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Entre o Natal e o Ano Novo

O Natal já lá vai. Acabou-se. Já chegamos ao fim desta quadra de fraternidade, solidariedade, consumismo desenfreado e sinistralidade nas estradas (bom, esta última não só é razoavelmente constante, como promete ganhar um fulgor especial no fim-de-ano que se aproxima: boas notícias para os bate-chapas e agentes funerários pelo país fora!). Enfim, como tudo, há sempre aspectos positivos e negativos: se, por um lado, já não temos de suportar a aguda dor de uma qualquer música de Natal a martelar-nos o cérebro pela milionésima vez, por outro, já não podemos vestir um fato de Pai Natal e assaltar as casas todas do bairro (ou julgavam que todos aqueles pais Natal pendurados nas varandas eram bonecos?).
É uma época curiosa, esta do Natal… É estranho como certas cortesias só são válidas no período entre 1 e 25 de Dezembro. Chegada esta altura do ano, até o indivíduo mais egoísta se transforma numa espécie de “zombie da boa-vontade”: “Tenho de ser bonzinho para este pobrezinho e dar-lhe uma esmola… NÃO posso atirá-lo para a linha do Metro…”. Eu acredito que a explicação para isto passa pela programação de Televisão. Entre o Natal dos Hospitais e os belos filmes natalícios para toda a família, parece-me que há ali uma espécie de lavagem cerebral da solidariedade à qual nem o mais empedernido misantropo consegue resistir.
Facto interessante, no entanto, é o de a programação que as nossas televisões guardam para o Ano Novo ser totalmente diferente da do Natal. Senão vejamos: neste Natal não tivemos o Música no Coração (não percebo porquê… Já nada é sagrado para esta gente?!), mas tivemos bonitos filmes familiares, como o Harry Potter, o Senhor dos Anéis ou o Comando. Sei que há quem não considere o Comando um filme natalício, mas a esses só posso dizer que estão errados: o Comando é um excelente (embora fique alguns furos abaixo do Duplo Team) e tocante filme familiar, onde é explorado o poderoso drama de um pai (interpretado pelo actual Governador da Califórnia com uma profundidade nunca vista) que vê a sua filha raptada por um sanguinário sósia do Freddy Mercury.
Em todo o caso, desta fina selecção de filmes com temas familiares e solidários que compõem a grelha da programação dos dias 24 e 25 de Dezembro, passamos para a grelha do Ano Novo que, para além dos já tradicionais programas de variedades de fim-de-ano gravados há 3 meses, consiste basicamente em GAJAS NUAS. Ele é o Crazy Horse, ele é o Orquídea Selvagem, ele é o Especial Playboy Bombeiras Fogosas, etc.
Esta singela semana que atravessamos é, pois, um desconcertante período de transição. Uma altura em que, tendo ainda bem presentes os valores altruístas do Natal, já antecipamos as loucuras do Ano Novo; uma época em que tão depressa pensamos coisas como «Ah, que bonito presépio…», como em «Oh, sua badalhoca! Gostas de te agarrar à mangueira, não é?».
Ao mesmo tempo, é a forma que as televisões têm de nos chamar de volta “à realidade”. Uma espécie de tratamento de choque, uma desintoxicação dos Natal. A mensagem subterrânea que é transmitida é: «Lembras-te dos valores espirituais que enaltecemos em conjunto há uns dias atrás? Esquece isso, são delírios sazonais… É tempo de voltares ao mundo real: o mundo da carne e dos prazeres mundanos. Esquece a solidariedade e a fraternidade. É altura de voltar a pensar no que realmente importa: TU! Abandona-te a hedonísticos deleites! embriaga-te! As pessoas internadas nos hospitais, a pobreza, a solidão; que importância têm?! Toma lá umas nádegas firmes e uns seios bem delineados! Gostas, não é? Isso é que é preciso…».

Bom ano a todos!




Estás enganado. No Natal e no intervalo de um filme infantil, apareceram GAJAS NUAS.Ah! Ah! Ah!


Tenho lido algumas “sátiras” ao espírito natalício que se evapora num instante e esta é uma das melhores!
Clap clap…

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