siga-nos nas redes
Facebook
Twitter
rss
iTunes

Esfrega-esfrega

Está no mercado um produto que parece destinado a revolucionar o mundo da higiene dentária: os Oral-B Brush-Ups. Pelo aspecto, parecem ser um primo não muito afastado daqueles preservativos com textura rugosa (para maior estímulo), só que desenhados para se adaptarem a esse outro apêndice a que chamamos dedo indicador. Assim, as tardes passadas a embirrar com os bocados de Bacalhau à Zé do Pipo, que insistem em ficar presos entre os dentes, chegarão ao fim: basta enfiar o dedo no Brush-Up, e esfregar os dentes para uma limpeza imediata e uma frescura duradoura – sem água, pasta dentífrica ou espuma!

Brush-Ups
O Brush-Up em toda a sua glória. Disponível num discreto verde fluorescente ao qual a imagem não faz justiça.

A principal vantagem deste invento é, segundo os cientistas que passaram anos a desenvolvê-lo, possibilitar uma higiene oral eficiente a qualquer hora e em qualquer lugar.
Não rejeito em absoluto o possível interesse deste invento. De facto, consigo imaginar algumas situações em que, se funcionar eficazmente, poderá ser bastante útil. Mas também não consigo partilhar do entusiasmo e do à-vontade que a Oral-B parece advogar. É que somos levados a crer, por estes senhores, que podemos usar este objecto em qualquer situação. Quando é que sacar de um bocado de borracha (ou lá o que é aquilo), aplicá-lo no indicador, e desatar a escarafunchar a boca como se não houvesse amanhã se tornou numa actividade socialmente aceitável? Tudo bem: já não precisamos de uma casa de banho para lavar os dentes – mas não transformemos a limpeza estomatológica num rocambolesco espectáculo público! Eu sempre achei que a higiene pessoal deve de ser isso mesmo: algo de pessoal que deve de ser confinado à privacidade das instalações sanitárias.
Mas enfim… Se calhar sou eu que tenho uma mentalidade retrógrada… É possível que, na realidade, a sociedade já esteja preparada para novos comportamentos no âmbito do aprumo do corpo, preparada para um “liberalismo higiénico” como antes nunca se viu. Afinal, a partir do momento em que há pessoas a cortar as unhas nos transportes públicos, praticamente tudo fica automaticamente legitimado (menos, talvez, substituir um penso higiénico usado). Que tipo de vida levam estas pessoas para só terem tempo de cortar as unhas quando estão rodeadas de cem estranhos?! O que é que se passa?! Terão uma rotina tão impiedosa, com uma agenda tão preenchida, que têm de aproveitar a viagem de comboio ou de Metro para realizar esta actividade? Se eu fosse um tal escravo do relógio, mais depressa ponderaria sobre qual a melhor maneira de me suicidar servindo-me do corta-unhas (aquela lima, espetada com força contra a carótida, é capaz de fazer o serviço…), do que usá-lo para a manutenção da ponta dos dedos. Ou será que é uma expressão de um retorcido narcisismo (como quem diz: «Já viram o meu corta-unhas? Gostavam de ter um assim, não é, meus palhaços? Gostam da imagem da Nossa Senhora na alavanca, hem? Pois, mas é meu, e na loja dos chineses onde o comprei por um euro já não há mais!»)? Ou será que o fazem só mesmo pelo gozo? Será que estes indivíduos alimentam a sádica esperança de poder, um dia, vislumbrar um esgar de dor de um dos companheiros de viagem, após um dos seus pedaços de unha sair disparado do corta-unhas (a 82 Km/h, segundo os estudos mais recentes), e se enterrar com violência no globo ocular do inocente passageiro?




tão estranhos como aqueles que cortam as unhas, são aqueles que, munidos de um fósforo ao qual retiraram a cabeça, escarafuncham os ouvidos, para tirar a cera dos ditos (e sim, já vi acontecer).


Se vocês acham isto nojento, esperem até surgirem os primeiros Anal-Brush-Ups! No fundo, com o preço da água a subir vertiginosamente devido às secas, somos bem capazes de assistir ao nascimento de toda uma gama de produtos de higiene (im)pessoal que dispensem a necessidade de uma boa banhoca! Vai ser diversão para a cidade inteira!!


Juntem a isso tudo… O CHEIRINHO.


Descobri, entretanto, que em Portugal este maravilhoso invento não se chama “Brush-Ups”, mas “Brush-AWAYS”. A razão pela qual este produto teve direito a um nome diferente para o mercado nacional é, no entanto, algo que me escapa completamente. Será que houve algum português a dizer aos tipos da Oral-B Internacional que o produto que eles se preparavam para lançar por cá, tem um nome que se presta a trocadilhos mais ou menos obscenos e eles, cautelosamente, mudaram-no (um bocado como aconteceu com a Rexona que, durante anos, se chamou, só em Portugal, “Rexina”)? Se tiver sido este o caso, faz lembrar aquela anedota do Sr. António Merda que foi ao registo mudar de nome para… Manuel Merda!

Deixe o seu comentário