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Referendos e abortos

Viva! Oba! Vem aí o novo referendo sobre o aborto!
Durante anos, o ser humano foi obrigado a aturar criancinhas chatas e ranhosas, apenas porque as mães não tiveram meios práticos e legais para abortar. O resultado é termos, hoje em dia, a sociedade repleta de atrasados mentais, que se manifestam desde os mais baixos escalões da ralé às mais altas estratosferas políticas.

Mas se a lei mudar, acompanhando assim o dito desenvolvimento europeu, tudo melhorará.
A grande questão é saber se o público português percebe a realidade envolvida na informação que lhe chega aos ouvidos.
Perceberá?

Abordemos as coisas de outro ângulo, fazendo um pequeno exercício mental (pronto, já perdi três dos quatro leitores que ainda tinham chegado até aqui!…).
Lancemos um olhar um pouco mais frio sobre todo este dilema. Olhemos para as questões demográficas e larguemos o discurso político. E não o façamos a nível nacional, mas europeu.

A maior parte da Europa já modificou as leis de modo a descriminalizar o aborto. E nós vamos também por este caminho. Pelo que eu acho que temos de nos perguntar sobre que classe social é que se dedica à prática de “abortos problemáticos”.

Estaremos a falar da classe alta? Não. Se uma menina de classe alta precisar de desmanchar uma gravidez, pode fazê-lo com toda a comodidade. E se decidir ter a criança, poderá contar com o apoio dos pais e da família, sem que isso signifique necessariamente uma machadada no seu orçamento ou uma perda dos seus projectos de vida.

Estaremos a falar da classe baixa? Não. A classe mais baixa prolifera-se sem grande controlo de natalidade. E ainda que precise de fazer um aborto, provavelmente recorrerá a meios mais artesanais e obscuros.

Estaremos a falar da classe média? Sim. São os jovens de classe média (homens e mulheres), aqueles que estão maioritariamente a ler estas linhas, que têm muito a perder com um descuido. Uma gravidez não desejada, tenha ela sido originada por falta de cuidado ou por simples azar, pode significar uma mudança substancial no rumo das suas vidas. Como tal, faz sentido para a classe alta – mais conservadora e a favor do “não” – criminalizar o aborto. Isto porque, ao medo de poder engravidar quando não se quer, se passam também a associar medos de represálias e penas criminais.

Logo, a tendência levará a que a classe média tenha um maior cuidado nos seus hábitos reprodutivos, ou que seja punida se não tiver exercido esse cuidado. Será punida se abortar, será punida se tiver a criança. Neste último caso, a punição tomará a forma dum abaixamento de classe, uma vez que os jovens ficarão ainda mais agarrados a instituições bancárias, empréstimos, e empregos rotineiros mas certinhos. Auto-limitam-se pois não quererão tomar riscos que, provavelmente, até poderiam resultar na sua emancipação financeira. Duma forma ou de outra, o que resultará será um decréscimo demográfico da classe média. Quer seja porque decidem não ter filhos, ou porque empobrecem para os poder ter.

Pode parecer uma teoria paranóica, mas já se vê a acontecer. Quem é que tem filhos às catadupas neste país? É a classe baixa e a classe mais alta. São as pessoas que vivem em barracas e bairros sociais, e os tios e betos que vestem pull-overs por cima das camisas, gostam de touradas e fazem do encontro na missa um evento social. Sim, os mesmos palermas que vemos em associações a “favor da vida”, a colar cartazes do “Não ao aborto” nas paredes e a serem ouvidos na televisão (embora grande parte destes, claro está, não pertençam realmente à classe alta. Pelo que eventualmente pagarão a factura também…)

É que a classe alta tem todo o interesse em que a classe média desapareça. A classe alta não concorre entre si. Tem o seu espaço definido e as suas fronteiras marcadinhas. A classe alta entende-se consigo mesma e chega aos acordos que forem necessários para manter a estabilidade.

A classe baixa, por sua vez, não tem outra alternativa senão produzir ou marginalizar-se. Não tem conhecimentos nem meios para mais.
É a classe média, essa sim, que representa uma ameaça ao topo. É essa que pode lá chegar, que tem meios para mandar os filhos para as universidades, que poderá ascender e tirar os que lá se encontram. A classe média, do ponto de vista da alta, é uma fonte de instabilidade.

