para o decote da vizinha da frente, sempre que ela se baixa para apanhar qualquer coisa que foi parar ao chão. Aliás, se há coisa que para mim se aproxima duma experiência religiosa, é – precisamente – observar as meninas e senhoras deste país, de alto a baixo e sob todos os ângulos possíveis, mantendo sempre o meu ar adulto e cavalheiro. Não sei explicar como, mas fico quentinho por dentro. Deve ser mais ou menos isso que os crentes sentem quando dizem que têm Deus dentro de si.

Tenho manias parvas. Como querer acreditar na Ciência, por exemplo. Sou naturalmente desconfiado de toda a gente. Porque raio é que havia de confiar nas palavras de alguns escribas que, há quase 2000 anos atrás, decidiram que a única prova que eu precisaria para acreditar na existência do “senhor de barbas” seria apenas fé? Isso não será pedir demais a um gajo que nunca se senta de costas para a janela dum restaurante, com medo de levar um balázio por trás e morrer com a cara dentro da sopa? (onde é que está a dignidade numa morte dessas?!)

O método científico de “É pá, hoje achamos que isto é assim… mas amanhã, sabe-se lá?” encaixa muito melhor no tipo de pessoa que eu julgo ser. Uns dias gosto de umas coisas, noutros dias gosto de outras. Ainda na semana passada fui almoçar a um restaurante e confesso que ia com a língua afiada para comer um bife da vazia carregado de molho. Assim que lá cheguei e olhei para o menu, acabei por escolher bacalhau assado. As pessoas mudam. Faz sentido que a nossa compreensão do mundo também esteja em evolução, aproximando-nos cada vez mais da iluminação espirital. Para além disso, se a Ciência é a busca do conhecimento, e se Deus realmente existe e é responsável por tudo o que está à nossa volta, então é legítimo esperar que um dia a Ciência descubra Deus, certo? O que faz com que nós, ateus, sejamos apenas pessoas mais lentas que vocês, os crentes religiosos, tal é a nossa insistência em querermos observar pormenores como provas antes de nos decidirmos. Tudo bem. Eu consigo viver com esse rótulo.

Tudo isto para dizer que, mesmo não sendo crente religioso como muitos, mesmo não tendo árvore de Natal em casa, mesmo só comprando as prendas estritamente necessárias (estrategicamente escolhidas para manter de pé algumas relações familiares que talvez definhassem sem elas), continuo a gostar de festejar o Natal. E esta?

E talvez seja por isso que, como muitos, vivo a praga dos Sinais da Quadra.
Ora que sinais são esses?
Gosto de pensar que ṣo aqueles sinais que observamos no meio ambiente, publicidade, televiṣo, etc. e dos quais Рpor muito que tentemos Рnunca nos conseguiremos livrar. Ṇo ṣo coisas directamente relacionadas com o Natal, embora aproveitem o embalo festivo para ganhar algum balan̤o.

Exemplos.

A praga de anúncios publicitários com promoções de Natal. Isto pode parecer estranho numa era que se diz economicista e impessoal. Mas se a maior parte das pessoas ganha o subsídio de Natal, ou seja, vê o seu salário duplicar por esta altura, então que sentido é que faz baixar os preços das coisas? É curioso, não é? É nestas alturas que os salários duplicam (por ocasiões de Natal e Verão) que mais ouvimos falar de “promoções especiais”. Quase como quem diz “Meu amigo, agora que tens esse dinheiro extra, que tal gastá-lo aqui? Olha lá, temos os preços mais baixos e tudo! Se comprares aqui, até vais poupar!

Fenómeno este que, a meu ver, é indicativo de uma realidade um pouco mais sinistra. Se as empresas fazem promoções nesta altura e vendem o raio do telemóvel por metade do preço (por exemplo), isso significa que, mesmo que agora estejam a ganhar dinheiro (quem é que faria publicidade e promoções especiais se não ganhasse nada com isso?), então nos restantes onze meses do ano estão a ganhar o dobro! E o mais estranho de tudo é que, finda a época festiva, surgem os saldos! Ou seja, os preços baixam ainda mais! Não seria muito mais conveniente deslocar o Natal para Fevereiro? Assim podíamos gastar menos ainda. Ou então oferecer prendas ao dobro das pessoas, revitalizando assim aquelas amizades há muito desbotadas. Tirem as vossas conclusões.

Os filmes!
Nem é preciso olhar para o calendário. Se estiver a dar na televisão o Sozinho em casa ou o Assalto ao arranha-céus, é garantido que estamos algures entre 23 e 27 de Dezembro.
Outra coisa interessante é a cronologia dos filmes. O Assalto ao arranha-céus é um filme de 1988, em que Bruce Willis luta desesperadamente contra dissidentes da RDA que querem roubar um edifício japonês. Os assaltantes são assassinados impiedosamente e o estilo de vida americano é salvo. (ou nipo-americano, já que a Nakatomi era de um olhos-em-bico qualquer. Aquele que levou um balázio na tola porque não quis dar o código do cofre ao Alan Rickman, obrigando depois o parceiro do Chuck Norris a abrir aquela merda com uma broca de todo o tamanho…).

