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O calão

Se eu começasse esta filha de puta de mensagem dizendo asneiras para caralho, você provavelmente pensaria que alguma coisa não estava bem nesta merda de site, certo? No entanto, as asneiras aqui transcritas (e entenda-se que foram apenas transcritas e não proferidas…) fazem parte da cultura e da Língua Portuguesa tal como a conhecemos.
Digamos até que talvez estas expressões sejam mais utilizadas do que quaisquer outras. Aquela velha anedota de “qual é o pó que mais se vende em Portugal? É o pó caralho!” ilustra claramente o ênfase dado a expressões populares, vulgo brejeiras, e o seu claro afastamento dos cânones filologistas da constituição da Língua. A nosso ver, esta situação é provida de uma injustiça sem igual!
Em nenhum outro dicionário de qualquer país dito evoluído estas palavras se encontram censuradas. Este clima de correctice política, quando abrange áreas como a Língua que falamos, torna-se descabida e descontextualizada.
É preciso que se perceba uma coisa. O facto de eu dizer caralho ou foda-se em público, nos dias que correm, não deveria ser entendido como uma arma de classificação social. Infelizmente, a maior parte das vezes é. É impossível amar a nossa Língua em toda a sua plenitude sem sermos considerados excêntricos, ou puros e simples barraqueiros.
E esta cultura de auto-censura não parece ser benéfica para ninguém. Não estamos aqui a falar de casos de filmes e séries televisivas nacionais que, numa vã tentativa de captarem um público mais “alternativo” e “irreverente”, usam e abusam do calão, às vezes sem sentido aparente (o que torna a experiência final ainda mais asquerosa). Estamos a falar do facto das palavras serem, até melhor alternativa, um veículo para a construção e transmissão de ideias. Não sendo um erudito ou sequer um escritor (pelo menos de qualidade…), corrijam-me se estiver errado, mas estou em crer que cada palavra que se retira ou auto-censura da nossa comunicação simboliza um mundo e um conjunto de relações que se perderam.
Os ingleses, por exemplo, no que toca a comédia, cinema e mesmo televisão (de uma forma mais particular), são bastante mais abertos às diversas manifestações de níveis linguísticos. Usam-nos até, com grande êxito, em marketing e publicidade. E não se fala nos jornais e nas televisões do “linguajar alarve” que série X ou comediante Y empregou na noite anterior, pois não?
Porque é, então, que no nosso país, país esse detentor de uma das mais belas e expressivas Línguas à crosta do planeta, se mantém esta cultura de auto-mutilação linguística?
Meus amigos, na hora H, podem ter a certeza que nada substitui um caralho ou um foda-se! bem colocado no contexto. É para isso que as palavras existem: para serem utilizadas. Se a comédia, em particular, deve ser um exercício de livre troca de ideias entre um comediante e um público (não era Bill Hicks que dizia que os comediantes eram as únicas pessoas que tinham carta branca para dizer o que quisessem?), então haver uma limitação linguística, à partida, parece um bocado castrante para esse mesmo exercício. É o mesmo que andar de Ferrari, mas com um Ferrari que está limitado aos 60 Km/h. Será que é por isso que o Levanta-te e Ri ainda não me arrancou uma única risada? Não por ter “falta de asneiradas” mas porque eu sei, com certeza quase absoluta, que não estou a ver comediantes mas sim contadores de anedotas que têm de ter cuidado com o que dizem?
Não sei.
E enquanto não se chegam a conclusões, enquanto não aparece o próximo José Vilhena ou o próximo Herman José, mais vale continuar a escrever em sites e blogs. E o resto que se foda! (com o devido respeito, claro…)




eu uso e abuso do palavrão mais cabeludo, n gosto. detesto ouvir mulheres a dizer palavrões mas adoro dizê-los. faço o com convicção mas faço demais. acho que em tv se dizem demasiados palavroes. recorre-se a isso para se fazer rir e mal. larga.se um peido, um arroto ou um caralho, foda se e o povo ri. isso é comédia de merda. lá está, no contexto é só mesmo o k sai, o q natural e é bom. é como o sexo…


Concordo em absoluto. O problema é que em Portugal há um paradoxo, a meu ver, muito grave no uso do palavrão. Ora há grande constrangimento no uso de um bom “foda-se” que exprime toda uma panóplia de sentimentos de uma forma muito superior a qualquer “que se lixe”, ora por outro lado há uma pseudo-abertura que resulta no uso desmedido de palavrões por metro com o intuito de – supostamente – ter piada, não deixo a acusação no ar: estou mesmo a falar do Rocha.

Está certo que o homem tem a sua forma de fazer rir, exagera na caracterização das personagens, é mais expressivo e excentrico que um actor de teatro dopado, e nisso reconheço-lhe valor como reconheço por exemplo ao Jim Carrey que também prima por essa excentricidade (embora mais elaborado e pensado e menos rude). Mas a questão é que enquanto um “bardamerda” bem inflingido é olhado em tom reprovador (sim, aqueles olhares com tom tão a ver?), um “ladys and gentlemen, puta que pariu, ouve lá é para o bujão” é aplaudido por dezenas de trolls.

É a meu ver uma questão de acção de grupo, como se criou o culto, e como o culto começou em grupos de amigos que ouviam o CD do Rocha em conjunto, ou em grupos que o viam no inicio do programa em que figura, ou por individuos isolados em casa longe das constricções da sociedade a vê-lo na TV ou a ouvi-lo em mp3, tornou-se aceitável, enquanto que em público um qualquer palavrão ainda é visto como uma nódoa no discurso de qualquer cidadão…


mais um texto digno de conhecimento público…tenho k passar esta mensagem a todos os k me rodeiam…!


Não andarás a ler Miguel Esteves Cardoso a mais?

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