Recherche du Temps Perdu
Já me tem acontecido estar em Elvas e, a seguir ao almoço (que é quando apetece uma coisinha doce), ter vontade de ir a Badajoz comprar uns caramelos. Meto-me no carro por volta das duas da tarde e faço-me ao caminho. Quando chego, porém, bato com o nariz na porta (aquelas portas de vidro são um perigo!) porque lá são três da tarde, e os empregados estão todos na siesta.
Sempre atribuà estes infelizes acontecimentos (entre voltar sem caramelos ou passar umas horas em Espanha à espera que as tiendas abram, venha o diabo e escolha!) à diferença de fusos horários existente entre Portugal e Espanha. Contudo, uma descoberta que fiz recentemente mostra que a realidade pode ser outra: estou em crer que os espanhóis têm uma concepção de tempo própria e completamente distinta da nossa (se calhar até foi por isto que o D. Afonso Henriques entrou em guerra com aquela malta).
A evidência que sustenta esta chocante revelação descobri-a eu, não muito surpreendentemente, no maior bastião espanhol em Portugal: o El Corte Inglés, pois claro! Na secção de restauração (se é que se pode chamar restauração à quilo) desta grande superfÃcie está um cartaz que anuncia uma promoção de tostas. Tirei umas fotografias ao mesmo com o telemóvel.
O fotógrafo pede desculpa pela fraca qualidade das imagens mas, para além do equipamento não ser o melhor, ainda estava sob o efeito atrofiante de um destes menus.
Como poderão constatar, é logo anunciado, em letras garrafais, que se trata do “MENU DA QUINZENAâ€, no entanto, o olho mais atento notará uma inscrição, em letra miudinha, que tem tanto de bizarro como de desconcertante: “Válido de 1 a 30 de Setembro de 2005â€.
Ora, nós em Portugal não chamamos a isto “quinzenaâ€. Chamamos… Ora deixa cá ver se me lembro… É uma palavra mais invulgar do que quinzena… ãããããhhh… MÊS! Sim, é isso! Um mês que, curiosamente, tem uma relação engraçada com a quinzena: é aproximadamente o dobro (esta explicação foi só para o caso de haver alguns espanhóis a ler isto, o que é extremamente improvável).
Eu tentei encontrar explicações para este intrigante placard. Poderão os espanhóis ser irremediavelmente estúpidos? É uma resposta tentadora mas, tendo em conta o nÃvel de vida francamente superior ao nosso que este povo tem, se calhar o melhor é explorar outras opções. É possÃvel que o criativo que projectou o anúncio não estivesse suficientemente familiarizado com com a nossa lÃngua (todos sabemos que os espanhóis são absolutamente incapazes de perceber uma palavra que seja da lÃngua de Camões, respondendo-nos sempre com um tÃpico “no comprendoâ€; ou, pelo menos, quando não lhes convém perceber) e não soubesse que o perÃodo que apresenta corresponde, no nosso léxico, à palavra “mêsâ€. Esta explicação não é completamente implausÃvel, tendo em conta que em castelhano a palavra se diz de forma totalmente diversa (se não estou em erro é qualquer coisa como “mesâ€), mas mesmo assim parece-me estranho. A única alternativa que resta é, parece-me, a que apresentei no inÃcio: os espanhóis têm uma noção de tempo que colide violentamente com a nossa e, possivelmente, com a de todos os outros paÃses. Atravessar a fronteira é entrar num mundo à s avessas onde uma quinzena dura um mês e a hora de almoço dura cinco horas.
Estes gajos têm mesmo de ser diferentes…
A siesta bem que podia começar a fazer parte dos nossos hábitos.Adoooooorava.
Heidi // 12.09.2005
[…] Foi com um tremendo orgulho, e até alguma comoção, que constatei hoje um facto irrefutável: o DQD é um poderoso lobby a ter em conta na vida social portuguesa. É verdade! De resto, eu já desconfiava que aquilo que por aqui escrevemos tem uma influência profunda e actuante sobre os mais variados quadrantes da nossa sociedade. Pois bem, hoje tive a confirmação… Mas antes disso, será importante recuperar um texto por aqui publicado há uns tempos. Chama-se “Recherche du Temps Perdu” e os leitores menos assíduos (o que é que anda a fazer?! Devia ter vergonha! Doravante quero-o aqui todos os dias!) podem lê-lo aqui. […]
Diz Que Disse » DQD: o lobby // 03.10.2005