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Não, obrigado!

Odiar é bom. O ódio é o tabasco da vida. Tal como um bom tempero, odiar em demasia torna a vida intolerável para além da azia. Mas não odiar significa não ter sangue a correr nas veias. Quem se afirma capaz de amar, tem de ser igualmente capaz de odiar. Já o objecto do nosso ódio é uma coisa completamente diferente. Muda conforme os gostos e disposições.

No meu caso, sinto uma aversão especial a gajos que conduzem de boné. Não sei porquê. Sempre que vejo um desses primatas a passar na estrada, tenho pena de não conduzir um camião TIR para o abalroar contra a primeira esquina, num misto de chapa amolgada, vidro partido e uma poça de sangue no chão que aumenta ligeiramente a cada segundo que passa, perante gemidos de dor de fim de vida, gritos histéricos de populares e sirenes de ambulância que chegam tarde demais…

E é impressão minha, ou a maior parte dos gajos que conduzem de boné têm na Seat a sua marca de eleição? Regra geral, quanto mais berrante a cor, melhor. Amarelo ou vermelho é um must. E quanto maior e mais largo o tubo de escape, maior a virilidade do condutor. Afinal, como todo as mulheres sabem, a pila do homem é proporcional ao comprimento do tubo de escape do seu automóvel; não está ainda estabelecido se a secção do tubo (a largura, para os menos esclarecidos) é ou não proporcional a alguma dimensão anatómica da fêmea que ocupa o lugar do pendura.

Há quem se incomode pelo dinheiro que o Estado mete ao bolso, convertendo-o habilmente em viagens fantasma e novas frotas automóveis. A mim isso não faz diferença. Até acho que se pagam impostos a menos. Acho que todas as pessoas deviam pagar 50% de impostos e uma taxa diária de 20 euros para poder entrar na praia. Se não tiverem dinheiro, que usem praias fluviais ou bocas de incêndio para se refrescar. Se o céu é dos pobres e ignorantes, como é que se pode julgar uma sociedade capitalista terrena que privilegia os mais ricos e inteligentes?

Outros, em autênticos ataques da mais louca paranóia (é só ler os comentários online dos leitores das notícias dos jornais nacionais…), conseguem mesmo arranjar relações entre os ministros fazerem férias e o país a arder. De facto, nunca me ocorreu que os ministros pudessem ser pirómanos tresloucados que andam para aí a incendiar as matas enquanto não exercem a actividade política. A palavra piromania é de origem grega, composta por pyrós (fogo) + manía (loucura). Ou seja, a mania de brincar com o fogo. Pode ser que haja aí uma ponta de verdade…

Nem sequer os imigrantes, que invadem o país nesta altura do ano, me incomodam. Chateia-me mais a atitude superior daqueles que olham de cima para os que partiram em busca de melhores condições de vida. Para se ser bom Português, é preciso ficar cá. É preciso amouxar, sofrer no lombo as chicotadas imperdoáveis do fisco, aturar as piores telenovelas, espernear ao ver a Sofia Aparício a fazer de actriz e aprender a gostar de futebol (já que parece ser o tema inabalável de abertura de qualquer telejornal).

Ok, é verdade que os imigrantes são um bocado pirosos. Vêm lá de fora cheios de manias parvas, pequenos rabos-de-cavalo no cabelo, camisas berrantes, falam alto, têm pinta de presidiários foragidos, trazem filhos feios, obesos, carregados de acne e bigodes mal semeados por aparar, as suas mulheres são arranjadas demais ou arranjadas de menos, e os homens têm quase todos as sobrancelhas unidas a partir dos 17 anos de idade. Mas coitados, é caso de ter pena deles, acho eu. Afinal, eles não sabem o que é sofrer a sério. Quem não atura as trombas da Maya na SIC e quem não dá de caras com livros da Alexandra Solnado a querer-nos fazer acreditar que fala com Jesus, não merece ser considerado um verdadeiro Português.

Mesmo assim, há um ser ainda mais estranho e tenebroso que o P.B. (Pintas do Boné). (não é por acaso que Pb é o símbolo químico do chumbo… O boné não serve para proteger a cabeça. Serve, isso sim, para proteger o tejadilho do carro dalguma cabeçada potencialmente nociva para o estofo, tão rija que é a cabeça do P.B.) Esse ser ainda mais assombroso e simultaneamente pacóvio trata-se do P.A.R.O.L.O. (Proprietário dum Automóvel Relativamente Obscuro e Libertinamente Ornamentado). O P.A.R.O.L.O. é o gajo que coloca um emblema do modelo superior na parte de trás do carro – para que todos pensem que ele tem um carro melhor do que comprou – mas coloca-o acima de mais, quase na aresta da parte superior do chassis da bagageira, tornando o resultado final ainda mais grotesco e risível.

