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Publicidade citadina

Os leitores mais assíduos deste blog já devem saber que adoro passear de taxi em Lisboa. Não por vontade. Mais por necessidade. Nunca tenho muito tempo a perder e os sítios onde vou, ou ficam perto de uma estação de Metro, ou sou forçado a apanhar um taxi.
Ora hoje ia para uma reunião nas Produções Fictícias, ainda por cima atrasado por causa do trânsito, quando – aliviado da tarefa da condução – deixei a vista deambular pelas paredes desta nossa linda cidade.
E adorei aquilo que vi!
Não há edifício ou esquina que não esteja abrilhantado com publicidade da mais variada espécie.
E é isso que gostaria de analisar neste momento.
Dei-me ao trabalho de contar o número de cartazes e posters que vi pelo caminho, e cheguei a conclusões interessantes.

No quinto lugar do Top5 de publicidade de rua, temos os cartazes de Manuel Maria Carrilho.
Adoro-os! Não tanto como os do Carmona Rodrigues (já lá vamos), mas achei-lhes piada pois não sabia que tinha sido o sr. Carrilho o responsável pela construção da Ponte 25 de Abril. A ver pelo enquadramento da fotografia, com o dito senhor do lado esquerdo, e uma imagem proeminente da ponte 25 de Abril num plano alargado, senti-me invadido por uma sensação de ignorância extrema. Afinal, sempre pensei que o responsável pela edificação da ponte tivesse sido o Salazar. Isto só prova como nos podemos enganar e como o facto de acertamos na maior parte das perguntas do Um Contra Todos não é sinónimo de cultura geral desenvolvida.

No quarto lugar do Top5 vêm, então, os cartazes de Carmona Rodrigues. Ainda não me decidi sobre qual gosto mais (alguém tem imagens ou fotos destes cartazes para se pôr aqui?).
Há um cartaz em que Carmona figura no meio de um montão de gente e que diz qualquer coisa como “Lisboa para todos”. Estão lá todos os icons como mandam as boas regras de campanha. O branco, o preto, o oriental, a senhora de idade, o jovem estudante, o trabalhador de meia idade, a rapariga com a criança ao colo e o cegueta mongolóide. Ninguém foi esquecido.
Mas o cartaz que mais gosto é aquele em que Carmona está a arregaçar uma manga, junto ao slogan “Vamos a isto Lisboa”. (não, não me esqueci da vírgula antes de Lisboa e que separa o vocativo do resto da frase: é mesmo assim que está escrito no cartaz). Ficamos na dúvida se aquele arregaço de manga de camisa significa que Carmona vai trabalhar pelo bem da cidade, ou se quer dizer qualquer coisa como “Vamos a isto Lisboa, que eu parto-te a tromba toda!”. Acho este cartaz um pouco ambíguo. Não se percebe se implica vontade de trabalhar ou propensão para a violência. E como a ambiguidade é um factor letal numa campanha, achei-o ironicamente mal conseguido.

No terceiro lugar do Top5 encontra-se o grafitti. Quando falo de grafitti, não me refiro apenas a essa forma de arte urbana (alguma dela bem interessante). Refiro-me a mensagens como “Ana, perdoa-me!” (se você fosse a Ana, o que é que faria?), “Estar sóbrio é que me vai permitir destruir o sistema por dentro” e merdas desse género. Continuo a achar interessante como há pessoas que se dão ao trabalho de comprar uma lata de tinta para escrever estas tretas nas paredes e – muito provavelmente – esperar que surtam algum efeito (o que suscita algumas dúvidas no caso do gajo que afirma estar sóbrio…).

Em segundo lugar temos os cartazes publicitários do novo livro de Margarida Rebelo Pinto. Eu não tenho nada contra a mulher e, para ser franco, não li o último livro dela. Mas acho piada que exista uma indicação no cartaz que denota “50 mil já leram”. Ora se 50 mil já leram aquele livro, porque raio é que se deram ao trabalho de fazer cartazes depois disso?! Acho que não há dúvidas relativamente ao embalo de vendas que o livro leva, pois não? Será necessário emporcalhar a cidade para vender mais alguns exemplares? Giro, giro, seria se dissesse algo como “9 950 000 ainda não leram”. Assim a mensagem seria especialmente dirigida à maioria ignorante e não a uma minoria esclarecida.

E em primeiro lugar temos os MILHARES de folhas A4 espalhadas por tudo o que é espacinho livre (às vezes, até por cima de outros cartazes) a dizer coisas como “Computadores – Reparações – Ligue 93 123 45 67”. Será que há assim tanta gente a pensar “Porra! Logo agora que precisava de acabar este relatório é que se me f%&$u o computador! Ã’ Rui, aguenta aí o posto que eu vou ali abaixo sacar o número de telefone de um cromo qualquer que vi numa folha colada no pilar dum viaduto!”.
Numa época em que os vírus informáticos, incompatibilidades idiotas, spyware e spam são o prato do dia, confiar num “anúncio” destes não é mesmo estar a pedi-las? É quase como acabar a refeição num restaurante em Chelas, mesmo após termos reparado que o cozinheiro tem uma ferida aberta numa mão e que se encontra um penso ensanguentado misturado no nosso puré.

E pronto.
Eis a minha breve análise da publicidade semi-clandestina que opera actualmente em Lisboa.
Para quando um poster muito simples e clean, branco no preto, a dizer qualquer coisa como “www.dizquedisse.com – Faça o que fizer hoje, não leia este site!”?

Pensem nisto, seus quase-sóbrios publicitários reprimidos…

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