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O problema dos arrumadores

As pessoas que são contra a ideia dos arrumadores caem, normalmente, em duas categorias: são pessoas forretas que não querem dar esmolas a quem lhes encontrou um lugar; ou são pessoas que não têm carro e que, por isso, não sabem o jeitão que aqueles gajos dão! (usei o substantivo masculino “gajo” propositadamente. Nunca ouvi falar em arrumadoras, o que não quer dizer que não existam, claro).

É claro que não há bela sem senão. Se – por um lado – há gente que se irrita por se sentir coagida a dar esmolas a toxicodependentes que lhes apontaram um lugar vazio, outros há que se sentem irritados com a sua existência, embora por outros motivos.

Fiz uma sondagem junto do meu grupo de amigos e eles, habituados que já estão a estes inquéritos imbecis, responderam prontamente e sem reservas.

Uma das queixas comuns (7 em 10) relativamente aos arrumadores é, lá está, o facto de se sentirem coagidos a pagar pelo serviço. Mas esperem! Nós também somos obrigados a pagar impostos. E não é por isso que temos direito a lugar para estacionar mesmo à porta da repartição de finanças, pois não? Parece-me injusto. Desculpem lá, amigos forretas (vocês sabem quem são), mas refilar por se sentirem coagidos a pagar 50 cêntimos é, na minha opinião, uma desculpa tão imbecil quanto a própria sondagem…

A segunda queixa mais comum (2 em 10) é estar a pagar dinheiro limpinho a alguém que não passa factura. Na realidade, acho que isso é apenas mais uma vã tentativa dos meus amigos se mostrarem engraçados. Pois eu sei (afinal, são meus amigos) que eles pagam muito mais a empregadas domésticas que também andam à margem do fisco. Empregadas essas que, note-se, não só exigem subsídio de férias e de Natal, como também não lhes arranjam lugar para estacionar! O argumento não colhe.

A última queixa (1 em 10) é minha. Se eu me considero o meu melhor amigo, porque raio é que não haveria de responder ao inquérito também? E a minha queixa recai sobre o vestuário e aparência geral de arrumador comum.
Lembram-se, há uns anos, quando a moda dos arrumadores apareceu, da altura em que eles chegaram a andar de crachá oferecido pela Câmara? Pobre João Soares, então presidente da Câmara de Lisboa. Ainda tentou correr com eles daqui para fora. Mas, a braços dados com a possibilidade de – ele próprio – deixar de conseguir lugar para estacionar à porta da Câmara, preferiu torná-los aliados, numa lógica de “se não os podes vencer, junta-te a eles”.

Pois eu acho que os arrumadores deviam ser patrocinados pelas Câmaras. Vejamos, eles prestam um serviço útil, enquanto estão a pedir não estão a roubar, e o dinheiro que angariam vai direitinho para vinhaça e heroína, ajudando assim a movimentar o segmento de vinhos de baixo custo do Pingo Doce (e não gastando o dinheiro em discos dos Anjos ou livros do Paulo Cardoso).

Só acho que o patrocínio não devia ser monetário. Para isso é que os arrumadores recebem gorgetas dos condutores. O patrocínio devia ser uma espécie de “extreme make over”. Um Esquadrão A-C (Anti-Chunga). Vários rapazes gay tratariam de vestir, pentear e arranjar os profissionais de estacionamento, provavelmente aproveitando até uma equipa de filmagens para criar um programa para a televisão. “Parking Car Specialist Make Over”. Imaginem as potencialidades de exportação deste formato! O Corte Inglés até podia ser o segundo patrocinador. “Moda Arrumação Outono-Inverno é no El Corte Inglés. Gorros com protecção de orelhas da Armani a preços inacreditáveis!”. Podemos estar a assistir ao nascimento de toda uma nova tendência de moda.

Por isso, da próxima vez que passar por um arrumador, não olhe para ele com desdém enquanto pensa “Filhos da puta! Daqui é que não levam nada.” Pense neles, isso sim, como os precursores da moda que, um dia, os seus amigos e filhos hão-de vestir.




_ Oiii, parece qu’ali vem um – só um momento – prá ‘qui?!

_ Oh chefe!!! Tem ‘qui!!! Enfie ‘qui!!!… Nã?!…

_ Estava eu a dizer, qu’isto tá mal; muito mal pá!…

_ Tá ‘qui um gajo a prestar um serviço público; a facilitar a vida; numa dedicação ao próximo… e nestun!!! Nada pá!

_ O estacionamento neste post ‘ tá fraquinho pá!


A questão não é essa a meu ver. Pessoalmente custa-me dar dinheiro aos arrumadores porque na maior parte das vezes o auxílio que eles prestam é nulo. Quantas vezes não detectei eu um lugar para estacionar, faço-o e depois sou confrontado com um arrumador a pedir a bela da moedinha? Quantas vezes não estou eu já praticamente estacionado quando me aparece uma dessas criaturas a correr e a dar indicações (o famoso “destroça agora ó chefe”), quando eu sózinho já tinha estacionado? E muitas vezes nessas situações tenho de tentar abstrair-me dessas indicações pois só me confundem.

Há, de facto, os que ajudam. Lembro-me há uns anos quando tinha de ir várias vezes para Lisboa de manhã e estacionava na zona do Cais do Sodré, sempre graças à ajuda dum arrumador que lá estava. Nitidamente um “agarrado”, mas que realmente encontrava lugares e organizava o estacionamento de tal forma que era uma beleza. A esse dava sempre a bela da moedinha.

E que dizer dos arrumadores que fazem o seu ‘trabalho’ em zonas de parquímetros? Um gajo tem de pagar duas vezes?

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