siga-nos nas redes
Facebook
Twitter
rss
iTunes

Um desabafo sofrido

Oh, não! Amanhã faço 30 anos!
30 é um número com peso. É a terceira década. É oficial. Estou a meio caminho da terceira idade. Estou prestes a entrar para o clube daqueles que dizem coisas como “Não, não me sinto com 30 anos. Na verdade acho que vou ser sempre jovem de espírito.” e merdas deste género.
Estou também a chegar à idade em que tenho de começar a pensar mais na minha saúde, em que tenho de me inscrever no tal ginásio da moda, em que tenho de começar a lavar o carro regularmente, em que tenho de começar a comprar aquelas revistas masculinas cheias de informação superficial misturada com fotos de carros e mulheres, em que tenho de me mostar interessante, em que tenho de achar piada aos primeiros cabelos brancos, em que tenho de me continuar a sentir atraente para o sexo oposto, e em que tenho de ser mais responsável pois fica mal a um trintão estar a fazer coisas como andar a escrever ao Patriarcado de Lisboa pedindo-lhe para colocar o Cristo Rei sobre uma placa giratória…
Na verdade, ao contrário da maior parte dos trintões e trintonas que conheço, não me sinto nada bem.
Que se fodam os trinta anos! Que se foda o envelhecimento! Que se foda o “Ahhhh!” que faço cada vez que me sento num sofá!
Vai ter de me acontecer muita coisa boa na próxima década para me convencer que é mais divertido fazer 30 do que 20.

Por isso, simples e directo porque as últimas horas dos meus 29 anos assim o urgem, eis uma lista de coisas que gostava de ter feito durante os meus 20’s e não fiz:

Рgostava de ter comido menos 500 quilos de carne: assim, tinha poupado pelo menos uma vaca e um porco, animais que at̩ acho engra̤ados;

Рgostava de ter fumado menos 50 ma̤os de cigarros: eram menos uns pregos para o meu caix̣o e menos uns tost̵es para a ind̼stria tabagista;

– gostava de ter pedido desculpa a um montão de gente: nomeadamente a duas ex-namoradas pelo sofrimento que causei, àquele gajo a quem dei um estalo no meio do trânsito por me ter chamado um nome feio num semáforo na descida para Belém (ele não tem culpa de não ter um vocabulário mais abrangente), e a todos os amigos e conhecidos a quem não liguei ou não respondi sob a desculpa de que estava ocupado com trabalho;

– gostava de ter sido mais correcto nalgumas situações: ocorre-me, por exemplo, que não me devia ter baldado a uma ou outra aula na universidade por ter estado a fumar carradas de erva com colegas na noite anterior, devia ter levado o meu falecido cão Romeu à rua mais algumas vezes e devia ter tido uma prestação melhor no emprego que tive no meio publicitário antes de ter descalçado a bota;

Рgostava de te me ter esfor̤ado um pouco mais em geral: em vez de contar com as minhas capacidades natas para me desenrascarem da maior parte dos problemas que atravessei;

Em suma, e ao contrário da tendência comum que observo nas pessoas da minha idade, não acho que os trinta anos sejam apenas uma barreira mental. Não me sinto ansioso. Sinto que algo me está a ser roubado, por estranho que pareça.
Sinto-me triste, revoltado, chateado, fodido, enganado pela vida.
Estou um pouco como o Santana Lopes que, após ter levado uma coça monstruosa nas últimas eleições, acha que vai fazer bem permanecendo na Câmara de Lisboa pois não se atreve a acreditar que tenham deixado de gostar dele.
Não me atrevo a acreditar que vou ficar diferente depois do dia de amanhã.
Por um lado quero evoluir e crescer. Por outro, quero que tudo fique na mesma.
Curti que nem um sacana nestes dez anos que passaram!
E, no entanto, continuo a achar que não fiz nada de especial.

E depois ainda dizem que as mulheres é que são complicadas…

Moral da história: venham daí a Maxmen, a FMH, a inscrição para o Holmes Place, a lavagem do carro naquelas estações de serviço em que somos nós a lavá-lo, conversas filosóficas à mesa com amigos e olhares concupiscentes às miúdas à saída dos liceus e universidades! Se vou entrar nos 30’s, que o faça em beleza!

Pensem nisto, seus vintões acriançados…

Deixe o seu comentário