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Sete palmos de terra

Se há profissão, neste mundo, para a qual a selecção de candidatos deverá ser deveras apertada, então essa profissão será, certamente, a de coveiro. Exacto: estou perfeitamente convencido que deve de ser mais complicado conseguir um emprego a abrir covas de dimensão apropriada a um caixão, do que, digamos, conseguir um trabalho como administrador de uma empresa, ou mesmo como agente secreto. Isto porque acredito que, contrariamente às profissões acima enunciadas, o trabalho de coveiro é algo que está, literalmente, determinado pelos genes do candidato. Não se aprende a ser coveiro; nasce-se coveiro (ou então só se vai lá com muito trabalho; muito mais trabalho do que aquele pelo qual é preciso passar para se ser um “International Man of Mistery”).
A razão é simples: de cada vez que vou a um funeral, constato que os coveiros são as personagens mais sinistras, inquietantes e assustadoras que é possível ver. Deformidades físicas, aspecto débil, pele engelhada e uma face rude e feia, de semblante carregado são imagens de marca neste mundo.
Um indivíduo minimamente bem parecido terá, seguramente, grandes dificuldades em ser seleccionado para o cargo. Os coveiros acabam por ser a antítese dos modelos: em ambos os casos, a tónica está na fisionomia, só que em pólos completamente opostos (bom, se calhar não: tenho visto alguns desfiles de moda em que as modelos conseguem ter ainda mais mau aspecto do que os coveiros. Aliás, parecem algo que foi enterrado pelos coveiros, e que passados uns dias voltaram à vida para ir apresentar as tendências Outono-Inverno.). Uma entrevista para o cargo de coveiro deve de ser qualquer coisa deste género:

-Sim, senhor! O meu amigo têm excelentes referências… Vejo que trabalhou três anos no sector da agricultura, e mais outros dois na construção civil. Calculo que terra, pás e enxadas não tenham grandes segredos para si…
-O senhor perdoar -me -á a falta de modéstia, mas sim, é verdade.
-E diga -me lá: porque é que quer ser coveiro?
-Sabe, sempre foi o meu sonho, desde criança. Acredite, que é verdade! Quando era eu um petiz, a única maneira de me verem satisfeito era darem -me para a mão uma pá, e deixarem -me estar por ali a esgravatar na terra… Mesmo quando os meus pais me levavam à praia, enquanto o que as outras crianças queriam ir ao banho, ou chapinhar nas poças, ou mesmo a construir castelos de areia, eu só estava bem era a enterrar pessoas na areia (os meus pais, os primos que vêm visitar no Verão…). Mas, atenção, isto não foi só uma loucura de infância e juventude; é algo que se manteve até à idade adulta: ainda hoje, a minha mulher diz que eu só estou bem é a enterrar!
-Pois… A sua vontade e o seu entusiasmo relativamente a este trabalho são impressionantes. E mesmo o seu perfil é exemplar para o cargo em questão. Mas receio que bem que haja um ponto determinante a jogar contra si…
-Como?! Qual?!
-É que o senhor não é particularmente repugnante…
-“Particularmente repugnante”? Oiça, eu consigo cavar uma cova em doze minutos e quarenta e sete segundos. Sozinho!
-Claro! Ninguém questiona a sua capacidade. Mas… Onde está a marreca? O olho de vidro? A dentição incompleta e já apodrecida? O problema na perna que lhe dê um andar sinistro? …
-[pausa de desânimo] Doze minutos e quarenta e sete segundos!
-Não insista que não vale a pena… Ao menos saia daqui com a sua dignidade. Mais oportunidades surgirão. Mas, se quer um conselho, talvez não seja má ideia enriquecer o seu… hum… “currículo” com um acidentezito com uma debulhadora.




o texto em cima referido está muito bonito, distorcendo a realidade é um facto, não se nasce coveiro,e nem todos são feios e arrepiantes, isso é um mito,preconceito barato, é uma profissão essencial, tão ou mais essencial que um bombeiro, medico, enfermeiro, se eles fizerem greve as morgues ficaram lotadas, as capelas mortuárias, com cheiro nauseabundo, dêem valor em q2uem merece, não gozem só estão a contribuir para um maior preconceito, os portugueses tem esse vicio, emigram e fazem tudo lá fora, como o típico emigrante português que dentro não faz por preconceito e fora não se preocupa…
a pessoa que escreveu o texto em cima referido certamente teve tudo que desejou, mas um dia poderá ter fazer algo que seja humilhante e ai dará valor, e vai escrever sobre o mesmo. existem profissões que são descredibilizadas por textos e pessoas, e ninguém vê mas são essenciais vitais para a ordem pública. escreva sobre isso.

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