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Está combinado!

Marcar um encontro com alguém é, na minha opinião, uma das experiências mais angustiantes que se podem viver actualmente.
Nada como ilustrar esta teoria com um exemplo.
Há cerca de duas semanas quis jantar com um amigo A. Liguei-lhe para combinarmos o jantar para o dia seguinte. Ele disse que talvez pudesse comparecer, estando apenas dependente de um telefonema que estava à espera de receber de outro amigo B, telefonema esse que o informaria se poderia contar com ele (B) para jantar nesse dia ou não. Ou seja, se a resposta do amigo B fosse positiva, já não jantaria comigo. Em caso negativo, talvez eu tivesse uma hipótese. Obviamente que, colocada a possibilidade do jantar, recusei um ou dois convites. Resultado: o amigo B, obviamente, não lhe ligou no prazo em que disse que ligaria, e quando o meu amigo A o contactou de volta (farto de esperar), o B deixou-o em banho-maria, não lhe dando certezas de nada.
Podia continuar esta história da treta por mais um bocado, e até mais pormenorizadamente. Mas para quê? Esta é a história de milhares de portugueses por este país fora que tentam desesperadamente marcar um encontro com alguém. (e sim, acabei a comer sozinho no restaurante…)
As tecnologias móveis, por um lado, aproximam as pessoas, tornando-as mais facilmente contactáveis. Por outro, talvez por o contacto estar grandemente facilitado, parecemos ter sempre a sensação que temos os amigos e conhecidos na palma da mão, quase desprezando o contacto pessoal. Sabemos que, com apenas um saque à cowboy, podemos ligar para um colega de longa data ou enviar uma mensagem para o primo que emigrou para a Mauritânia.
Porque é que é, então, tão difícil marcar um encontro com alguém?
Talvez isto seja a minha veia britânica a falar, mas alguém é capaz de me explicar porque é que as pessoas se convenceram que são tão importantes a ponto de não conseguirem sequer dizer uma porra dum “Sim! Amanhã janto contigo!”?
O português precisa de lançar primeiro o convite para o ar, na esperança de que o amigo o apanhe. Este, por sua vez, vai comparar o convite com as outras duas possibilidades que, obviamente, não confirmou com as respectivas entidades convidativas. E após séria deliberação, após decidir qual dos convites parece mais apelativo, após decidir que é capaz de ser mais interessante aceitar um desses convites em vez de ficar no sofá a coçar o tomatal enquanto vê uma telenovela da TVi, então aí manda-nos a confirmação vital que tanto precisávamos! YES! Fomos os escolhidos! A nossa proposta de ir comer um bitoque ao Galeto conseguiu superar qualquer outro plano ou convite que possa ter recebido! UAU! Que grande palmadinha nas costas do nosso ego! É para isto que servem os amigos!
Pois eu confesso que estou a ficar farto desta merda.
Estou farto da aparente indecisão das pessoas, da necessidade de confirmação permanente de encontros, de esquecimentos por conveniência, de ter de ligar a tal dia e a tal hora para ter a certeza se tal almoço e tal jantar está de pé, de receber mensagens de desmarcações através de sms… haverá coisa mais deprimente do que receber um sms, no própria Sexta-feira, a desmarcar um jantar?
Ou de ter de pedir constantemente às pessoas para chegarem a horas aos locais? Que raio, será assim tão difícil programar a vida para conseguir chegar a horas aos sítios?
Será que este mal não se encontra espelhado nas vidas individuais das pessoas, sendo quase determinante para as metas que essas pessoas atingem ou não? Será que alguém pode ser bem sucedido e realizado se não consegue marcar um encontro sem elaborada deliberação prévia? Como é que se pode ser assertivo e exigir excelência do resto do país e do mundo quando nem sequer se tem a capacidade de chegar a horas a algum lado? Que raio de ego gigante é este que nos turva a visão e a imagem que temos de nós mesmos? Como é que chegaremos a algum lado enquanto nação, enquanto comunidade, se nem os objectivos mais simples conseguimos concretizar enquanto indivíduos?

Bem, calculo que já devam ter reparado que isto não é uma mensagem Diz Que Disseira normal. É mais um desabafo.
Por isso, deixem-me terminar com alguns apelos.
Diga que sim!
Aceite o convite à primeira.
Não se ache assim tão importante. Você não é.
Aceite o raio do almoço, lanche ou jantar!
Comprometa-se.
Corra o risco.
Deixe que a vida o surpreenda.
E viva com as consequências.
Na melhor das hipóteses, até é capaz de se divertir e olhar para as coisas de uma forma diferente, nesse dia.
Na pior das hipóteses, apanha uma intoxicação alimentar (coisa que já é facilmente tratável…).
Em qualquer dos casos, ficou liberto da responsabilidade de ter de pensar no que irá fazer do seu tempo.
Está combinado!

(e apareça a horas, já agora… aquela ideia de que tem piada ser considerado o gajo que chega habitualmente tarde só tem graça para o tipo que chega atrasado…)




lindo, vou postar no eça. beijos.


Primeiro ponto: ai que saudades do Galeto! Mudou tão pouco e sabe ainda a passado e até estamos no presente…

Segundo ponto: Bom desabafo!


hehehe, minha verve brasileira me diz que voces, em Portugal, estao se abrasileirando!Sou brasileira, e no Brasil, conseguir agendar algum jantar ou simples encontro eh coisa parecida com a hipotese daquele russo, o tal de Oparin, que supos que uma grande coincidencia advinda dos componentes da atmosfera primitiva gerou, ocasionalmente com um raio, a vida na face da terra… Concordo em genero, numero e grau com seu desabafo: Eh muito chato esse oportunismo social!! Becitos miles!


palmas virtuais para ti (clap, clap, clap)! Começava a pensar que era só eu que achava uma terrível falta de gosto as pessoas andarem a comparar possíveis compromissos sociais antes de se comprometerem nem que seja para um café. E o mais irónico é que nem por isso se divertem mais ou têm melhores amigos. Acho que sim: combinou, está combinado. E mainada!

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