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Fiat lux

Durante uns tempos, não havia quem falasse de outra coisa: “E este aumento de 15,7% na electricidade?”, “Ah, a electricidade vai aumentar 15,7%!”, “15,7%.”, “15,7%”…
Foi então, provavelmente por estar farto de ouvir estes sacanas todos sempre a choramingar, que o distintíssimo Secretário de Estado Adjunto da Indústria e Inovação, Dr. António Castro Guerra, decidiu dar um murro na mesa e dizer as coisas como elas são! E a verdade nua e crua, aparentemente, é esta: «[o défice da EDP] só pode ser imputado aos consumidores, […] são os consumidores que devem este dinheiro. Não é mais ninguém. […] este défice tem de ser pago por quem o gerou» (para a notícia, clique aqui). Por outras palavras: «Parem de se queixar, seus chatos do catano, e paguem o que vos é devido! Afinal, não é nem mais nem menos do que merecem!».

Ora, não podemos dizer que a atitude do Secretário de Estado Adjunto tenha sido infrutífera: as pessoas, de facto, deixaram de falar nos tais 15,7%, para passar a falar no imbecil do António Guerra.
Mas é precisamente nestas situações que se vê a pobreza de espírito da maioria dos portugueses: aqui temos nós um autêntico Messias dos tempos modernos, um Homem que vem anunciar a suprema verdade, que vem, contra mentiras longamente enraizadas na mentalidade colectiva, revelar os reais matizes da vida social. Como é que a boa nova é recebida? Com desdém e revolta.

Pelo que me toca, acho que o Sr. Adjunto tem toda a razão. Sim, por muito que nos custe, a culpa de termos um aumento consideravelmente superior à inflação é mesmo dessa massa mais ou menos anónima (e que acaba por funcionar razoavelmente bem como bode expiatório) que se designa por “consumidores”. E, no entanto, apesar do maldito inimigo ser algo vago (há uns anos, se caísse uma ponte e morressem dezenas de pessoas, também se considerava um acto de Deus e a responsabilidade acabava aí), a verdade é que essa tal mole anónima ganhou voz nas gargantas dos homens e mulheres deste país que se sentiram ofendidos pelas declarações a um nível pessoal. É neste fino equilíbrio entre o abstracto e o concreto que as palavras do Excelentíssimo Secretário de Estado (Adjunto, atenção!) ganham acutilância.

Diz na notícia que «até este ano, a lei impedia uma actualização dos preços acima da inflação» e que, por isso, foi-se acumulando um défice que agora regressa com a fúria de um gigante adormecido sob a forma de um aumento de 15,7% na tarifa. Se não tivermos medo de interpretar as palavras do Iluminado Sr. Guerra (não sei se apanharam o subtil trocadilho Iluminado-Luz-EDP; não é à toa que isto é um site humorístico!), isto quer dizer que, todos nós somos culpados da lastimável situação actual porque, apesar de termos pago aquilo que vinha indicado na factura, o que realmente deveríamos ter feito era chegar à sede da EDP, bater o pé, e dizer alto e em bom som: «Não senhor! Eu quero pagar mais do que aquilo que aqui está escrito!».
O leitor (sim, estou a falar consigo, que está aí, atrás do seu computador, a chupar energia à nossa rede eléctrica como uma sanguessuga) pode achar que tudo isto é um bocado idiota. Na sociedade burocrática contemporânea não se pode simplesmente chegar a um serviço público e entregar dinheiro sem mais nem menos. Para além disso, se era a lei que impedia maiores aumentos na electricidade, como é que consumidores que se limitam a cumprir a lei podem ser culpados do que quer que seja?
Respondo com outra pergunta: e quem é que faz as leis? Não serão esses tais “consumidores”. A menos que as leis neste país sejas redigidas às escuras e com lápis-de-cera (o que, na realidade, explicaria muita coisa), quer-me parecer que os magistrados são parte integrante dos ditos consumidores e, logo, culpados.

Mas nem precisamos de ir tão longe para provar que a culpa disto tudo é, exclusivamente, dos consumidores. Se não houvessem consumidores de electricidade, nada disto acontecia! Não só não haveria défice, como nem sequer haveria EDP (dois coelhos com uma só cajadada!).

