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O décimo primeiro mês

Quer ficar por dentro? Leia as mensagens anteriores (“A Sorte Grande”, “O primeiro mês”…, …, “O décimo mês”) e saiba do que é que se está para aqui a falar. Se não quiser fazê-lo, o problema é seu. Não é, meu amigo?

Se há coisa que me chateia observar na televisão de quando em quando são aquelas exposições caninas de ditos cães de “marca”. Que eu saiba, todos são cães. Canis familiaris. E ao observar semelhantes exposições, apenas me revolto contra a pomposidade e ostentação dos seus bimbos donos que, esses sim, deviam ser casos de estudo e exposição pública.
Por isso, porque não fazer uma exposição dedicada aos donos de cães de exposições?
À partida, eles não aceitariam semelhante proposta. Pelo que teria de se mascarar o evento de alguma índole social. Poder-se-ia informar todos os visados, por exemplo, que esta exposição de leve tom teria o intuito de recolher fundos de bilheteira destinados ao auxílio da União Zoófila e instituições similares (e porque não fazê-lo mesmo, no final?).
É claro que a realidade seria outra. Com a lista de participantes nas mãos, um grupo de humoristas (ocorre-me, despropositadamente, que poderiam ser os Diz Que Disseiros) dedicar-se-ia a criar uns quantos cartazes e placards informativos que seriam colocados junto aos stands onde os criadores e donos estariam expostos. Nesses cartazes poderiam estar inscrições como:

Ana Cláudia Fonseca
38 anos
Divorciada
O marido deixou-a sem nada, tal como quando a conheceu
Encontra-se a pagar a operação plástica aos seios com crédito de 5 anos na Corporación Dermoestética
Teve de se mudar para a Reboleira, pois já não tem condições para morar em Cascais
Por favor, contribua para a causa da Ana Cláudia, evitando assim que ela continue a decorar os seus cachorros como forma de compensação psicológica

E por aí fora.
Estes placards, obviamente, só seriam colocados após a exposição ter começado e os donos estarem nos seus respectivos pedestais.
É claro que não ficaríamos por aqui. Enquanto os donos estivessem na exposição, uma equipa de cabeleireiros de animais dirigir-se-ia às casas dos ditos cujos e faria verdadeiras obras de arte com o pêlo dos seus animais de competição. Pinturas com sprays, tosquiadelas com aparência de terem sido efectuadas pelo Stevie Wonder, perucas à Ziggy Stardust e fatos sado-masoquistas de cabedal seriam aplicados aos animais, cujo propósito seria mostrar aos donos que – por mais humilhações que possam sofrer – é sempre possível ir um pouco mais abaixo. Tudo isto sem prejudício e com o melhor dos tratamentos para os bicharocos, claro, que culpa alguma possuem no processo.
Na FIL, enquanto que todos riam e apontavam para os expositores, em jeito de chacota, lendo os placards que as partes visadas desconheciam, estava na altura da surpresa da noite.
Centenas e centenas de cachorros rafeiros, abandonados, retirados das ruas e dos canis municipais, entrariam pelo recinto adentro, latindo ferozmente, urinando e defecando por todo o lado, e montando verdadeiras guardas à volta dos espaços de exposição, obrigando os donos queques a permanecerem imóveis nos seus lugares. Entraria então em acção uma equipa de fotógrafos que registaria um conjunto enorme de fotos para a posteridade, enviando dezenas delas gratuitamente para todas as revistas de canídeos de competição.
No final da exposição, confrontados com a humilhação que sofreram e cheios de vontade de processar os organizadores dos eventos, os advogados do DQD sentar-se-iam a uma mesa com os ditos donos. Explicar-lhes-iam que, quando assinaram os papéis em que se comprometiam a colaborar na exposição, deviam ter olhado melhor para a cláusula que determinava que a sua participação estava sujeita aos termos e condições da entidade organizadora.
E enquanto o fungagá legal de donos versus advogados tomava lugar, noutro espaço da FIL tomava lugar um leilão destinado a encontrar casas para os centenas de cachorros que “decidiram” participar na brincadeira.

Moral da história: de facto, o cão é o melhor amigo do homem. O que esta expressão não explicita é se a cadela é ou não a melhor amiga da mulher. Mas tudo indica que sim…

Pensem nisto, num mundo melhor…

PS: na realidade, não me encontrava muito inspirado hoje. Mas como tive alguns minutos para vir aqui deixar uma mensagem, não quis perder essa oportunidade. O que prova que a inspiração é como a vontade de trabalhar: só vem quando lhe apetece…

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