siga-nos nas redes
Facebook
Twitter
rss
iTunes

O cadáver na despensa

O detective desbravou caminho por entre as dezenas de pessoas que se aglomeravam no vão daquelas escadas. O polícia fardado desviou-se para o deixar entrar no 2ª esquerdo. Lá dentro, o velho detective lançou um suspiro de alívio enquanto sacudia a chuva da gabardina. Olhou em redor e inspirou a mórbida calma do pequeno apartamento.

‘Então, o que temos aqui?’, perguntou ao polícia da PSP que primeiro tinha chegado ao local.

‘Caso claro de suicídio! O pobre coitado, num momento de desespero, cortou os pulsos com a tesoura dos frangos…’

‘Mmmmm… Não será de descartar outras hipóteses! Eu, ao longo dos anos já tenho visto coisas que nem queira saber! Poderá ser, enfim, outra coisa… A vítima tinha inimigos? Alguém que lhe quisesse mal?’

‘Que se saiba, não! O indivíduo era um antigo corretor da bolsa. Teve um esgotamento nervoso hà coisa de uns meses. Actualmente, estava a trabalhar num centro de Bonsais…’

‘Num quê?!’

‘Num centro de Bonsais. Está a ver, aquelas árvorezinhas pequeninas…’

‘Ah, sim! A minha mulher teve uma coisa dessas. Morreu.’

‘Pronto! Ele trabalhava num local especializado nessas coisas. Onde as vendem e tratam…’

‘Inventam de tudo… Quem é que descobriu o corpo?’

O agente consultou o seu bloco escrevinhado de apontamentos, e lançou: ‘Uma tal de D. Joaquina Menezes. É a porteira do prédio. Alegadamente, ia a passar na escada e ouviu “barulhos invulgares para um senhor geralmente tão calmo”. Entrou com uma chave que costumava usar para vir regar as plantas. Está neste momento a receber acompanhamento psiquiátrico.’

‘Isso não lhe parece estranho? O homem trabalhava num centro de bonsais e tinha uma mulher para lhe regar as plantas? Quero essa tal D. Joaquina debaixo de olho!’

‘Com o devido respeito, Sr. Detective, mas a senhora tem 84 anos! Acha mesmo que ela terá alguma coisa a ver com o caso?’

‘Nunca se sabe, nunca se sabe… Não se lembra de ter visto nos jornais, há tempos, aquele caso de prostituta que apareceu morta com cinco tiros nas costas?’

‘Ah, aquela que andava metida com o Presidente da Câmara?’

‘Porra, mais atenção com o que diz! Isso nunca ficou provado! Mas, sim, essa. Veio-se a descobrir que foi suicídio! Por isso, bem vê: as coisas nem sempre são o que parecem… Bom, vamos lá ver isso, então.’

Nem mesmo o experiente detective conseguiu evitar um esgar de repugnância quando confrontado com a sinistra cena que tinha a despensa como palco. A hemorragia tinha-se alastrado por toda a pequena divisão. O balde, a esfregona, os produtos de limpeza, os garrafões de azeite, os pacotes das mais variadas mercearias; tudo servira de tela a este macabro Pollock, todo escarlate.
E ali, ao canto, congelado na sua exangue lividez, deitado na sua própria hemoglobínica piscina, estava o autor, tão frio como o “pincel” que ainda segurava na sua defunta mão esquerda: a tesoura de cortar frangos.

‘Olá! O que é isto?’

Escondia-se amarrotado, no cerrado punho morto da mão direita, cinco centímetros abaixo do corte feito de vasos sanguíneos retalhados, um papel. O detective deitou-lhe dois cuidadosos dedos, e arrancou-o da sua fria prisão. Alisou-o o melhor que pôde, e começou a tentar ler por entre as manchas e os salpicos vermelhos.

‘Parece uma página de um diário. Deve ter sido arrancada de um caderno. Vejam se o encontram!’

À medida que as linhas se iam sucedendo, o detective foi percebendo do que se tratava. Mais do que o simples registo dos dias, mais do que um relicário de experiências vividas, aquela folha era uma nota de suicídio, o seu “adio adieu auf wiedersehen goodbye” ao mundo:

____

Quarta-feira, 22 de Novembro de 2006

Cheguei ao fim da linha!
Já não aguento mais aquilo!
Antes os crashes bolsistas!
Maldito o dia em que aceitei o trabalho. Ao Gonçalves, ao menos, internaram-no! Mas a mim é que não me apanham num sanatório, não! Não sou um animal que se espuma pela boca furiosamente! Eu tenho a minha dignidade!

Árvores, árvores, árvores, árvores! Sempre a podar, a regar, a cortar, a enterrar, a podar, a regar, a podar, a regar! E os bonsais sempre a vir, sempre a chegar, sempre mais, e mais, e mais, sem parar, sem descanso, a vir, a vir A VIR

CABRONAS DAS ÁRVOREZINHAS!!!!!!!!!!!!!!!

mas não mais. acabou. não vou regar mais não vou podar mais não vou cortar mais não vou enterrar mais.

Acabou-se.

Que se lixem as sacanas das árvores!




Conhecia um homem que também morreu por causa das árvores, só que a este caiu-lhe o tractor em cima.


Não sei se conta, mas a sogra da minha colega não morreu, mas ficou bastante atordoada (ao ponto de não saber quem era e onde estava) depois de levar com o belo do eucalipto que o marido cortava.
Perguntou-se ao esposo extremoso: “Então não viu que deu com o eucalipto na sua mulher?” Respondeu ele: “Eu vi, mas ela não tinha de se pôr por baixo dele quando eu estou com a motosserra na mão”.
São as vicissitudes de quem trabalha na província…


legal mais ou menos


oioioioioioioioio


cavavacaxaxaxaxasasasasazazazazazazazaz


adoro cocker espaniel

Deixe o seu comentário