Se há algo a apontar às sábias palavras do Secretário Adjunto (deixa lá isso, pá! Com rasgos de inteligência destes depressa perderás o “Adjunto” no título), então, quanto a mim, só poderá ser uma coisa: são pouco ambiciosas! Essa gentalha não é só responsável pelo défice da EDP; são responsáveis, por exemplo e para não irmos mais longe, por termos de ouvir barbaridades da boca de Secretários de Estado Adjuntos da Industria e Inovação. A única diferença é que aqui não lhes chamamos consumidores mas sim “eleitores” (não deixem que a semântica vos induza em erro: é a mesma malta). Sim, numa democracia representativa como a nossa, os culpados pela incompetência/ estupidez dos nossos representantes serão sempre, em última análise, os que os põem lá (e não adianta defenderem-se com um prosaico “eu não votei nele”; a questão não está na intenção de voto, mas sim no próprio sistema de governo. E se aceitam viver nele…). E quem diz políticos, diz magistrados, legisladores, administradores de empresas públicas… Todos são indivíduos que foram parar a um cargo como nossos (do público, do eleitor, do consumidor, do cidadão) representantes, como pessoas pagas para exercer uma função tendo em vista o bem daqueles que, ao introduzir um boletim numa urna, abdicaram do direito de se intrometer nos assuntos ditos “de Estado”, e depositaram nas suas mãos o poder que têm sobre os bens públicos.
Nós fazemos isto: é dado adquirido. Mas teremos legitimidade para chamar os nossos representantes à responsabilidade? Seguindo a lógica do mui estimadíssimo António Guerra, a resposta só poderá ser um redondo “NÃO!”.

Uma coisa que fica por explicar é como é que uma empresa que anuncia, em 2005, um lucro na ordem dos 1.071 milhões de euros (nada de enganos: mil e setenta e um milhões de euros, que traduzem uma subida de 294,3% em relação a 2004) vem apresentar, escassos meses depois, um aumento de 15,7% por culpa de um défice…




_15,7%…?!?! 15,7%…?!?! Eu como consumidor culpado por esta abordagem, sinto-me ofendido por tal insignificância… Exijo, um aumento de 50 a 100%. Não só na electricidade, mas tbm na água – e para não se perder o andamento – em todos os produtos e serviços públicos prestados pelo estado.

_ O bom, digo, o excelente padrão de qualidade, paga-se!

_Agora, meus amigos, camaradas, palhaços…! Talvez com abordagens destas, se motive (ainda mais) a população activa (trabalhadores da classe média / baixa), e não só, a contribuir para o desenvolvimento deste país… fora deste país.
_Uma coisa tenho a certeza: Portugal enriquecia exportando (sem retorno) este tipo de secretários e gestores do estado.


Vou aderir aos mormons. O meu grande problema é ter pavor de cavalos.


Tem toda a razão, eu sou um ótário porra 200% saxavor. Que eu fiquei pouco contente com a mininuição do iva das fraldas pois elas custavam 19€ e continuam a custar 19€ não sei o que foi feito á margem dos 21% para 5% mas alguem deve ter ficado com ele!!!! VIVA AOS AUMENTOS!!!! 2.5% ano de salário FORÇA!!! quando o banco me vier reclamar a prestação eu digo !!! vá ter com o sore ministro q ele ainda acha que pago pouco de luz….. Este país precisa de um 25 de abril barricar aqueles coinas e bater-lhes com canas da india, e besuntalos com vaselina que é pa levarem varias vezes com a cana. A culpa é mas é nossa que deixamos isto chegar a este ponto. eles é que andam de BMW e viagens em primeira classe e com reformas de 20.000€ enquanto eu recebo 600 e mais de metade é pá casa comida e pá minha filha.
Boa tarde e até á proxima


Não mas o que me mete mais confusão é como um estado com 10 milhoes de habitantes n tem dinheiro, com um país tão pequeno….. Imposto de tabaco eles ganha em média 90% do custo de um maço de tabaco. Se fizer-mos uma média por alto a um maço de tabaco com o custo de 2.75€ onde 90% é = a 2.47€ para o estado se multiplicar-mos por 2(média de maços por dia por portugues) x 10.000 portugueses = 55.000€ dia claro que são mais de 10.000€ mes. Somamos agora se em média cada portugues ganhar 600€ 20% do ordenado são para iva, Gasolina, comida, gaz, luz, fora o IRS, Caixa que nos pagamos e as empresas por nós. provavelmente cada portugues dá ao estado portugues 300€ em impostos se multiplicar-mos por 20.000 tugas daria 6000000€ estes numeros não estão nem perto da realidade pois somos 10milhoes as contas foram feitas na casa dos milhares. á muito dinheiro n há é para nós


“Respondo com outra pergunta: e quem é que faz as leis? Não serão esses tais “consumidores”. A menos que as leis neste país sejas redigidas às escuras e com lápis-de-cera (o que, na realidade, explicaria muita coisa), quer-me parecer que os magistrados são parte integrante dos ditos consumidores e, logo, culpados.”

