siga-nos nas redes
Facebook
Twitter
rss
iTunes

O Verdadeiro Almanaque Borda D’Água

Eu já cá tenho o meu exemplar!!

Vós, ímpios, não haveis ainda comprado o vosso?! Ide sem mais delongas ao comerciante de papelaria de vossa eleição! Lá, podereis adquirir este tradicional repositório de sabedoria popular, “contendo os dados astronómicos, cívicos e religiosos e muitas indicações de interesse real” para o ano que se avizinha.

E se vale bem a pena o euro e quarenta! Trata-se de uma publicação de inegável qualidade que só encontra um tímido rival n’O Seringador. E, mesmo assim (perdoem-me os profissionais da sua redacção), ao pé do Borda D’Água, O Seringador não passa de um menino!

A maravilha deste magnífico Almanaque reside, precisamente, na beleza com que os diversos assuntos são conjugados ao longo das rústicas páginas do pequeno livrinho. Temos, por um lado, a vertente prática deste guia, com indicações valiosas para a vida agrária, mas, e a fazer par com esta sabedoria térrea, temos também indicações espirituais de uma pureza rara (nem sempre esta junção é plenamente conseguida; por exemplo, na mesma página podemos encontrar a máxima “A quem não pede, não o ouve Deus. Vem ó Espírito do Amor, vem ó Divino Consolador” e a indicação “Castrar animais”). A isto ainda temos a acrescentar um calendário completíssimo com as mais significativas efemérides (por exemplo, dia 26 de Fevereiro é o dia de S. Nestório) e um bom suplemento de moral à moda antiga!
E é aqui que jaz a suma importância do Almanaque: ao assumir-se como um bastião da recta moral e dos bons costumes – os costumes tradicionais -, o Borda D’Água preenche uma vergonhosa lacuna do meio editorial português. Precisamos mesmo de saber quando é que se plantam os crisântemos? Não (já agora, é em Março)! Precisamos mesmo de saber quando é que é o feriado municipal de Sever do Vouga? Também não (é a 21 de Setembro que, curiosamente, é o dia de S. Mateus e da Doença de Alzheimer)! Precisamos de umas boas lições de moral? Claro que sim! Sempre! E o Borda D’Água é o local indicado onde poderemos ir buscá-las. Um exemplo entre muitos: esta malta nova de agora gosta muito de ir às boites, esses antros de perdição e deboche… O sábio Almanaque diz:

Se vive junto a algum bar ruidoso (ou o frequenta), sobretudo dos especialistas em música de percussão soco directo no coração, para evitar o desgaste cardíaco e cerebral, a que tanto jovem se submete inconsciente das consequências futuras, use tampões auriculares.

Quantos de nós não fomos já agredidos por esta diabólica “música de percussão soco directo no coração”? É preciso banir esta abominação o quanto antes! Há-de vir o dia em que os tampões auriculares deixarão de ter razão de ser! É preciso voltar costas a esta selva de aço e betão, e regressar à santidade da Mãe Natureza, pois é Ela que tudo nos dá, como diz no Bom Livro (não é a Bíblia, é o Borda D’Água):

Não se deixe amedrontar com as estatísticas paranóicas de milhares de mortes, ria-se do papão da gripe e imunize-se naturalmente respeitando as leis da vida e da alma sã, respirando ar puro, ou em vapor de água a caruma dos pinheiros e folhas de eucalipto, alfazema e tomilho.

Sim, porque os sacanas dos médicos e dos farmacêuticos só querem é ficar com a reforma toda a uma gajo! Nada de medicamentos, vamos é respeitar as leis da alma sã!

Esta fervorosa devoção aos valores tradicionais tem o curioso “efeito secundário” de fazer com que a equipa de redacção do Borda D’Água seja mais reivindicativa do que seria de esperar de uma publicação com tão ditosa idade. O Borda D’Água não é o idoso entrevado na cama com a bala de oxigénio ao lado; é o velhinho rezingão que vem de bengala em riste reclamar por termos ficado com a última Dica da Semana.
O resultado é uma publicação sem papas na língua! Uma publicação que não tem medo de pôr a verdade à frente do politicamente correcto, doa a quem doer (uma atitude que nós, no DQD, gostamos de pensar que também temos). Um Almanaque onde tão depressa estamos a saber quando se deve roçar o mato para o estrume (é em Julho), como estamos ler opiniões sobre política internacional (implacáveis tanto para os “rigores orçamentais dos finançocratas de Bruxelas”, como para administração Bush).

Para finalizar, nota-se um carinho especial para com o humilde agricultor. Afinal, é, claramente, para ele que este Almanaque é feito (até porque a gente da cidade não precisa de saber quando é que se cava e sacha o milharal e as hortaliças – é em Agosto). É aos agricultores que são dedicadas as sentidas palavras a seguir transcritas:

Os governos e políticos, apesar de todo o seu alarido, passam, mas os agricultores continuarão trabalhando com suor e amor, abrindo as suas almas aos raios e brisas, unindo conscientemente o céu e a terra, gerando frutos belos e bons, e vendo e sentindo bem a omnipresença Divina na Natureza pródiga.

Bem bonito e inspirador, isto… Embora, de quando em vez, lá apareça uma ou outra frase mais ambígua:

Abrigue o gado do frio e da chuva, e acarinhe-o.

Mmmmm, já tinha ouvido histórias destas com agricultores…

Bom 2007!




Vou-me a ti se tornares a dizer mal do Borda D’Água. É o livro mais verdadeiro que conheço (e já o compro há mais de 40 anos), sou do signo Peixes e agora vai lá ver o que diz: sou isso tal e qual. Não sou agricultora, mas tenho jardim e por causa do dito livrinho, tenho o jardim mais lindo das redondezas.


Compartlho com a Heidi o seu sentimento de profundo respeito pelo Borda D’Água. Conheço e já li muitas vezes o respeitável almanaque, e afirmo com toda acerteza que é absolutamente necessário saber todos os mais pequenos truques de agricultura. Afinal, não conhecemos o dia de amanhã. Da maneira que isto está, daqui a uns dias todos os que não possuem um emprego que lhes garantam rendimentos acima da média, podem ser “recolocados” no bom e velho Interior, onde a única maneira de te safares, com o encerramento de tantas fábricas, é na agricultura!


Pois, mas a moral do post (sim, não é só o Almanaque que pode ser moralista) é precisamente essa: o Borda D’Água é inestimável no que diz respeito às indicações sobre agricultura, sobre eclipses, sobre os “Santos du jour”, sobre as marés, sobre as luas, etc.
Eu compro o Borda D’Água porque acho interessante toda esta informação, e creio que a maioria das pessoas, quando pensa no célebre Almanaque, pensa nele como tendo precisamente este tipo de utilidade.
Daí que me pareça um bocado despropositada a mistura disto com opiniões sobre política internacional e moralismo retrógado.


Estou ansioso…

Vou hoje comprar o meu primeiro Borda D’Água! Sinto que a minha vida vai mudar para sempre!

Abraços

Deixe o seu comentário