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Inquietações e lenços

Porque existem lenços com monograma? Ou, para os pobrezinhos, porque existem lenços com as iniciais (“Não tenho monograma, mas tenho, tenho inicial…”)?

Porque haverá a necessidade de personalizar o quadrado de pano onde despejamos abundantemente o nosso ranho?
Será um sinal de classe? Uma chapada de quem orgulhosamente recusa limpar o seu nariz a uma coisa qualquer?
Será o muco uma secreção tão nobre que merece ser depositada num objecto embelezado por floreados de letras?
Teremos nós tanto orgulho naquilo que sai das nossas cavidades nasais, que sentimos vontade de apregoar ao mundo: “Este lenço, não é um lenço qualquer: este lenço é o meu lenço! E, dentro dele, está o meu muco, o meu ranho, a minha expectoração, os meus macacos, os meus burriés!”?
Se sim, o que se seguirá? Papel higiénico com o nome do utilizador? (Espera lá! Isto até é capaz de ser boa ideia!)

Da maneira como vejo as coisas, só se identificam os pertences pessoais por uma de duas razões (ou as duas em simultâneo, isso também pode acontecer!): orgulho ou receio. Por isso, se não for por orgulho nas nossas viscosidades, só pode ser por medo dos amigos do alheio!
Viveremos nós numa sociedade paranóica? Viveremos em constante tormenta pela possibilidade de o próximo estar a maquinar um esquema para se apropriar do nosso lenço de assoar?
Pessoalmente, não me incomoda por aí além a hipótese de poder haver alguém interessado no meu lenço e, por consequência, na indescritível matéria que sai do meu apêndice facial. No entanto, não deixa de ser algo inquietante pensar sobre o porquê desse acto…




Talvez seja pelo mesmo motivo que leva a que algumas pessoas roubem piaçabas (segundo ouvi dizer). Se calhar, se os mesmos tivessem lá gravado “Este piaçaba pertence ao Centro Comercial Colombo”, talvez os larápios pensassem duas vezes. Ou então começariam uma colecção…


Quando as Meninas deixavam cair o lenço para um possível pretendente, convinha ser personalizado, não fosse ser entregue a outra. Além disso como o monograma é em relevo, serve para os invisuais saberem se o lenço é deles ou do tio, por exemplo.
Também serve para famílias numerosas para não andarem a trocar bactérias uns pelos outros.


Mmmmm, haverá realmente um padrão de patologia que leva as pessoas a desejarem apoderar-se de objectos impregnados com as secreções dos outros? Só não percebo é porque é que ninguém pega nisto!
Temos de apresentar alguma candidatura ao Prémio Nobel da Medicina, ou são eles que o entregam por iniciativa própria?

Por outro lado, essa teoria do lenço como isco para o pretendente, apesar de fazer sentido, não deixa de ser algo bizarra: aqui temos nós um objecto que pode ser usado para a) encher de ranho e, b) arranjar casamento. Não se arranjava nada mais limpinho? Mais um bocadinho e era o penso-higiénico… Suponho que, no fundo, acabe por ter alguma lógica: “se te queres envolver comigo, é melhor que te vás habituando ao meu perfil bacteriológico”.


Se nós fossemos um bocado mais ordinários, até diríamos que “encher de ranho” e “casamento” são, em certas e determinadas circunstâncias íntimas, uma e a mesma coisa… Mas como não somos ordinários, não dizemos essas coisas. Qual membro sexual ranhoso a impregnar de muco a face da respectiva como se de uma tela de pintura se tratasse! Aqui?! Neste site?! Era o que faltava!!

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