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A javardice masculina

Todos nos sentimos arrependidos de qualquer coisa de tempos a tempos.
É assim que eu me sinto agora.
Cometi ontem uma barbaridade que vai contra todos os princípios da educação liberal luso-britânica que possuo.
E se – a uma primeira abordagem – a ideia de partilhar com alguém o que me aconteceu me parece algo abjecto e extremamente foleiro, a verdade é que vocês já leram com cada coisa neste blog que decerto não se importarão.
Afinal, de certa forma, vocês também são a minha família. Não serão um pai, nem sequer um cônjuge. São aquele tio que só aparece nos casamentos e funerais sempre com o mesmo fato. Ou quando muito um daqueles primos que andam com auriculares Bluetooth e gostam de falar do novo telemóvel enquanto colocam uma das hastes dos Ray-Ban na boca. Mas são família. Não se sintam menosprezados. Vocês são importantes para mim! Este é um blog de partilha e não de ego. Caso contrário, para que é que viria aqui perder tempo? Eu preciso dos outros!
Adiante, que já me estou a passar.
Fora de brincadeiras, independentemente de estar a escrever para um site, quero afirmar que o que vou contar é a mais pura das verdades. A ocorrência não está, de forma alguma, embelezada para figurar com pomposidade neste blog ou para dar um ar pomposo ao seu autor. Foi mesmo o que me aconteceu.
Aproveitando umas horinhas de liberdade masculina em minha casa, decidi comer o meu jantar como me apetecia.
Aqueci uns pedaços de carne de porco com molho e um pouco de arroz para acompanhar.
E foi então que tive uma ideia genial! Apostei comigo mesmo em como conseguiria comer o meu jantar sem sujar três peças de cozinha diferentes.
O arroz já se encontrava numa tigela grande. Logo aí já estava uma peça suja.
E a carne foi aquecida num pequeno tachinho. Vão duas.
Hum… complicado… Como fazer então para comer o conjunto sem sujar três peças, partindo do princípio que ainda precisaria de talheres e de algo para passar a comida para o prato?
Nada mais simples.
O arroz foi aquecido na tigela em que se encontrava, a carne foi despejada para dentro dessa tigela e… (quase que sinto vergonha ao dizer isto…) socorri-me de uma colher para comer a mistela!
E ao longo da refeição, enquanto tentava esconder a minha expressão snob de mim mesmo, apercebi-me que estava a começar a gostar!
Ali estava eu, uma mistura de Sassá Mutema com ceroulas à Robin dos Bosques (mas com braguilha de velcro!), de tigela e colher em punho, radiante e orgulhoso do meu inacreditável feito. Uma espécie de descida ao meu estado mais primitivo, um reencontro com a minha infância mais alarve.
“Que engraçado!”, pensei, no auge de um pico inesperadamente culto, “deve ser assim que se come na América Latina! Mi nombre es señor Toscano Escobar… eh… eh… eh… chomp… chomp…”. Ainda pensei em ir buscar um sombrero que o meu irmão me comprou numa viagem às Canárias (lá toda a gente usa sombrero, como sabem…). Mas depois convenci-me que ia ser palhaçada a mais. Se há coisa que eu precisava naquele momento era de apoio psiquiátrico e não de parecer uma antena parabólica invertida a desviar-se dos feixes electrognéticos dos satélites. Já me chegava estar de cócoras na sala a comer duma tigela e a rir sozinho (foda-se! Sou mesmo boa companhia para mim mesmo!).
E quanto mais comia e mais me lambuzava, mais gostava! Já não era um homem civilizado e com passaporte carimbado. Era uma besta hedionda, a quarta super-força escondida da Natureza à espera do momento certo para se revelar.
No final, lambi a tigela e tudo! E como se tratava de uma tigela e não de um prato, cada vez que lhe lambia o centro ficava com a cara cagada como se algum enviado extraterrestre tivesse achado que a minha cabeça daria um bom sinal para a orientação de uma frota espacial.
Foi uma espécie de orgasmo mas bastante mais intenso (ou então não ando a fazer sexo como deve ser). Seja como for, passou-se quase a nível instintivo. A consciência ficou sentadinha no sofá a ver um bailado qualquer na RTP2.
Quando voltei a mim, olhei à volta e garanti que os estores da sala estavam fechados. Pensei “será que o meu tio Horácio que morreu há sete anos está a ver isto?”.
E depois lembrei-me que tinha apenas três peças de cozinha para limpar! YES! É bom ser homem!
Limpei o tachinho, a tigela e a colher enquanto o diabo esfregou a ramela do olho. E tudo isto a umas confortáveis duas horas da chegada da minha mulher da sua girl’s night!
Prometi a mim mesmo que repetiria uma experiência similar sempre que tivesse oportunidade.
E é óbvio que a relatarei.
Afinal, não se esqueçam que vocês são o meu primo afastado. Quem é que não conta coisas destas aos primos?

Moral da história: se comer um prato com molho de dentro de uma tigela, use roupa branca. Torna a experiência mais divertida!

Pensem nisto, seus animais alarves…

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