É claro que seria prova de demência afirmar que a criminalização do aborto é uma ferramenta da classe alta para exterminar a classe média. Estas coisas não se passam assim. Tem de existir manipulação de tendências, de opiniões e transformação do assunto do aborto num discurso político com ramificações que a maior parte das pessoas não compreende. Grande parte das vezes, os próprios envolvidos na militância opinativa não percebem as implicações das acções que desenvolvem.
Tem de haver também envolvimento da Igreja, da imprensa e dos líderes de opinião. É essa a principal arma da classe alta: usar todos os recursos para chegar onde quer e lavar as suas mãos das responsabilidades.

Espero que, mais do que os homens, as mulheres tenham a coragem de sair de casa no dia D e votar numa matéria que – para além de ter interesse para o país – deverá ter um interesse especial para elas.
É que a descriminalização do aborto não significa que todas as mulheres o passem a praticar livremente, como se fosse uma coisa simples que se faz de ânimo leve. Mas pelo menos têm essa opção e poderão exercê-la com a segurança que o seu país lhes devia garantir, em vez de terem de ir parar a Badajoz sob condições adversas.

Deixo apenas algumas questões para terminar este “tempo de antena”.
Já imaginaram como seria se as mulheres tentassem mandar no corpo dos homens desta forma? Decidindo o que podíamos ou não fazer? Tínhamos o caldo entornado, não é?
Espero que as mulheres tenham inteligência suficiente para reclamar o que é delas.




_ Quero dizer, por mim, subscrevo inteiramente a opinião do André Toscano.

_ Agora, eu “aborto” de outra perspectiva: por acaso, no acto de gerar, conscientemente ou inconscientemente, uma vida, alguém é chamado a opinar sobre o assunto?!… Não, pois não?!… Porquê?… Porque se trata de um assunto que só aos próprios diz respeito!

_ Então, porque é que “todo o mundo” têm de opinar se este(a)s devem ou não, abortar o que geraram?!


Legalizar o aborto.
Legalizar a eutanásia.

Qualquer dia é preciso uma autorização especial para estar vivo.


Subscrevo inteiramente esta opinião.

Mas como membro da classe média tenho retaliado papando a maior quantidade de pitas de Cascais possível. Se todos fizermos o mesmo talvez um dia haja uma geração de bastardos com genes de gente que vê a bola a beber cerveja com os pés no sofá. Ou então não, mas pelo menos divertimo-nos a dar umas palmadinhas em bilhas finas e a ouvir “Você pare ouviu?” Ah…quecas na terceira pessoa…Melhor só orgasmos em Espanhol ou Alemão…


Mas aí está. A maior parte das “pitas de Cascais”, betos e albertos que abundam por aí não são classe alta. São apenas pretensiosos que gostam de se fazer passar por classe alta. Na realidade, muitos deles estão completamente agarrados a empréstimos para pagar as casinhas e os carrinhos. Quem já não terá ouvido a história daquelas senhoras que vão aos cocktails para comer e que devolvem os vestidos às lojas na semana seguinte?
Esses são, quando muito, uma classe média um pouco rasca e com problemas de identidade.

Quando falo de classe alta, refiro-me àquela minoria que não tem mesmo qualquer preocupação na vida para além do coçador de costas de marfim que comprou através dum conhecido na Cartier.


As pessoas que são contra o aborto, dão a entender que quem o faz é porque se quer divertir, porque é giro fazer um aborto e que ficam infelizes por não poder fazer um por mês.
Vamos acabar com parteiras sem escrúpulos, que matam mães, já em adiantado estado de gravidez e que por ser ilegal o dinheirinho vai limpinho para carros, prédios e grandes vidas à custa do sofrimento alheio.
Será que pensam que por ser ilegal vai acabar?
Também concordo com a eutanásia.


Sem preâmbulos, deixo só uma ou duas perguntinhas: Mandar no corpo da mulher!? mas um filho é só DELA?
Mais redutor que isto…impossivel.
E que tal se pensassem sériamente naquilo que escrevem e no que isso implica e se deixassem de panfletismos e modismos?


Não, um filho não é só dela. Mas o que se fala por aí é de interrupção voluntária de gravidez até às 10 semanas, certo?
Ora até às 10 semanas ainda o tal filho não existe nem tem personalidade jurídica.

E em que contexto é que uma mulher pode querer abortar? Em caso de problemas de saúde, de violação, por entender que um filho vai ser uma limitação das suas liberdades pessoais, por falta de preparação, etc. Tudo motivos relevantes, no meu entender. Logo, faço as minhas palavras às do António Barreto “Em caso de empate técnico entre pai e mãe, ganha a mãe, porque o corpo é dela”.

Se isto é “modismo” ou “fanfletismo”, vou ali e já volto.

Para além de que, se pensássemos seriamente no que escrevemos, provavelmente acabávamos por não escrever nada… 😉

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