100 anos de Manoel de Oliveira
O cineasta português Manoel de Oliveira completa hoje os 100 anos de idade. O DQD esperou pela data para lhe dar os parabéns, ao contrário de inúmeras publicações nacionais que o têm vindo a fazer de há vários meses a esta parte, seguramente com medo que o homem não se aguentasse até à data (“o seguro morreu de velho, vamos lá ver se não acontece o mesmo ao Manoel de Oliveira”).
Nos últimos tempos, o entusiasmo em torno desta figura tem sido inacreditável. Chamem-me antiquado, mas eu ainda me lembro dos tempos em que só se falava do Manoel de Oliveira para escarnecer o ritmo lento dos seus filmes. Subitamente, o senhor chega aos 100 anos e é um herói nacional, louvado vezes e vezes sem conta por ser “o mais antigo realizador em actividade do mundo”.
Ora, e se me é permitido introduzir aqui um pensamento um tudo-nada mercantilista, parece-me néscio por parte do realizador se ele não aproveitar todo este hype gerado pela função biológica do envelhecimento. Urge capitalizar com esta euforia! E, como é bem sabido, o cinema tem um recurso seguro e imediato para a capitalização: a sequela. Ficam aqui algumas sugestões:
– Aniki Bóbó II: Haveria algo mais poético do que voltar à primeira longa-metragem? Manoel de Oliveira recuperaria as personagens desse seu primeiro filme, retratando não já as tropelias de uma infância no Porto, mas as desventuras num lar de idosos em Gulpilhares.
– Vale Abraão – o Regresso: A Bovarinha não está morta! Ela regressa da sua sepultura aquática transformada numa implacável ninfomaníaca zombie (o coxear sinistro já ela tinha no primeiro filme). Sexo e sangue e… paisagens bucólicas.
– Non ou a Vã Glória de Mandar Outra Vez: Desde a data de lançamento do primeiro filme já houve uma carrada de guerras com a participação de contingentes portugueses. Manda-se um alferes altamente versado em Historia e Mitologia para o Kosovo ou para o Iraque, juntam-se umas alegorias cyberpunks lá para o meio (para dar modernidade), e têm-se um filme feito.
– A Caixa 2: Fala-se muito na crise, por estes dias. Fará, por isso, sentido recuperar a ideia original do primeiro filme (resumidamente: as invejas das gentes pobres de uma rua lisboeta face a um cego que tem uma bela fonte de rendimento na sua caixa de esmolas). Mudar-se-ia o contexto para o mundo da alta finança, e o resultado seria uma comédia sobre a inveja de alguns banqueiros face a um outro que recebeu uma injecção de dinheiros públicos no seu banco.
Parabéns Manoel de Oliveira. Que conte muitos (para, entre outras coisas, poder levar a bom termo as excelentes sugestões aqui apresentadas)!
NÃO, NÃO. SEQUELAS NÃO, POR FAVOR.
Zá // 12.12.2008
Pois por muito que goste do Sr. Manoel, continuo a não gostar dos filmes dele.
Sugestões:
Aniki Bibí, em vez de Aniki Bobó II (apesar da evidente ligação);
Vale Azeveedo – o Regresso (adiado) ao EPL;
Non ou a Vantagem de mandar (Sócrates no papel principal a enrolar o pelotão do princípio ao fim, de Magalhães ao colo);
A Caixa de Previdência – Ficção da mais fina estirpe (qual Bladerunner, qual quê!).
Dr. Jeep // 13.12.2008