Só uma pequena correcção: não são os magistrados que fazem as leis mas sim os nossos ilustríssimos e eleitos deputados. O que quer dizer que pelo menos 46% de consumidores devem estar, neste momento, e bem, de joelhos sobre milho derramado, fustigando-se como se não houvesse amanhã balbuciando “Mea culpa! Mea culpa! tudo mea culpa!.


_ Eu como membro fundador da APIC (Associação Portuguesa dos Incapacitados da Carteira), tenho o maior prazer em comunicar, que por unanimidade, foram propostos, como fortes candidatos aos prémios de, O Melhor do Ano… ( com o patrocínio das revistas, “Fuças” e “Economia dos Tesos” )

… o Exmo Sr. Dr. António Castro Guerra, na categoria de: “Alguém Do Governo Tem De Fazer Figura De Imbecil”

… aos Exmos Sr.s gestores da EDP, na categoria de: “Ninguém É Mais Chulo Que Eu (Nós)”


O problema é a forma como o tal secretário se dirigiu à população. Os portugueses não se importam de pagar mais, desde que lhes peçam com jeitinho. Gajos arrogantes é que nós não suportamos!

Se eu fosse o Castro Guerra, teria levado a coisa para um lado mais paradoxal e diria algo como “Sim, a electricidade vai aumentar, mas esse aumento serve para fazer face à descida de receitas que vamos sentir por causa do aumento em si.”
Enquanto o povo coçava a cabeça e tentava descobrir o sentido da coisa, já o secretário seria outro…


“Gajos arrogantes é que nós não suportamos!”

_ Exceptuando, gajos, que gostem de “tripas nortenhas” e façam ganhar campeonatos de futebol Carago!… 😎


(actualização)

_ Foi adicionada uma nova e forte proposta ao prémio, O Melhor do Ano…

… aos Exmos Sr.s da ERSE (Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos), na categoria: “Somos Todos Uns Ricos, Anormais”


Este aumento vai afectar únicamente os consumidores de “baixa tensão”.
Os hipertensos estão safos.
De qualquer modo, após uma notícia destas, devem ser poucos os que não ficaram com a tensão alta. E a hipertensão é uma doença cujo único problema é ter um “n” a mais.


Não batam mais no velhinho, pois ele já pediu desculpa e afinal não vai haver esse aumento. Eu desculpo porque ele se esqueceu do tratamento para a artério-esclerose. O que não desculpo é ele estar ainda no Governo dum País com uma doença tão debilitante a nível mental.


Tem razão o nosso leitor Bloggocêntrico! De facto, cabe aos grupos parlamentares preparar projectos de lei que, após debate, são votados na Assembleia. É por isso que até se costuma dizer que as leis vêm “em manadas” da Assembleia. 😉
Grato pela correcção!


Boa noite!
SÓ NÃO CONTARAM AO LA FONTAINE DE VALHELHAS…

É verdade! Por mais incrível que pareça, mesmo para aqueles que não acreditam na reencarnação, uma fabulosa revelação acaba de ser feita aos portugueses e o que é mais engraçado é que eles não deram por ela! Ela, revelação, pois! Desde sempre fomos habituados a pensar na França quando, por qualquer motivo, era referido o nome de La Fontaine – sim, o homem das fábulas, como “A cigarra e a formiga”, “A raposa e as uvas”, “A rã e o touro”, “O homem e a pulga”, “ O lobo e o cordeiro” e tantas outras que fizeram as delícias da infância de inúmeros portugueses da minha geração e de outras. Serviam também para tirar – e dar – lições de moral, aplicadas aos comportamentos inadequados dos meninos e das meninas. O próprio autor dizia: “Convém que as crianças se alimentem de fábulas ao mesmo tempo que sugam o leite… Não há outro meio de acostumar desde muito cedo à sabedoria e à virtude. Em vez de sermos obrigados a corrigir os nossos hábitos, melhor será conseguir torná-los bons enquanto são indiferentes ao bem e ao mal”. Quantos homens das letras portuguesas, não traduziram e adaptaram essas deliciosas fábulas? Bocage, João de Deus, Teófilo Braga, Gomes Leal… Até Bulhão Pato (no intervalo dum saboroso cozinhado de amêijoas) se foi a elas – fábulas -, isto para não falarmos de brasileiros como Machado de Assis e outros reputados intelectuais. Bem sabemos que a temática das fábulas provém, originalmente, de remotas paragens orientais, mas mestre La Fontaine soube como ninguém transmitir-lhes a beleza que a sua escrita ímpar eternizou. Os séculos foram-se sucedendo e eis que….

