Enganam-se todos aqueles que julgam que os super-heróis apenas operam nas grandes cidades.
Vila Real, por exemplo, também teve o seu super-herói de eleição, hoje glorificado através de uma imponente estátua que podemos observar no centro histórico da cidade.
Não é necessário gramar um programa de José Hermano Saraiva para saber a verdade acerca de Carvalho Araújo. Na realidade, basta olhar para a estátua.

Qualquer homem dotado de um mínimo de humildade consegue reconhecer grandiosidade quando esta se encontra escarrapachada em frente ao seu focinho. Carvalho Araújo foi, como os populares gostam de lhe chamar, o Super-Carteiro!
Tal como todos os super-heróis, viveu uma vida curta. Mas nem por isso menos fantástica.
Os cidadãos mais idosos de Vila Real, na altura meninos imberbes e ranhosos, contam como Super-Carvalho dinamizava a entrega matinal do correio através de uma pontaria ímpar que lhe permitia introduzir cartas e postais em caixas de correio, tudo a partir de um ponto central no jardim principal da cidade.
Super-Carvalho não se limitava a entregar cartas e volumes postais. Era também o maior amante de Vila Real e arredores, satisfazendo os desejos mais profundos e proibidos das maçadas donas de casa, garantindo assim uma estabilidade conjugal sem paralelo a inúmeros casais. Isto para não falar dos muitos gatos encurralados nas copas das árvores, situação que facilmente resolvia serrando as ditas árvores com a sua poderosa dentição.
No fundo, é de louvar o amor e a dedicação dos povos menos metropolitanizados às gentes da sua terra. E a erecção de uma estátua a Carvalho Araújo serve apenas para provar o estado de coma criativo que se vive em Hollywood. Quando apenas seres picados por aranhas radioactivas ou bilionários que convivem intimamente com morcegos são glorificados cinematograficamente, sabemos estar na presença de uma indigência criativa que só encontra parceiro capaz nos mais bestiais filmes pornográficos alemães.
No entanto, Carvalho Araújo jamais será esquecido.

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