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A Revolta das Galinhas!

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Incauto como Isaltino Morais a meter dinheiro na Suíça mas, todavia, ponderado, o novo trabalho cinematográfico do realizador Silvestre Mirtilo vai estrear brevemente em diversas salas do nosso país.
Mirtilo, o visionário criador do aclamado Coisa Bera ( Clique aqui para ler o artigo que escrevemos na altura ), traz-nos agora uma obra de primeira água onde explora delicados temas como a dialéctica homem-animal e, mais concretamente, homem-galinha.

Antes de prosseguir com a crítica, gostaria de manifestar o meu desagrado em relação ao funcionamento dos correios deste país. É que os convites para a ante-estreia do dito filme nunca chegaram a aparecer, provavelmente por extravio nos CTT. O resultado foi termos de nos vestir a rigor e comparecer às portas da Gulbenkian, na esperança de que a organização nos deixasse entrar de forma a evitar uma cena desagradável em frente às câmaras de televisão (uma técnica que se veio a revelar surpreendentemente eficaz).

À entrada foi fornecido um crachá identificativo a toda a gente. Fazia parte do ritual. Entrava-se e esperava-se em pé numa fila, provavelmente porque esperar sentado talvez não se coadunasse com o tipo de público que ali se encontrava. Afinal, estamos a falar da nata da socialite portuguesa! Pedir a pessoas tão respeitáveis que se sentassem no chão seria, mais do que revelador de um profundo mau gosto, um exercício que em nada dignificaria a classe organizativa do evento.
Felizmente, como nunca chegámos a confirmar a nossa comparência (uma vez que não recebemos os convites), não havia crachás para nós. Tudo bem. Os Diz Que Disseiros já estão habituados a ser relegados para segundo plano. O low profile e o espírito essencialmente underground é algo que nos assenta bem.
E ganhámos assim um delicioso anonimato que nos permitiu vagabundear pelo recinto sem atrair grandes atenções.

Foi aqui que os Diz Que Disseiros se separaram temporariamente. Tinha começado a ser servido um cocktail. Aproveitando o facto do João Troviscal ter ido meter conversa com uma vedeta dos Morangos com Açúcar que se encontrava por lá, vadiei um bocadinho por aqueles corredores e recantos bafientos da Gulbenkian. Corredores esses que, se falassem, seria estranho. No entanto, é de salientar a excelente arquitectura do edifício. Não é que eu perceba do assunto, mas sei quando me sinto bem dentro de um espaço.

E a hora lá chegou.
Entrámos, sentámo-nos e o filme começou.

E Mirtilo provou ao mundo e a Portugal com quantas penas se faz uma galinha!
Simplesmente soberbo!
A história em si é simples e, no entanto, deliciosa (como todas as coisas realmente simples ou realmente deliciosas).
A acção decorre no princípio dos anos 90, quando um pedaço de meteorito – que se supõe proveniente de um resto do cometa Halley aquando da sua tournée ao sistema solar – aterra num descampado algures nos arredores do Fundão.
Uma equipa de cientistas dirige-se rapidamente para o local, apoiada por diversos agentes do SIS de óculos escuros, fatos escuros e carros com vidros fumados (viemos a saber, no final do filme, que um dos patrocinadores foi o costureiro… perdão, designer de moda Augustus, o que explica a impecabilidade dos fatos dos agentes).
Só que, chegados ao local, o meteorito estava feito em dois. E em cada uma das partes, no interior, encontravam-se duas metades duma casca de ovo, como se o choque que cindiu o meteorito tivesse aberto também o ovo.
Porém, a gema não é encontrada em lado algum. Ainda se pensou que tivesse escorrido para a terra mas análises posteriores determinaram que não.

A primeira meia-hora do filme é passada com os agentes a tentarem descobrir aquilo que julgam ser um pintaínho espacial, embora nós – os espectadores mais informados – já saibamos que evoluiu para o estado de galinha pois possui um gene qualquer que acelera o crescimento (para além de lhe dar uma dentição semelhante à de um tubarão e o faro dum coiote).
Não quero estragar o filme para quem ainda não o viu, pelo que não me vou alargar na descrição.
Queria apenas que soubessem que está uma verdadeira obra-prima. A fotografia está linda, oscilando entre um estilo muito clean de Alejandro González nos Amores Perros, ora numa onda de Pi do Darren Aronofsky, cheia de grão e película queimada (o que tem graça naquelas partes em que vemos o campo de visão da galinha, como se estivessemos dentro do animal, em modo de first person… ou first chicken neste caso…).

Muitas questões filosóficas válidas são também colocadas n’A Revolta das Galinhas.
Deveremos deixar a natureza seguir o seu curso quando ele aponta para a nossa destruição?
Será que a gripe das aves é mesmo uma gripe de aves? Ou será um virus vindo do espaço para aniquilar a nossa espécie mas sem danificar os nossos recursos naturais?
E não estará na altura de alguém desenvolver um guarda-chuva gigante (com varetas reforçadas) que nos proteja contra chuvas de meteoritos para que situações destas não voltem a ocorrer?
À falta de respostas, são questões que ficam a pairar no ar como a urina dum astronauta em gravidade zero.

Acima de tudo, gostaria de deixar uma palavra de apreço a Silvestre Mirtilo.
É graças a realizadores como ele que o cinema português está, finalmente, a sair do estado de estagnação a que esteve vetado nas últimas décadas.
Até agora, se quisessemos assistir a galinhas mutantes, com dez metros de altura, a dizimarem a população à dentada, tínhamos de ir até ao clube video. Graças a Silvestre, agora podemos ir ao cinema também (o que é agradável porque sempre se assiste a trailers de outros filmes e come-se pipocas).
Por isso, Silvestre, obrigado!
E não ligues à críticas negativas que vais ter. É inevitável quando se faz qualquer coisa com qualidade.
Ou como diria um clitóris para outro, não ligues às más línguas!


Design do cartaz A Revolta das Galinhas: Patrícia Furtado




Ainda não vi o filme nem sei se o vou ver mas os ovos faziao-me falta.


Quem nasceu primeiro, o meteorito ou a galinha?


Mais vale uma na mão que duas no soutien.


decididamente a (suposta) gripe das aves é um acto de terrorismo extraterrestre com o objectivo de aniquilar estes humanóides que por aqui andam!!

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