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Se vive em Lisboa, é capaz de achar isto interessante…

Se mora ou trabalha em Lisboa, a sua vida na próxima terça-feira (dia 31) vai, muito provavelmente, sofrer uma alteração dramática: é para este dia que os trabalhadores do Metropolitano de Lisboa convocaram uma greve (das 6:30 às 12:00). Mesmo que não seja utilizador de transportes públicos, é mais que certo que, de uma forma ou de outra, seja afectado por esta forma de luta (o trânsito fica impossível).

Ora, uma das coisas que herdámos do 25 de Abril (revolução que eu respeito e defendo profundamente – nem é preciso ir mais longe: sem ela eu não poderia escrever o que escrevo por aqui), foi uma espécie de devoção cega às greves. Se há trabalhadores que querem fazer greve, então temos de apoiar incondicionalmente essa atitude. Caso contrário, seremos imediatamente uns fascizóides que querem revogar as liberdades dadas pela Revolução dos Cravos.

Com isto, não quero dar a impressão que sou contra os protestos dos funcionários do Metropolitano. A verdade é que eu não tenho, mas gostaria de ter, uma posição sobre o assunto. Ainda por cima, num assunto que não admite neutralidade (os sindicatos, quando fizeram as últimas greves, espalharam panfletos pelas estações num gesto claro de extremar as posições). Só que, infelizmente, o luxo de ter uma opinião sobre o assunto é algo que me parece estar vedado.

Sabemos que o que está em causa é o chamado “Acordo de Empresa”. Mas o leitor sabe em que consiste esse Acordo? Sabe quais as regalias que ele assegura aos funcionários? É que eu não sei. E, sinceramente, tenho muita dificuldade em criar uma opinião baseando-me exclusivamente numa obscura expressão.

Foi por isso que decidi enviar um e-mail para dois sindicatos envolvidos nesta luta, onde lhes peço ajuda para esta questão. Transcrevo a missiva em baixo:

Exmos. Senhores,

Escrevo-vos por ter tido conhecimento, pela imprensa diária, que os sindicatos afectos ao Metropolitano de Lisboa estão a planear mais três dias de greve.
Não me interpretem mal: sou um utilizador assíduo do Metropolitano de Lisboa há vários anos, e não tenho dúvidas de que, se temos um serviço de qualidade, isso deve-se em grande parte (talvez mesmo exclusivamente) ao ímpar nível dos profissionais que perfazem os quadros da empresa.
Para além disto, acho muito bem que os trabalhadores por este país fora sejam assistidos por lei a expressar o seu descontentamento com as condições a que são sujeitos no seu labor. Este tipo de liberdade foi uma valiosa conquista do 25 de Abril de 1974, assim como foi o direito à greve.

Por outro lado, deixem-me assegurar-vos que a escrita desta missiva não é mais do que uma solução de último recurso, após terem sido esgotadas as outras alternativas. Não tenho intenção de roubar muito tempo a um horário que, seguramente, já estará suficientemente preenchido, entre as obrigações laborais e a atarefada luta sindical. Com efeito, só vos escrevo porque, após aturada pesquisa na rede global, continuei sem encontrar resposta para as minhas inquietações. Agradeço desde já a atenção dispensada.

Gosto de pensar que, de uma maneira geral, eu não sou pessoa de me meter em assuntos que não me dizem respeito. E, com efeito, poderão interrogar-se sobre que direito tenho eu de vos confrontar com perguntas que dizem respeito a uma luta que é vossa (ou, olhado a questão do outro lado, que dever têm vós de me responder quando a batalha não é minha). Tenho para mim (mas os Srs. terão, naturalmente, o direito de julgar por vós) que a partir do momento em que eu sou arrastado para a luta, a partir do momento em que a minha rotina é violentamente alterada, a partir do momento em que a minha própria vida profissional é posta em risco (seja esse risco grande ou pequeno), então assiste-me o direito moral de me inteirar sobre as razões porque isto acontece.
Afinal de contas, este pedido não me parece irrazoável. Estou seguro que serão os primeiros a concordar com isto, até porque, por ocasião das últimas greves (e das outras anteriores também, se não estou em erro), foram os Srs. que tomaram a iniciativa de afixar cartazes nas estações do Metropolitano a explicar as razões da luta. Há por aí gente maldosa que afirma que isto não passou de uma estratégia de marketing para pôr a opinião pública do vosso lado, mas eu prefiro encarar a acção como um gesto de respeito e boa-vontade para com o utente (embora a utilização de frases e expressões psicologicamente fortes como a referência ao 25 de Abril ou a aparência final de se ter assistido a uma demonstração – o uso repetido de “como vê” – seja um bom argumento para a favor daquela posição).

