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Candeeiro de pescoço partido

Um dos meus candeeiros torceu o pescoço!

Não avanço já a sugerir que o pescoço esteja partido, por diversos motivos:

1. Não sou especialista em candeeiros
2. Não sou especialista em pescoços partidos

Posto isto, quando se ouve falar que alguém partiu a pescoçada, normalmente isso é uma forma um pouco mais simpática de dizer que a pessoa faleceu ou que ficou inutilizada para o resto da vida. Eu prefiro acreditar que isso não se passa com o meu candeeiro.

No entanto, não consigo evitar que me apareçam agora imagens na cabeça, à laia de pequenos flashbacks, do dia em que comprei este candeeiro num armazém chinês situado num parque industrial em Coina. Ele pareceu-me tão lindo, tão original e tão único, que não consegui evitar comprar dois deles!
É verdade.
Aqui está a foto do irmão dele, situado num outro canto da sala.

Ao voltar para Lisboa, e olhando para o banco de trás, ali estavam eles. Queridos, juntinhos, assustados mas entusiasmados com a perspectiva duma vida melhor. Desmontados dentro de embalagens planas, com abat-jours a fazerem de chapéus, como se de uma mini-central nuclear se tratasse.
Olhei nos olhos daquela que, na altura, era a minha mulher, e uma lágrima escorria-lhe pela face. “Querido”, disse-me ela, no auge da emoção, “Nada vai ser como dantes!”. E chorámos bastante. Sentimos, nesse momento, aquilo que devem sentir os pais que abandonam a maternidade com a criança numa alcofa.

Durante anos – cerca de seis, para ser mais preciso – estes candeeiros trouxeram luz a um lar que, sem qualquer tipo de iluminação artifical, estaria completamente entregue à escuridão a partir das nove da noite (mais coisa, menos coisa, dependendo da estação do ano).

Talvez não os tenha tratado da melhor forma, é verdade. Já podia ter trocado um dos abat-jours, por exemplo. Um deles possui uma mancha, de origem desconhecida, e cuja aparência nojenta é escondida graças à minha arte de conciliar os defeitos que a sala possui.

E talvez os tenha tratado de forma desigual, admito, deixando um dos candeeiros mais próximo da janela, enquanto que o outro permaneceu destacado em partes mais escuras da casa. Aliás, sempre me apercebi quando procedi mal. Tal como alguém que devora uma pizza ou um Haagen-Dazs num dia de dieta, sempre soube quando estava a dar um passo em falso. A minha consciência, de quando em vez, lá tentava dar um ar de sua graça, pedindo-me para trocar os candeeiros de posição. Quase como se estivesse a proporcionar-lhes umas férias. Infelizmente, seja na minha incapacidade de ceder à tentação de comer Haagen-Dazs ou à preguiça de me pôr a trocar candeeiros numa sala de estar, a resposta da outra parte do meu cérebro costuma ser sempre a mesma. É o clássico “que se foda!”, enquanto mudo de canal para ver o Pedro Mourinho a sublinhar jornais na Sic Notícias.

Portanto, com este post me penitencio publicamente, assumindo total responsabilidade pelo pescoço partido do meu querido candeeiro. É apenas um candeeiro foleiro comprado num armazém chinês, pensarão muitos de vós, cínicos e enfraquecidos perante a enormidade da vida! Um candeeiro ilumina as formas das nossas casas! Dá vida aos objectos que lá temos! Ajuda a criar ambientes, estados de espírito e permite-nos continuar a ler quando a natureza e o sol nos acenam negativamente com o indicador. Mais do que isso, um candeeiro é um monumento celebratório dessa grande edificação tecnológica humana que é a electricidade canalizada.

E agora, tenho de ir ao Aki ver se arranjo uma rosca para endireitar aquela merda! O melhor é trazer já um pacote delas, pode ser que me façam um desconto…




uma pessoa quando não tem que dizer fala de candeeiros:):) no ikea fazem uns descontos melhores aproveita…


Sim, para os leigos pode parecer que o candeeiro torceu o pescoço.. mas para uma pessoa observadora, as fotografias contam uma história diferente.. e é a história de amor fraternal mais comovente que eu já vi!

Diz o Sr. André Toscano que sempre tratou os seus candeeiros de modo desigual? De facto assim é! Um dos candeeiros sempre à janela, vivendo uma vida cheia de luz natural, com vista sobre a cidade, conhecimentos profundos sobre o trânsito de Lisboa e as correntes de ar que impulsionam os pombos nos seus voos erráticos sobre as floreiras deste país – ah, the good life!

E o seu irmão gémeo? Sempre nos recantos mais sombrios da casa, convivendo com as bolas de cotão e os ocasionais grãos de terra caídos dos vasos das plantas que o rodeiam – pobre candeeiro.. para ele a vida tem sido madrasta 🙁

Mas ele recusa baixar os braços – o seu dono pode não ter coração, mas o seu irmão é o candeeiro mais altruísta que ele já viu! Assim, ele estende-lhe um interruptor sofrido e pede-lhe ajuda: “Eu vivo num lugar escuro, nunca vi os carros nem os pombos a voar.. a luz do dia é filtrada pelas cortinas.. nunca vi o sol.. ajuda-me!”

E o irmão, que pode estar num sítio mais ensolarado agora, mas que nunca esqueceu como é triste viver no escuro (afinal, também ele morou numa caixa de cartão de um armazém chinês durante meses – e todos sabem que essas caixas são as piores), corresponde ao apelo do seu pobre irrmão.. com esforço tremendo curva-se..e parte o seu próprio pescoço!

Mais perto da janela, consegue finalmente olhar o irmão nos olhos pela 1ª vez desde há anos (aquele ângulo é-lhes favorável).. e assim começa aquela que será a sua árdua tarefa diária de contar ao seu irmão tudo o que ele vê pela janela!

E esta sim, é a verdadeira história por trás daquelas tristes fotografias, senhoras e senhores 🙁

E o Sr. André Toscano, em vez de se limitar a ir ao Aki comprar roscas para endireitar o candeeiro, devia atentar neste exemplo de humanidade vindo de 2 candeeiros!…

…e repensar as suas localizações na sala 😉 Colocá-los um ao pé do outro era um começo.. e já agora, que estamos no Verão, levá-los à praia de vez em quando ou para a sua casa de campo também não era mal pensado

O senhor pense nisso 😉


Casa de campo? Se eu tivesse uma casa de campo, estaria lá agora a plantar legumes. E não aqui a escrever posts…


Estragadão….


Hum… by the way…. e porque a precisão deve imperar: os candeeiros têm 4 anos (e não 6) e … aquela parte das lágrimas devia ter sido menos mexicana, não?

Have fun! 🙂

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