É também o P.A.R.O.L.O. que, tendo um BMW qualquer em segunda mão (normalmente de baixa gama), adora colocar o símbolo M na parte traseira. Eu gostava sinceramente que alguém me explicasse quem é que é suposto esse emblema impressionar! É que um gajo que perceba de carros rapidamente percebe que está na presença dum P.A.R.O.L.O., uma vez que não existem nem nunca existiram BMW M3 de quatro portas! E para quem não percebe de carros, é igual ao litro estar lá um M ou outra letra qualquer.
Por mais que puxe pelos cornos, não consigo mesmo chegar lá! Acho que é apenas uma estratégia para enganar aquelas pessoas cujos conhecimentos automóveis ainda oscilam num limbo entre o “não percebo nada de carros” e o “já li algumas revistas Turbo que o meu pai tem lá na casa-de-banho”. Se alguém tiver uma ideia melhor, que se manifeste. Isto é um espaço de crítica, mas também de partilha de conhecimentos.

O problema é até um pouco mais grave do que parece. Ilustro a situação com o exemplo pessoal que me motivou para escrever este texto.
Fui hoje ao Colombo fazer umas compras. E assim que me meti no carro e me preparei para fazer marcha-atrás para voltar para casa, reparei que estacionou uma carrinha BMW no lugar à minha frente, precisamente com o emblema M na parte traseira. Para quem não sabe, a linha M é uma série exclusiva de carros desportivos da BMW, adaptados a partir dos chassis/carroçarias mais ou menos modificados das linhas normais (3, 5, 6, etc.). Por fora parecem BMW normais. Por dentro são completamente diferentes e desportivos.

Ora toda a gente que goste de BMW, e que os conduza, sabe que não existem carrinhas M5!
Pensei eu “Ok, vamos lá esperar uns segundos para ver o P.B. que vai sair de lá de dentro. Sempre me rio um bocadinho antes de ir para casa.”. Para surpresa destes olhos que um dia a terra há-de comer, saiu de lá de dentro um gajo com bom aspecto, barba feita, cabelo penteado, e que em nada indicava o seu estatuto consumado de P.A.R.O.L.O.!! Nem sequer uma poupa levantada com gel, argola na orelha ou pastilha na boca. Nada! Parecia um ser humano normal com o qual eu poderia beber umas bejecas ou discutir livros do Samuel Beckett.

Ora bolas! Isto são péssimas notícias! Se os P.A.R.O.L.O.’s andam disfarçados de pessoas normais, como é que eu vou saber quem é que hei-de desprezar e odiar?!

Suponhamos que vou a uma festa a casa de amigos. Apresentam-me a um gajo qualquer que, à primeira vista, não tem pinta de P.A.R.O.L.O. Se calhar até é um gajo engraçado e até gostaria de o encontrar mais vezes nem que fosse para tomar um cafezito, porque eu tenho esta mania parva de gostar de estar com pessoas que me fazem sentir bem. Como é que sei se o gajo não é um P.A.R.O.L.O.? Se em conversa se proporcionar pedir-lhe o email ou o número de telefone, vai parecer que estou a querer iniciar uma amizade nova. Mas se mais tarde vier a descobrir que ele é um P.A.R.O.L.O., como é que volto atrás? Como é que eu podia ser amigo dum P.A.R.O.L.O.? Mais facilmente seria amigo dum fundamentalista islâmico ou do Carlos Ribeiro do que dum P.A.R.O.L.O.! Como é que alguma vez poderia aceitar uma boleia no carro dum P.A.R.O.L.O.?

Mas se não encetar contacto com ninguém por medo de poder estar na presença dum P.A.R.O.L.O., quer dizer que também não conhecerei mais ninguém. E fui então levado a uma triste conclusão: não posso ter amigos novos até ao fim da vida! Também, quem é que tem o hábito de fazer amigos novos aos 32 anos? Até parece estranho, não é? Amigas, namoradas, amantes, isso tudo bem. Agora amigos, francamente, para depois me sair um P.A.R.O.L.O. na rifa só porque não se deu ao trabalho de usar um boné? Não, obrigado!




Não que este dado invalide toda a tese acerca dos parolos e pb’s mas, muito provavelmente, a fazer fé no site BMW, a carrinha poderia ser uma M… ( e não, não tenho uma… embora também não quisesse! yeah, right… )


Nope. A carrinha era de 1998. Dois modelos antes do actual, portanto. Nessa altura, provavelmente nem a BMW sonhava que um dia iria ter carrinhas M. Era definitivamente um P.A.R.O.L.O. Não há volta a dar neste caso.

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