Que pretendo eu afinal? Muito simplesmente, gostaria de me inteirar sobre as razões dos vossos protestos. Já se repetiu, até quase à exaustão, que tudo o que pretendem é a manutenção de certos direitos conquistados ao longo dos anos e consagrados naquilo a que se chama o Acordo de Empresa. Ora, como seguramente compreenderão, nem toda a gente fora dos circuitos sindicais saberá em que consiste tal acordo. Eu, para começar, não tenho pudor em revelar que não o conheço. Mas também não teria qualquer interesse em conhecê-lo se toda esta questão não interferisse com a minha vida pessoal.
O que vos pedia, então, é que tivessem a bondade de me enviar o texto do Acordo de Empresa. Já que sou parte integrante de uma luta à custa deste documento, gostaria de o conhecer para além do título.

Peço-vos, por favor, para não interpretarem isto como a reacção ressentida de alguém que se sente prejudicado por toda esta situação. Honestamente, não é disso que se trata (embora, como disse, acredite que o facto desta situação ser-me efectivamente prejudicial me dê o direito vos fazer este pedido). Eu quero ser solidário com a vossa luta mas, para poder sê-lo, tenho de saber sobre aquilo porque lutam(os). Quem sabe se este gesto não marca o início de uma nova abordagem à luta? Passar de uma abstracção que nada significa para o utente (o “Acordo de Empresa”), para o concreto daquilo que vos está a ser tirado. Tragam o Acordo de Empresa para a praça pública! Mostrem à sociedade, de uma vez por todas e sem margem para dúvidas, aquilo por que lutam! Afinal de contas, se as vossas razões são, como dizem, “inequivocamente justas”, nada há a temer.

Grato pela atenção dispensada, fico à espera da vossa resposta.

Atentamente,

João Troviscal Costa

Este e-mail foi enviado quando tive conhecimento das greves, há mais de uma semana. Que resposta recebi? Rigorosamente nenhuma. Não só não me enviaram o texto do Acordo de Empresa, como nem sequer me responderam ao mail a negar o pedido ou a mandarem-me passear.

Posso estar a ver a coisa de maneira errada, mas parece-me que, dado o silêncio a que os dois sindicatos se remeteram, se passará uma de duas coisas (ou talvez as duas em simultâneo):
– Ou os sindicatos afectos ao Metropolitano de Lisboa não têm a mínima consideração e/ou respeito pelos utentes;
РOu ṇo lhes conv̩m que o dito Acordo de Empresa se torne p̼blico
, o que explicaria o obsessivo secretismo que envolve esta situação.
Tanto quanto sei, as ditas regalias que os funcionários pretendem manter podem incluir coisas como três meses de férias. Ou seja, podemos estar a falar de direitos que, logo à partida, não serão justos.

Detesto ter de falar no desconhecimento, mas parece-me que não tenho outra alternativa (mas ainda tenho esperança)…




É por estas e outras que eu acho que devíamos dar o salto e fabricar um jornal (ou revista).


Isso é que era! Fazia-se a distribuição nos transportes públicos pelo país fora, e chamavamos-lhe “Atak” ou “Jarda”!

Por falar nisso, e como é que ficou aquilo do jornal “Diz K Disse”? Isso chegou a ser lançado? Nunca o vi em lado nenhum…


I’d prefer reading in my native language, because my knowledge of your languange is no so well. But it was interesting! Look for some my links:

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