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Caixilharia em alumínio

Noutro dia abordaram-me na rua, e perguntaram-me qual a minha posição relativamente a caixas do correio. Não pude deixar de aplaudir a pertinência da questão. Com efeito, a tradicional caixa do correio enfrenta, hoje em dia, uma crise inimaginável no tempo dos nossos avós. A situação é de tal forma grave que até o seu mais tradicional aliado a abandona, atraiçoando-a como se lhe espetasse um abre-cartas enferrujado nas costas… Refiro-me, naturalmente, ao vergonhoso novo serviço dos Correios, o ViaCTT, que faz uso dessa coisa moderna que há nos computadores (Internet ou lá como aquilo se chama!).

Mas, por esta altura já estará o leitor a pensar o que é que esta conversa toda tem a ver com caixilharia em alumínio. Afinal, uma pessoa vem para aqui à espera de uma qualquer reflexão profunda sobre marquises e afins, e toca-lhe um chorrilho de baboseiras sobre caixas do correio! Isto é brincar com os sentimentos das pessoas, é o que é! Bom, posso prometer que lá chegarei.

A questão é esta: se as caixas de correio são como doentes terminais, entrevados numa cama de hospital e ansiando pelo dia em que a doce morte as resgatará dos penoso suplício, então a publicidade não endereçada é a máquina que mantém os seus órgãos vitais em funcionamento.
Calculo que possa ser um choque agridoce descobrir que uma coisa tão vil como um folheto do Continente possa ser responsável por algo tão louvável como a salvação da boa velha caixa do correio. Muitos poderão pensar que, se calhar, até era bom acabar com as caixas do correio só por causa disto. Não há caixas de correio, não há publicidade.
Mas isto não passa de uma utopia. A publicidade haveria de se adaptar às novas condições. Imagine a seguinte situação: você está em casa, muito descansado a assistir ao seu episódio da Floribella, quando a campainha toca. Abre a porta e na escada está um homem sorridente, vestido em cores espampanantes, que exclama triunfante:

«Frango inteiro com miúdos! Esta semana só três euros e quarenta e nove o quilo. Só nooooo Continente!!!»

Não é preferível um inócuo folheto com cores berrantes?

Seja como for, de vez em quando, ainda vem, misturado na correspondência, um ou outro folheto interessante. Eis um exemplo:

IBS

IBS Alumínios, Lda. Uma empresa esforçada (até está aberta aos sábados e tudo!) que comercializa caixilharia em alumínio (cá está!) ou, por exemplo, perfis com ruptura térmica. Morada, números de telefone, uma fotografia bonita, um slogan cativante (“Marca a diferença!”) e mais uma porrada de informação compõem um cartão capaz de fazer salivar o mais exigente apreciador de marquises. Mas esta é só a parte da frente. O que colocar nas costas? O mais normal seria seguir com a tradicional solução do calendário (ainda por cima com o ano a chegar ao fim). Pois é, mas se uma empresa quer sobreviver no competitivo mundo da serralharia, tem de fazer um esforço por pensar “outside the box”. Foi o que esta empresa fez! Até já estou a imaginar uma reunião do conselho de administração da IBS para discutir o layout destes flyers. De certeza que a primeira hipótese a sair do brainstorming foi a do calendário mas, felizmente, alguém teve o bom senso de dizer: «Um calendário?! Mas porque raio?! Afinal, o que é que calendários têm a ver com alumínios? Além disso, vamos mandar fazer 5.000 folhetos que nos vão dar até 2014!».
Após o que terá sido um demorado debate, chegou-se a uma conclusão. Aquilo que fica na parte de trás dos folhetos é… Uma tabela de cozedura de mariscos!

marisco_b.jpg

Admito que a surpresa pode, por momentos, ocultar o carácter genial desta solução, mas, pelo que me toca, lembrar-me-ei sempre das pessoas da IBS Alumínios quando precisar de fazer uma qualquer estrutura metálica. Se sei hoje cozer marisco, devo-o a eles! Qual Pantagruel, qual quê?!
Ainda por cima, é uma tabela que apesar de informativa e prática, não “fala de alto” para o seu leitor. Atente-se, por exemplo, na maneira como apresentam uma importante ressalva: «O tempo de cozedura da tabela conta-se desde o momento em que a água volta a ferver depois do marisco ter sido introduzido». São pequenas atenções ao pormenor como estas que demonstram que esta empresa é a indicada para tratar de um assunto tão delicado como o de fazer um resguardo para banheira.
Mais ainda: a cozedura do marisco é, como tantas outras coisas na vida (por exemplo, a manufactura de janelas de vidro-duplo), uma arte de subtileza feita, mesmo quando a arte obriga, na maior parte dos casos, a desferir violentos golpes de martelada nas carapaças dos inanimados bichos . Um exemplo desta subtileza: são precisos 60 gr. de sal por litro de água para todos os crustáceos. Todos excepto o percebe! Para este marisco, têm de ser 70 gr. Menos do que isso, e fica sem se poder comer!

Para além disto, e contrariamente ao que aconteceria com um calendário, uma tabela de cozedura de mariscos faz todo o sentido nas costas de um folheto de uma empresa de alumínios. Quem nunca saboreou uma bela de uma sapateira na companhia dos amigos na sua marquise anda a furtar-se a uma das experiências mais compensadoras que a vida pode oferecer.

Quanto é que será que este pessoal leva para me fechar a varanda?

[P. S.: Se o leitor precisa de uma tabela de cozedura de mariscos, mas não vive na área de distribuição de publicidade da IBS Alumínios, não fique triste! Pode sempre gravar as imagens para o seu disco rígido e até imprimi-las para que as possa ter sempre à mão! Não me agradeça a mim; agradeça à IBS!]




Gracias IBS, fiquei a saber a partir de que ponto contabilizar a cozedura, pode ser que precise de uma marquise pra quando experimentar cozer marisco 🙂


Mas olha que há pior. Há uns tempos, lembro-me de ter recebido um folheto duma empresa parecida e que, no verso, trazia uma oração com uma imagem de Nossa Senhora!
Será que eles não percebem que, se não imprimissem nada no verso dos folhetos, teriam efectivamente dinheiro para produzir ainda mais?

Entretanto, eu a escrever este comentário, e a chegar-me um email de Spam (daqueles que dizem que não podem ser considerados Spam) duma empresa chamada Norsantos a avisar-me da mudança de hora. Fui ver o site da dita empresa, e vendem equipamentos de impressão e offset. Ok, talvez faça algum sentido, já que a palavra offset, em português, também significa desvio


boas .
de facto axo que alem de ser incomoda para os moradores descredebiliza a empresa .
axo eu ..

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