Descoberta gastronómica
A vida tem destas coisas. Está uma pessoa descansadinha na secção de material de escritório de uma grande superfÃcie comercial, imerso naquilo que o mercado tem para oferecer em termos de ábacos modernos, quando, sem dar por isso, se vê perante uma iguaria potencialmente capaz de ombrear com grandes clássicos da doçaria como as farófias ou o toucinho-do-céu.
Refiro-me à Calculadora Electrónica de Sobremesa!
Mais de perto, para os leitores que já têm a vista toda queimada com a luz trémula dos monitores…
Ora, como é evidente, isto interessou-me de imediato. Curioso como sou, por um lado, pelos mais recentes avanços no mundo da aparelhagem de escritório e, por outro, por sobremesas em geral, soube que não poderia nunca passar ao lado deste artigo. Se isto bastou para espicaçar a minha curiosidade, mais ela o ficou aquando da mais minuciosa inspecção da caixa: em anúncio estão uma série de caracterÃsticas técnicas da máquina, a saber, a sua impressionante capacidade para doze dÃgitos, ou o seu ecrã LCD de mastodônticas proporções, mas nem uma palavra sobre o sabor ou a informação nutricional. A esconder o jogo, hem!
Chegado a casa, dediquei-me de imediato à prova.
Fiel à tradição, comecei por experimentar algumas operações algébricas de baixa complexidade.
Apraz-me revelar que este espécime passou no teste com grande distinção, resolvendo sem dificuldade adições, subtracções, multiplicações e até divisões. Digna de registo é a inclusão de alguns botões com indicações obscuras que nunca ninguém utilizará (coisas como “MRC†ou “ACâ€).
Posto isto, é altura de passar as propriedades organolépticas da calculadora. Em termos de aspecto, a calculadora não impressiona.
É verdade que certos elementos, como o azul-cobalto que envolve o visor ou os apliques de borracha laterais, ainda conseguem oferecer alguma sofisticação ao conjunto que, no entanto, se vê irremediavelmente prejudicado pelo metalizado baratucho da consola central (e atenção que, por vezes, o metalizado até funciona bem em alimentos. Basta ver, a tÃtulo de exemplo, o peixe-espada).
No nariz, embora o cheiro a plásticos e borracha não seja desagradável, não é bem aquilo que se espera de uma sobremesa. Seja como for, e tendo em conta que estamos aqui a desbravar território virgem, decidi dar-lhe o benefÃcio da dúvida.
Passemos, então, ao paladar. Neófito como sou nestas coisas de degustar calculadoras electrónicas, optei por não recorrer a quaisquer talheres, atacando o aparelho como se fosse uma barra de chocolate.
Veredicto final: A calculadora trata-se, efectivamente, de uma sobremesa diferente. Mas não faz o meu estilo. Para começar, é extremamente rija. Uma iguaria que oferece estas dificuldades à sua ingestão deveria, quanto muito, ser um prato principal.
O recheio contém certos elementos metálicos que se espetam gengivas adentro. Este ponto não é necessariamente mau, já que o sabor a sangue oferece um contraponto interessante aos cristais lÃquidos do visor.
Curiosamente, após a prova, a máquina já não tem uma performance tão boa ao nÃvel aritmético…
Por acaso, o nome da dita calculadora fez-me pensar que calcularia sobremesas.
Merdas da lÃngua portuguesa.
Juni44ever // 28.07.2009
Eu acho que é uma calculadora para pôr sobre uma mesa.
Zá // 07.08.2009
Eu acho que essa calculadora é só para utilizar após qualquer refeição,enquanto se degusta a dita sobremesa,qualquer “doutor engenheiro” sabe isso…
pacmen64 // 17.08.2009
naa essa calculadora pode servir para fazer a conta final depois da sobremesa ou entao para irmos calculando as calorias.. lool
ninita // 29.08.2009