Valhelhas, 1953. Nasce a 4 de Fevereiro um menino, lindo como todos os meninos que nascem na linda Serra da Estrela. Valhelhas, freguesia histórica, rima com orelhas, com relhas, com Mijavelhas, sei lá, a bem dizer rima com quase tudo. Mas também rima com ovelhas. E foi com ovelhas e outros animais igualmente simpáticos que esse menino cresceu. Nos terríveis Invernos da Serra, sopra o vento com violência e a neve, caindo, tudo cobre. Outros animais geralmente menos apreciados, como ratos e ratazanas, moscas, sapos, melgas, escaravelhos, traças, baratas, fazem também pela vida em Valhelhas, procurando aguentar os meses mais difíceis, à espera da Primavera que há-de trazer o grão, a fruta, o chope-chope, enfim. Convivendo com os prodígios da natureza, o menino cresce harmoniosamente. Quando faz dezassete anos, deixa Valhelhas para trás. Outros horizontes, plenos de promessas de um futuro radioso, o esperam!

Lisboa, capital do império colonial, princípio dos anos 70 do século XX.
O menino já crescido inicia o seu curso superior estudando, “marrando”, que o tempo não está para brincadeiras – quem perde o ano arrisca-se a entrar de imediato para o serviço militar, igual a mobilização para o que então se chama ultramar. Outros meninos, muitos meninos, por isto ou por aquilo, é lá que vão parar com os costados e se não voltam em caixão de pinho é porque não calha ou porque desertam para as Franças. O nosso menino, esse não. A sua dedicação aos estudos leva-o cada vez mais alto. Quando num belo dia de Abril, as cornetas tocam a liberdade, tem já vinte e um anos – é um homem! Depois, durante outros vinte anos, a história é omissa. Vamos reencontrá-lo em 1994 como presidente do CSEP – Centro de Estudos de Economia Portuguesa, ena! A partir de então, upa, upa! Ele é Conselhos de Administração, Conselhos Científicos, professor universitário, investigador, eu sei lá que mais! Até que, já em 2005, não a tal cereja mas, nada mau, a ginja no topo: Secretário de Estado Adjunto da Indústria e da Inovação! No dia da tomada de posse, quem pode reconhecer nele o menino de Valhelhas, aquele menino lindo que brincava com as ovelhas? Está velho pr’á idade, o cabelo pouco e branco, mas feliz. Assina, com mão firme ainda, o compromisso governativo e volta para o seu lugar com ar satisfeito. Durante os quinhentos e setenta e oito dias seguintes não se ouve falar dele, até que numa chuvosa terça-feira de Outubro, o seu inconfundível sotaque beirão troa através dos microfones dos jornalistas e chega a casa dos portugueses. Milagre! Eis de novo a lição de “O lobo e o cordeiro”, centenas de anos passados! António (ou Toninho, para os mais íntimos), explica – sem se rir – que a culpa dos balúrdios anunciados a somar aos custos da electricidade a partir de Janeiro é, não do macaco, como no filme dos irmãos Marx, mas, sim, dos consumidores que não reclamaram à EDP os aumentos devidos nos anos anteriores! E para quem duvidar da justeza de tão cintilante raciocínio, lá está a verdade da fábula: “Se não foste tu, foi teu pai!”. Eis a prova final!

Ai, Toninho, Toninho (passámos a ser íntimos, depois da TV)…Olha: ou provas que és mesmo a reencarnação do La Fontaine ou ainda vais ver o teu chefe, o Manel, a desdizer-te. Não percebeste nada. Aquilo dos 15 virgula 7 era a mangar, só para ver o efeito: depois passa para metade, que é pr’á “cambada” engolir o fabuloso desconto no aumento, topas? Pronto, deixa lá, não fiques triste… Afinal, quando voltares para Valhelhas, mandas o caseiro aquecer a casa a lenha, que é de borla – é só ter quem a apanhe caída das árvores. E no remanso do velho lar, passando os olhos pelo Financial Times à luz da vela, ainda hás de distraidamente pensar com os teus botões: “E não é que não percebi?”

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