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Ares condicionados

Toda a gente adora os ares condicionados, não é? Parece que foi a melhor invenção da História da Humanidade, isto dos ares condicionados… Não há limites para a euforia colectiva relativamente aos ares condicionados. Tudo bem, nós sabemos que aquilo, no fundo, é um excessivamente caro viveiro de microrganismos prejudiciais para a saúde, sabemos que a exposição a este invento é uma aposta segura para apanhar uma pneumonia (ou, pelo menos, uma valente constipação); sabemo-lo, mas não ligamos nenhuma! E porquê? Será por conforto? Nem pensar nisso! A verdadeira razão exige uma explicação mais psicanalítica, para além do mero hedonismo de ter uma sala a uma temperatura amena: eu acho que, bem no âmago do nosso ser, nós estamos dispostos a arriscar uma temporada de febre na cama, em troca da sensação de poder divino que resulta da capacidade de ter controlo sobre o clima. Pegamos no comando e, a um nível consciente, pensamos «Bom, vamos lá ligar o ar condicionado…» mas, no nosso inconsciente, uma grandiosa e ribombante voz exclama «AH! AH! AH! AH! AH! Os rigores do clima não me fazem frente! Armado com esta gloriosa conquista do engenho humano jamais terei de me vergar perante a bruta natureza! Se assim o desejar, suarei em pleno Inverno, e tremerei de frio no ardente Verão…».
Bazófia e ilusões de grandeza deste tipo podem, numa certa medida, ser salutares. Mas escondem, também, um grande perigo: muitas das vezes descambam na patologia mental, na psicose pura. No caso dos ares condicionados, assiste-se frequentemente a uma esquizofrenia sem retorno.
Creio que esta “esquizofrenia dos ares condicionados” já foi descrita e debatida no seio de algumas escolas mais vanguardistas da psicanálise. No mainstream do divã, contudo, continua-se a fazer de conta que não existe… Porquê, não sei. Facto é que esta patologia está por todo o lado, sendo facilmente observável, em particular, nestes dias de chegada do tempo frio. A esquizofrenia dos ares condicionados caracteriza-se por um propensão irresistível para regular o ar condicionado para a temperatura mais diametralmente oposta à que se faz sentir no exterior, independentemente do conforto ou desconforto que tal acto poderá ocasionar. Concretizando: se estiverem 10 ºC na rua, o esquizofrénico regula o ar condicionado para os 30 ºC; se estiverem 30 ºC na rua, ele ajusta-o para os 10 ºC.
As consequências são nefastas não só para o afectado pela patologia (que passa a ter grandes dificuldades na sua vida social), mas também para os incautos que se arriscam pelos territórios controlados pelo doente. Azaradas são as tardes de Verão passadas no cinema, em que nos arrependemos de não ter trocado os frescos calções por uma daquelas mantas polares que os alpinistas usam nas tendas quando vão escalar o Evereste; e quão desconfortáveis são os dias de Inverno em que os nossos agasalhos quentinhos ficam encharcados em suor por nos enfiarmos nos escritórios tipo sauna, só que sem o cheirinho a eucalipto…
Nesta altura em que se volta a falar em referendos, eu acho que mais importante para o povo português que o aborto, é esta questão do ar condicionado. Acho que todos os portugueses e portuguesas deviam de ser chamados às urnas para responder a uma pergunta simples: «qual a temperatura ideal para um ar condicionado?». O resultado deste referendo teria, naturalmente, um poder vinculativo e, de aí em diante, todos os fabricantes de ares condicionados seriam obrigados por lei a criar aparelhos que funcionassem a uma só temperatura; sem ajustes. Não seria a vida muito mais feliz e simples desta forma?
Até lá, acho que vou começar a levar uns calções e uns chinelos de enfiar o dedo para o emprego…




Apoiado! Acabemos de vez com todas as desavenças criadas por este aparelho!


Isto traz-nos de volta àquela eterna questão de quem é que mata pessoas: as armas ou as pessoas? (pessoalmente, acho que são as balas, mas isso é a minha opinião…)
Eu adoro o ar condicionado do meu quarto! Gosto tanto dele, aliás, que fico possessivo. Sempre que tenho companhia mais íntima nem sequer a levo ao quarto. É para isso que existem dois sofás na sala.
Tenho a minha temperatura regulada para 24 graus, sempre. É uma temperatura amena para o nosso país, incapaz de causar grandes contrastes entre o que se passa na rua, e fora da zona de perigo de pneumonia.
Eu voto em qualquer coisa entre os 23 e os 25 graus!


Ba muito bom!
nesse exato momento estou no trabalho, sobrendo com esse maldito ar condicionado, mas minhas amadas colegas de serviço adoram.
É dose.

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