E a que é que o estilo de vida americano nos leva em 1990? Leva a que uma família de degenerados mentais e – obviamente – pouco adeptos de métodos contraceptivos, se esqueçam do seu filhote em casa! Francamente… andou o Bruce Willis a dar cabo do canastro dois anos antes, correndo o risco de ficar sem mulher, a mandar monitores de computador com explosivos por caixas de elevadores abaixo (provavelmente antevendo que dentro de 15 anos já estariam obsoletos), para isto?! Seria de esperar que um filme como o Sozinho em casa não tivesse grande evolução. Afinal, que sentido é que faz manter um filme sobre um casal que se esquece do seu filho em casa quando ele já tem 30 anos? (a não ser que seja atrasado mental, mas aí o interesse do filme deve recair mais sobre a comunidade psiquiátrica e não tanto sobre o cidadão comum). No entanto, não só fizeram dois ou três filmes desses, como os repetem todos os anos! Será que os directores das televisões nacionais fizeram uma parceria com a Igreja e tudo isto não passa dum teste de fé?! Será que querem saber quantos anos seguidos é que precisam de passar os mesmos filmes até a população irromper, furiosa e irada, pelas ruas fora, a gritar palavras de ordem e a provocar o caos generalizado?

Natal dos hospitais. Vamos fazer um esforço de imaginação por alguns momentos e acreditar que o Natal dos Hospitais não é o espectáculo mais decrépito deste país. Conseguem? Eu sei que é difícil. Mas se conseguirmos imaginar um Natal dos Hospitais decente, então porque não alargar o conceito para outras instituições? O Natal dos Manicómios, por exemplo, anda a pedir para ser feito há muito tempo. Não é que não tenhamos cá talento para isso. Aliás, proponho até que o espectáculo do Natal dos Hospitais transite automaticamente para o Natal dos Manicómios. Sempre fica o seu a seu dono, e assim poder-se-ia investir em programação de qualidade (realmente terapêutica) para os doentes e acamados deste país. Então e o Natal dos Cemitérios? Serei eu o único a imaginar um coro de canto gregoriano, espalhado por cima de campas e pedras tumulares, a cantar êxitos da música portuguesa (“ao passaaaaaaaar um navioooooooo”)? Tudo isto sob as direcções do maestro António Vitorino d’Almeida, estrategicamente sentado em cima dum jazigo? Um pouco de imaginação, minha gente. Isso do Natal dos Hospitais tem a sua piada, mas é preciso seguir em frente.

Para terminar, que a conversa já vai longa e adivinha-se que trabalhar é aquilo que as pessoas mais querem fazer numa Quinta-feira de 21 de Dezembro, quero deixar aqui um apontamento especial.
Gostaria de dar os parabéns ao Pai Natal que, para além da sua paciência infinita para aturar pedidos insolentes de criancinhas ranhosas (para não falar do pincel que deve ser distribuir prendas naquela noite crítica), acrescenta agora assalto à mão armada à sua lista de habilidades. Não acreditam? Então leiam esta notícia.

O que me deixa dormir descansado é que qualquer advogado com meio cérebro na cabeça safará facilmente o Pai Natal desta enrascada. Basta alegar “strésse excessivo no local de trabalho”. Em alternativa, pode sempre trazer o Pai Natal para ser julgado em Portugal, de onde ele poderá facilmente fugir após lhe ser concedido termo de identidade e residência. Ou então então aproveitar para tirar umas férias no Algarve enquanto espera que o processo prescreva.




Eu queria dizer qlqr coisa pq me fartei de rir com este post! Mas o q é q eu posso acrescentar a isto? Tv organizar uma manif se algum dos canais voltar a passar o Sozinho em casa ou o Assaltao ao arranha-ceus…


Obrigado. Imaginar o pessoal a rir desse lado sabe bem. Especialmente sabendo que, mesmo que não tivessemos leitores, provavelmente continuaríamos para aqui a escrever as nossas parvoíces…


Fiquei a pensar sobre os preços baixarem na altura do Natal…


nesta epoca a tv é tao interessante, que dei por mim num cafe a ler aqueles jornais gratuitos de nome destaque. encontrei uma noticia que fique na duvida se n seria uma das piadas do andre toscano…lool
“coro infantil expulso do shopping
Como o natal é das crianças, os professores do infantário jesters child care nursey decidiram brindar o centro comercial nottingham’s exchange arcade com os belos cânticos dos seus pupilos, entre os 3 e os 5 anos. Acontece que o coro de pequenos anjos, qpesar de bem intencionado, nao primava pela afinaçao e vai daí que os seguranças do shopping, a pedido de varios lojistas, nao estiveram com meias medidas:mandaram-nos calar e acabaram com a cantoria. Os arautos da boa nova desfizeram-se em pranto, os pais insurgiram-se e o concerto terminou em discussao”

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